Felipe 20/08/2021
Nascido na cidade japonesa de Nagasaki em 1954, Kazuo Ishiguro se mudou para a Inglaterra ainda durante a infância. Nela, ele ainda vive, embora só tenha conseguido a naturalidade enquanto cidadão britânico no ano de 1983. Naquela década, após publicar diversos artigos em revistas, ele dá início à sua carreira de escritor.
Nela, ele escreveu oito livros. Além de livros, ele também escreve contos. Os seus talentos não se restringem à Literatura: Kazuo Ishiguro também é compositor, e um álbum no qual ele deu suas contribuições já chegou a ser indicado ao Grammy. E, em 2017, ele chegou a ser laureado com um prêmio Nobel de Literatura. Nesta resenha, falarei sobre “O Gigante Enterrado”, uma de suas mais conhecidas obras.
Antes disso, falarei sobre a relação entre a memória, tempo e História. Em “A Memória Coletiva”, o sociólogo Maurice Halbwachs nos explica o conceito que deu origem ao título da obra e nos traz as suas aplicações. Muitos dos trabalhos do autor foram publicados entre as décadas de 20 a 40 do século XX.
Francês, após o sociólogo passar um tempo estudando na universidade alemã de Gottingen, ele retorna à França em 1905 e conhece Emile Durkhein, outro sociólogo de enorme importância e que o influenciou. Tendo vivenciado as duas grandes guerras mundiais, Maurice Halbwachs também sofreu de uma grande intolerância. Em meio a uma sociedade etnocêntrico, o sociólogo sempre esteve entre aqueles considerados como “outro”.
Naquele contexto, ele passou a fazer parte da Escola de Strasbourg, a qual também influenciou a produção de seus materiais. Também contando com a presença de outros estudiosos nas mesmas condições, Maurice Halbwachs se pôs em uma postura sociológica ideal para a concepção de novas ideias. No caso de “A Memória Coletiva”, o autor rompe com ideias a ele anteriores.
Na época da concepção de sua obra, vigorava o consenso de que a memória nada mais era que um processo neurofisiológico no qual o indivíduo seria o responsável por trazer à mente o seu próprio passado. Com a publicação da obra, o autor trouxe a idade de que a memória individual é fruto de uma interpretação da memória coletiva. Nessa perspectiva, a lembrança seria resultado de um processo coletivo dependente de uma comunidade afetiva.
Somente por meio dela seria possível a um indivíduo ter a faculdade de lembrar como membro de um grupo. Em “História e Memória”, o historiador Jacques Le Goff investigou a associação entre a memória e a construção da História. Na obra, ele demonstra que, sem o registro documentado do passado, as suas lembranças no presente não possuem condições de serem resgatadas.
Encontramos um cenário bastante similar no início de “O Gigante Enterrado”. Em plena Idade Média, havia um vilarejo no qual havia um conjunto labiríntico de tocas que abrigava dois velhinhos: Axl e Beatrice. Nele, não havia um registro documental do passado ou sequer noções bem definidas sobre o tempo.
Nesse contexto, o casal decide empreender uma viagem rumo a outra aldeia para reencontrar o seu filho. Mas sem o registro do passado, como eles saberiam que as lembranças sobre o filho seriam mais do que simples devaneio? Esse foi um importante ponto desenvolvido no enredo.
Os acontecimentos que mencionei no parágrafo anterior ocorrem no primeiro capítulo da obra. Nele, o autor nos conta sobre o início da jornada de Axl e Beatrice para encontrar a aldeia de seu filho. E o término do capítulo coincide com o planejamento da viagem a ser realizada pelo casal.
No seguinte, Axl e Beatrice a empreendem. A Grande Planície era o seu destino final. Durante o percurso, Kazuo Ishiguro explora bem o fato de a ausência do registro de memórias do filho do casal em tudo atrapalhar a busca. Foi uma jornada repleta de perigos.
Em muito ela lembrou a vida de Maria de Nazaré e o carpinteiro José rumo a Belém, local onde Jesus nasceu. Pelo menos a princípio, pois o destino da jornada de Axl e Beatrice teve um final bem diferente. Mas em muitos aspectos os casais se assemelham, falarei mais posteriormente. Enquanto durante o trajeto de Marie e José o casal houve de enfrentar uma grande provação a sua fé, Axl e Beatrice enfrentaram toda a sorte de perigos que as lendas medievais contidas na obra ofereceram.
Conclua a leitura da resenha no blog. Caso tenha gostado e deseje ler mais resenhas nestes moldes, siga o perfil no Instagram: @literaturaemanalise
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