Breno Rodrigues 03/05/2023Interessante, mas mornoUma pandemia assolou a humanidade e dizimou quase 99% da população. Um vírus com alto poder de contágio e, como dito, altíssima taxa de mortalidade. Com esse plano de fundo, Estação Onze vai costurando retalhos de histórias e fragmentos de personagens aparentemente aleatórios, a fim de levantar discussões e reflexões perante um cenário de total catástrofe. Quais são os valores? O certo e o errado são de fato verdades absolutas ou as circunstâncias permitem flexibilização?
A premissa é, de certa forma, bastante conhecida e não oferece nada de muito novo por aqui. O que Estação Onze propõe, então, é uma narrativa relativamente incomum, entregando ao leitor certa aleatoriedade temporal e de protagonismo. Os personagens apresentados são importantes e se mostram peças fundamentais em suas vivências e conexões. Mas nada daqueles romances cheios de ação e zumbis, à la Last of Us, ou de dramas e indivíduos cativantes. Estação Onze chega a ser enfadonho em sua morosidade e na sua tentativa de entregar uma narrativa poeticamente reflexiva. Obviamente essas características entregam seu valor, levando o leitor a levantar questões sobre valorização do estado presente e questionando a ambiguidade e o sentido de colecionar memórias; sobre a dicotomia inerente ao ser humano, bem ou mal, ser ou não ser;
Em paralelo, é impossível não relacionar a pandemia vivida no livro com a nossa, que iniciaria 5 anos após o lançamento de Estação Onze (2015). Parece até premonitório, né? Na obra temos, é verdade, uma calamidade em proporções muito mais desastrosas, mas torna-se assustador imaginar o quão próximos estivemos de uma realidade remotamente semelhante. Ver a sociedade, após tantos progressos, ser resetada a um estado de extrema precariedade social, política, tecnológica e de saúde. O fanatismo religioso também traz para a história uma pitada de algo que pode tornar a experiência de ler interessante. Mas o que chama a atenção é a forma como a arte, em suas mais diversas formas, é utilizada como ferramenta para conduzir a narrativa por aqui.
No geral, trata-se de uma obra reflexiva, mas abundante em monotonia. Talvez o que enfrentei aqui, todavia, tenha sido um problema de expectativas. Estação Onze trouxe todos os pontos de reflexão e as consequências já citados mais acima no enfrentamento da calamidade, ingredientes principais para uma boa história, porém os personagens parecem apáticos e tornam-se desinteressantes com o passar das páginas.
No final das contas, trata-se de um grande relato pré e pós-pandemia focando principalmente na vida de alguns personagens específicos, mas usando-os como retrato do desejo comum em reconstruir uma sociedade funcional. A ideia aqui não é trazer uma distopia com caçadas, fugas e evasões, mas sim uma história que segue em ritmo morno do início ao fim, tendo pouquíssimas variações de temperatura no panorama geral. Achei mediano.