O gigante enterrado

O gigante enterrado Kazuo Ishiguro




Resenhas - O Gigante Enterrado


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Cesar Garcia 19/03/2022

Uma obra sobre a vida
O casal que não se lembra de muitos detalhes da vida e saem em busca de seu filho, passando por percalços para tentar chegar até onde ele está.
Refletindo sobre a velhice, a vida, o esquecimento e o amor, é um livro sensível e cheio de fantasia.
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Alessandra.Vollman 25/07/2016

o gigante enterrado
Tive vontade de abandonar o livro várias vezes, a história é rodeada por metáforas, falando sobre as lembranças e o esquecimento, a vida e a morte, por meio de uma jornada de um casal de idosos rumo ao encontro de seu filho.
Praticamente todo o livro apresenta simbolismos que são mais difíceis de compreender. A leitura foi cansativa e massante.
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TataFlor 22/11/2016

Difícil concluir essa leitura...
Há livros que caem como uma luva e se encaixam perfeitamente no momento em que estamos vivendo, outros nos levam de maneira maravilhosa para um novo momento...com esse livro não me ocorreu nenhuma das duas situações...
O livro foi de difícil leitura, me contive para não ser o primeiro livro abandonado por mim. Os capítulos são grandes, os acontecimentos são um pouco demorado, talvez seja um livro para ser lido com menor pretensão, pelo simples prazer da leitura...não um livro com expectativas na história...o livro não é ruim, mas não faz muito o meu gosto a maneira como as coisas acontecem são bem cansativas, e o final não é muito conclusivo, fica mais entrelinhas do que um final claramente concluído....pelo menos o final chega mais próximo de uma conclusão do que os finais dos livros do Murakami...acho que isso é comum nos autores japoneses
Aryane Marques 07/12/2016minha estante
Concordo com tudo o q vc disse, confesso que comecei a ler este livro com expectativas maiores em relação a história é sim o final foi bem estranho, mas tudo bem n foi uma leitura ruim :) ótima resenha aliás


TataFlor 03/01/2017minha estante
Somos duas então que criamos expectativas demais...eu acho rs...
Obrigada pela força Aryane ;)




Janaine.Mioduski 30/05/2022

Os meandros e sulcos da memória
O Gigante Enterrado foi o meu primeiro contato com o autor e confesso que fiquei encantada com a sua sutileza e a sensibilidade ao tocar em um assunto tão corriqueiro e importante como a memória... individual e coletiva.
Enquanto lia, intercalava os pontos de vista e honestamente não sei o que seria melhor... lembra-se de tudo, ou ter uma vaga lembrança das coisas?
Se por um lado a memória vaga nos permite "criar" nossa própria realidade, a partir das nossas interpretações e lacunas preenchidas, a memória fotográfica nos permite contemplar todos os fatos, tendo (quase) plena consciência dos eventos que nos tornaram quem somos. Entretanto, mesmo em posse dos fatos e eventos continuamos interpretando a realidade a partir de quem somos, e tal memória pode ser por vezes tão dolorosa que não permite que velhas feridas cicatrizem.
Imagino que como quase tudo na vida, a resposta correta esteja no caminho do meio.
É uma jornada delicada e profunda, recomendada a todos os leitores, sejam fãs de fantasia ou não. Afinal, não seria a nossa memória apenas mais uma forma de fantasia?
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Felipe 20/08/2021

Nascido na cidade japonesa de Nagasaki em 1954, Kazuo Ishiguro se mudou para a Inglaterra ainda durante a infância. Nela, ele ainda vive, embora só tenha conseguido a naturalidade enquanto cidadão britânico no ano de 1983. Naquela década, após publicar diversos artigos em revistas, ele dá início à sua carreira de escritor.

Nela, ele escreveu oito livros. Além de livros, ele também escreve contos. Os seus talentos não se restringem à Literatura: Kazuo Ishiguro também é compositor, e um álbum no qual ele deu suas contribuições já chegou a ser indicado ao Grammy. E, em 2017, ele chegou a ser laureado com um prêmio Nobel de Literatura. Nesta resenha, falarei sobre “O Gigante Enterrado”, uma de suas mais conhecidas obras.

Antes disso, falarei sobre a relação entre a memória, tempo e História. Em “A Memória Coletiva”, o sociólogo Maurice Halbwachs nos explica o conceito que deu origem ao título da obra e nos traz as suas aplicações. Muitos dos trabalhos do autor foram publicados entre as décadas de 20 a 40 do século XX.

Francês, após o sociólogo passar um tempo estudando na universidade alemã de Gottingen, ele retorna à França em 1905 e conhece Emile Durkhein, outro sociólogo de enorme importância e que o influenciou. Tendo vivenciado as duas grandes guerras mundiais, Maurice Halbwachs também sofreu de uma grande intolerância. Em meio a uma sociedade etnocêntrico, o sociólogo sempre esteve entre aqueles considerados como “outro”.

Naquele contexto, ele passou a fazer parte da Escola de Strasbourg, a qual também influenciou a produção de seus materiais. Também contando com a presença de outros estudiosos nas mesmas condições, Maurice Halbwachs se pôs em uma postura sociológica ideal para a concepção de novas ideias. No caso de “A Memória Coletiva”, o autor rompe com ideias a ele anteriores.

Na época da concepção de sua obra, vigorava o consenso de que a memória nada mais era que um processo neurofisiológico no qual o indivíduo seria o responsável por trazer à mente o seu próprio passado. Com a publicação da obra, o autor trouxe a idade de que a memória individual é fruto de uma interpretação da memória coletiva. Nessa perspectiva, a lembrança seria resultado de um processo coletivo dependente de uma comunidade afetiva.

Somente por meio dela seria possível a um indivíduo ter a faculdade de lembrar como membro de um grupo. Em “História e Memória”, o historiador Jacques Le Goff investigou a associação entre a memória e a construção da História. Na obra, ele demonstra que, sem o registro documentado do passado, as suas lembranças no presente não possuem condições de serem resgatadas.

Encontramos um cenário bastante similar no início de “O Gigante Enterrado”. Em plena Idade Média, havia um vilarejo no qual havia um conjunto labiríntico de tocas que abrigava dois velhinhos: Axl e Beatrice. Nele, não havia um registro documental do passado ou sequer noções bem definidas sobre o tempo.

Nesse contexto, o casal decide empreender uma viagem rumo a outra aldeia para reencontrar o seu filho. Mas sem o registro do passado, como eles saberiam que as lembranças sobre o filho seriam mais do que simples devaneio? Esse foi um importante ponto desenvolvido no enredo.

Os acontecimentos que mencionei no parágrafo anterior ocorrem no primeiro capítulo da obra. Nele, o autor nos conta sobre o início da jornada de Axl e Beatrice para encontrar a aldeia de seu filho. E o término do capítulo coincide com o planejamento da viagem a ser realizada pelo casal.


No seguinte, Axl e Beatrice a empreendem. A Grande Planície era o seu destino final. Durante o percurso, Kazuo Ishiguro explora bem o fato de a ausência do registro de memórias do filho do casal em tudo atrapalhar a busca. Foi uma jornada repleta de perigos.

Em muito ela lembrou a vida de Maria de Nazaré e o carpinteiro José rumo a Belém, local onde Jesus nasceu. Pelo menos a princípio, pois o destino da jornada de Axl e Beatrice teve um final bem diferente. Mas em muitos aspectos os casais se assemelham, falarei mais posteriormente. Enquanto durante o trajeto de Marie e José o casal houve de enfrentar uma grande provação a sua fé, Axl e Beatrice enfrentaram toda a sorte de perigos que as lendas medievais contidas na obra ofereceram.

Conclua a leitura da resenha no blog. Caso tenha gostado e deseje ler mais resenhas nestes moldes, siga o perfil no Instagram: @literaturaemanalise

site: https://literaturaeanalise.blogspot.com/2021/08/resenha-o-gigante-enterrado-kazuo.html
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bea 19/06/2020

apesar de ter partido meu coração, é um ótimo livro. e recomendo tomar um shot toda vez que o axl diz "princesa" (o coma alcoólico vai valer a pena).
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Giovana 08/04/2021

Uma história muito delicada sobre o amor, cercada de aventuras, e um final muito bonito e especial. Lindo!
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Jana Diglio 11/04/2020

Leitura impar.
Confesso que não tem uma fácil leitura!
Tudo se passa em 3 ou 4 dias, mas acontece tanta coisa que você tem impressão de ter lido vários livros!
Como vi em uma resenha, ao mesmo tempo que se passa muita coisa, tudo é devagar.. Como uma caminhada a pé (os personagem só andam a pé)!
Uma mistura de fantasia, amor, lembranças, esquecimentos, dificuldades, superação, medo, perdão... E tanta outras coisas!
Não sei definir do que se trata, não é somente um romance, não é ficção, não é drama... É uma leitura ímpar, que às vezes da vontade de desistir, mas como desistir até entender o porque da memória das pessoas sumirem? Se eles encontram o filho deles ou não?
Temos dragões, monstros, ogros, fadas, feitiços, rei Arthur, cavaleiros, guerreiros, barqueiro (analogia a morte, isso vai explicar muita coisa) e um casal de idosos dispostos a partir em uma aventura atrás de seu filho, que nem lembram o porque dele ter partido!
O que acontece no decorrer do livro? Não conto...
É intrigante... Vale a pena a leitura!!
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Sofi 09/04/2020

A magia do amor
As terras são as dos bretões e saxões pós-reinado do grande Rei Arthur, os desafios são dragões e guerras iminentes, mas a história não poderia ser mais atual ? Há uma névoa que retira as lembranças dos aldeões de todo o reino, inclusive de Axl e Beatrice, um casal de idosos que se ama muito. Um dia, eles lembram que tiveram um filho e decidem partir em busca dele, sem lembrar como ele é ou o motivo de ele ter ido embora. Ao longo do percurso, eles encontram Cavaleiros de Arthur, monges, ogros e dragões, mas também sofrem tentando reconstruir as suas memórias, que vão retornando aos poucos ? O questionamento que vai surgindo aos poucos e se torna o maior conflito da obra é: será que vale a pena lembrar de tudo? Afinal, a vida dos dois está realmente em paz e cheia de amor. Será que as lembranças não vão estragar isso? Com esse reino metafórico, o autor nos traz esse questionamento de deixar a pulga atrás da orelha em qualquer um, em qualquer momento da História. Apesar de ter os capítulos muito longos, o que deixa a leitura arrastada, Kazuo construiu um mundo fantasioso para nos fazer questionar pensamentos da vida real. E ainda com a participação desses idosos muito meiguinhos ? Vale a leitura, é de aquecer o coração!
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Alle Fay 17/02/2021

Poético!
Um livro que mexeu comigo, um tanto poético, em alguns momentos até cansativo, mas um livro com magia.
E eu que pensei ter pegado um livro com um outro enredo, e ele me levou para um mundo de reflexão...
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Bruna.Duailibe 08/11/2022

"Você está aí, Axl?"
Esse foi o primeiro livro do Kazuo Ishiguro que tive a oportunidade de ler. De antemão já sabia que a fantasia não era o enfoque principal, o que na minha opinião melhora a percepção do verdadeiro significado:

Existe um microcosmos e um macro no Gigante Enterrado. Uma história de um sociedade marcada por guerras e conflitos e uma historia de um casal que lembra de um filho já esquecido. Uma viagem em busca da solução dos seus problemas nos permite conhecer os personagens principais: o casal de idosos Beatriz e Axl (micro) e os seus acompanhantes Edwin, Wistan e Sir Gawain (macro).

Nessa caminhada, somos trazidos pada dentro dos conflitos e devaneios internos de cada um deles, compreendendo as motivações e seus pesadelos. E uma eterna questão nos aflige a todo momento: "será se nao seria melhor algumas coisas devem permanecer esquecidas?"

Nas resoluções finais da trama, me questionei se aquele seria o final que as personagens mereciam. Depois de tanto percorrer para buscar o esquecido, era mesmo daquilo que precisavam? O final de Axl e Beatrice é comovente e deixa aquela sensação de incompreensão e vazio. O mesmo sentimento é compartilhado diante do destino daquela terra amaldiçoada.

"Será que o nosso amor teria se fortalecido tanto com o passar dos anos se a névoa não tivesse nos roubado as nossas lembranças como roubou?"

"Quando já não há mais tempo para salvar, ainda há bastante tempo para se vingar."
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Caroline 18/10/2015

"Vamos ver livremente o caminho que trilhamos juntos, seja ele escuro ou ensolarado."
"O Gigante Enterrado" de Ishiguro é, essencialmente, uma história de amor verdadeiro. Não é sobre romance. Não é sobre felizes para sempre. É sobre a verdade presente em um amor de uma vida inteira. Axl e Beatrice são um casal de velhinhos, extremamente sábios e carinhosos um com outro, aparentemente, vivem o casamento de amor e simplicidade sonhado por todos. Ao longo da história, vamos descobrindo que a relação não é o conto de fadas que aparenta e que o amor entre os dois é um sobrevivente de uma relação real: cheias de desentendimentos, discordâncias, cotidiano, dias felizes e infelizes. Ambientado em um mundo mágico, os diálogos, personagens, caricaturas e enlaces são tão reais quanto nós mesmos. É inspirador e cheio de referências, entremeado de lições valiosas!
Recomendo uma leitura mais reflexiva!
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Lucianalg 08/09/2021

A importância da memória
Livro extraordinário sobre a memória e o amor. Quando não guardamos a memória de um fato seria esse melhor cicatrizado? O amor dura anos porque escolhemos esquecer os piores momentos?
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Paulo 11/08/2020

Com uma leveza digna de um artista da pena, Kazuo Ishiguro nos leva a questionar sobre o quanto seríamos capazes de sacrificar para obtermos a verdadeira paz. Seríamos capazes de realizar um ato de absoluta covardia, de terror inimaginável para obtermos séculos de paz duradoura? Seríamos capazes de conviver com nossos próprios espíritos? Estaríamos verdadeiramente em paz? Ele brinca com essas e outras questões em uma narrativa que parece ser lenta, mas que quando você se dá conta está completamente absorvido pelas questões existenciais que cercam Axl, Beatrice, Edwin, Wistan e Sir Gawain. A narrativa dessas pessoas se interconecta em uma rede povoada por ogros e dragões em uma Inglaterra pós-arturiana.

Nossa história começa em uma vila com um doce casal de idosos chamados Axl e Beatrice. Depois de adiarem a viagem por muitos anos, eles decidem finalmente ir visitar seu filho (ao qual eles tem poucas recordações) que eles sabem viver em uma vila não muito distante de onde eles moram. Tendo uma forte sensibilidade, Axl percebe uma estranha névoa que paira nas ilhas e está entorpecendo a memória das pessoas de alguma maneira que ele não sabe explicar. Algo está sendo escondido de todos, inclusive deles mesmos. Ao pegar a estrada, eles decidem primeiro se aconselhar com um famoso monge local para descansar e medicar sua esposa Beatrice e no caminho eles acabam se encontrando com Wistan e o jovem Edwin. O cavaleiro bretão Wistan está em uma missão para derrotar a dragoa Querig que vive na montanha próximo da vila para onde Axl e Beatrice pretendem ir. É aí que o cavaleiro decide escoltar o casal de idosos e nossa aventura começa.

A escrita de Ishiguro é extremamente delicada e sutil. Muitas vezes eu me pegava imaginando o autor escrevendo sua narrativa com o bico da pena de tão delicada que é sua forma de escrever. A narrativa é em terceira pessoa e partimos de dois núcleos principais: ora a partir de Axl e Beatrice, ora a partir de Edwin. Fico imaginando que esse é o tipo de história que não vai agradar a todos porque ela tem um nível de desenvolvimento bem lento. Ishiguro não tem a menor pressa em mover suas peças. O leitor demora a perceber aonde ele quer chegar. Não se preocupem: existe um sentido último e uma enorme surpresa na jornada de Axl e na de Wistan e uma importante história a ser contada.

A relação entre Axl e Beatrice é um dos pontos altos da narrativa. Como Ishiguro consegue nos mostrar bem a relação entre ambos. Isso sem ser água com açúcar. Percebemos que ambos se amam de verdade e que tem os seus momentos de amor e devoção e aqueles em que eles discordam. Isso vai do tempo de amadurecimento da união de um casal. Mesmo pequenos gestos confirmam isso: eles sempre andarem juntos ou a preocupação constante de Axl com o conforto de Beatrice ou o receio de Beatrice com a presença de Axl. E assim, não há nenhum grande mistério na história do casal: a história deles é uma aventura em busca de seu filho. Nada além disso. Só que teremos grandes surpresas nesse trajeto.

Muito já se foi dito sobre se o romance é ou não uma fantasia. O próprio autor não gosta de ter o seu romance vinculado ao gênero. Para mim é uma fantasia sim. A diferença é que o elemento fantástico não é uma ferramenta da narrativa, e sim um estado presente na narrativa. É a mesma sensação que temos quando lemos Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez ou Como Água para Chocolate, de Laura Esquivel. Então a todo o momento temos a presença da névoa que de alguma maneira afeta a memória de toda a população das ilhas britânicas ou a dragoa Querig que permanece como o grande vilão a ser abatido ou os ogros que atacam camponeses incautos. Mas, a aventura não se move em função disso. Se eu pudesse ser mais ousado, Ishiguro usa a fantasia quase como uma alegoria para aquilo que ele tem a dizer. Por exemplo, os ogros são uma alegoria para a extrema violência que assolavam as estradas durante a Idade Média. Os camponeses eram mortos a todo o momento e precisavam andar em caravanas. Bandoleiros eram pessoas sem identidade definida quase como se fossem ogros ou brutos. A dragoa Querig está presente por conta do seu bafo de névoa que encobre a ilha do qual falarei a seguir. Ou seja, é sim uma fantasia.

O autor gosta de brincar com como a memória pode ser dobrada ou entorpecida. Em O Gigante Enterrado, uma névoa poderosa está sendo usada para encobrir um acontecimento terrível do passado. A partir desta narrativa da memória surgem dois problemas a ser resolvidos pelos personagens: queremos nos lembrar de tudo o que foi esquecido, mesmo que seja algo horrível; e por que reviver memórias passadas se elas desenterrarão feridas que já poderiam ter sido cicatrizadas. O primeiro caso é algo mais íntimo e pessoal e tem a ver com um amadurecimento próprio, uma auto-análise que fazemos bem mais adiante. A gente aceita aquilo que já aconteceu e tratamos como parte daquilo que forma o nosso todo. Tudo é parte de nossa experiência pessoal; acertos e erros. Já o segundo caso cai em um ponto de toque mais complexo. Por exemplo: e se pudéssemos apagar magicamente o que foi feito com os judeus durante o Holocausto? Houvesse uma forma mágica ou um artefato qualquer que apagasse apenas isso da memória de todos? Seríamos capazes de reverter o processo? Reviver toda a dor novamente? É nessa encruzilhada que os personagens vão se situar no final da narrativa, mas em uma situação distinta.

Uma das partes que eu mais gostei também na narrativa se passou no monastério. Temos toda uma rede de intrigas acontecendo ali dentro com monges e padres estranhos que não sabemos se são apenas bondosos ou escondem alguma coisa. De repente aparece um instrumento de tortura com uma máscara e ferros pontiagudos. Me lembrou bastante os momentos investigativos passados em O Nome da Rosa, de Umberto Eco. A forma como Ishiguro coloca os personagens e a ambientação é muito boa e consegue envolver os leitores em algo que não te dá pistas exatas sobre o que está acontecendo. A gente sabe que alguma coisa está errada só não sabe o que e de onde é. Achei isso fascinante.

Preciso escrever também um parágrafo sobre Sir Gawain, um dos últimos remanescentes da corte do rei Arhur. Um homem alquebrado pelo tempo e pelas guerras montado em seu cavalo Horácio e partindo em uma última missão em busca da dragoa Querig. Assim como Wistan. A percepção que eu tive é que Gawain tem uma participação quase quixotesca em O Gigante Enterrado, embora seu papel tenha sido mais dramático do que cômico. Digamos que Gawain represente um legado de tempos passados e difíceis e que tiveram que ser resolvidos com medidas extremas. Nesse sentido Wistan e Gawain representam imagens espelhadas embora com idades diferentes. Tem dois capítulos no livro que Ishiguro nomeia Devaneios de Sir Gawain que são extremamente melancólicos e nos mostram um pouco do que se passa na mente do nobre cavaleiro. Ele precisou conviver com a culpa de ter feito as ações sob o comando de Arthur, um homem justo e de ter sobrevivido a tudo. Nem sempre ações justas significam boas ações. Talvez essa seja a maior lição deixada pela imagem de Gawain.

O Gigante Enterrado é um belíssimo livro, de um lirismo inacreditável e é compreensível o fato de ele ter sido tão premiado como foi. É um daqueles livros que ou você ama ou você odeia. Para mim, foi uma ótima leitura. Ishiguro me mostrou por que é um dos grandes da literatura mundial e fico feliz que essa tenha sido a minha porta de entrada em seus escritos. Mal vejo a hora de pegar outro de seus trabalhos.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
edu basílio 19/09/2020minha estante
excelentes suas reflexões! :-)




romulorocha 31/07/2021

O gigante enterrado, de Kazuo Ishiguro - Nota 8,5/10
Este foi o meu segundo livro do autor no ano. Vencedor do prêmio Nobel, confesso que esperava um pouco mais.

Em O gigante enterrado Axl e Beatrice são dois idosos que vivem em uma pequena comunidade na Grã-Bretanha dos tempos de Arthur. Marcados por esquecimentos e pedaços esquecidos de suas vidas, os dois se lembram do filho mais velho e decidem embarcar em uma viagem até a cidade que mora. Mas como ir sem informações precisas e com uma memória vacilante? Na busca de seu filho, Axl e Beatrice descobrirão muito mais que um caminho, mas um mundo ignorado e cheio de contradições.

O livro é narrado em terceira pessoa e possui uma linguagem envolvente. Mesmo sendo ambientado na Inglaterra, não me senti perdido com as referências.

Senti falta de uma objetividade no livro, bem como um clímax no enredo. Isso contribuiu para que depois da metade da leitura, eu não me sentisse tão envolvido.

#resenhasdoromulo
#kazuoishiguro
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