Renata 01/12/2016
Eu, Você e A Garota Que Vai Morrer -Jesse Andrews
Jesse Andrews vem com uma proposta inovadora, tanto no enredo, quanto na escrita, mas que não funcionaram juntas.
Como o próprio título já sugere, temos três personagens na trama: (1) Greg Gaines, um jovem metido a cineasta, que prefere não chamar atenção na escola; (2) Earl Jackson, jovem negro, de uma família problemática e que ajuda Greg nos filmes, até se chamam de amigos algumas vezes; (3) Rachel Kushner, ex-ficante do Greg e que está com Leucemia. Certo dia, a mãe de Greg pede (leia “obriga”) para ele fazer uma visita para sua amiga que foi diagnosticada com câncer. Para evitar a histeria da mãe, ele decide ir. Mas ele simplesmente fez a Rachel sofrer quando “eram amigos de verdade” e não sabe o que fazer. Depois de alguns eventos constrangedores, um dia ele decide levar Earl consigo, pois Earl é a pessoa mais divertida e interessante que ele conhece.
Atores do filme
Atores do filme “Me and Earl and the dying girl”. Na ordem, Olivia Cooke (Rachel), Thomas Mann (Greg) e RJ Cyler (Earl). Foto: Anne Marie Fox
Como forma de animar Rachel, coisa que Greg está longe de conseguir, Earl decide mostrar os filmes criados por ambos à ela. Tudo estaria bem se eles não tivessem um acordo para não mostrá-los para ninguém. Como se não bastasse o constrangimento da garota assistir aos filmes feitos por crianças de nove anos, uma das amigas dela, Naomi, pede para a dupla fazer um filme especial. Neste momento do livro eu pensei “Vai ficar bom!”, mas não fica. É sempre “mais do mesmo”, como profetizou Renato Russo. Como podem ver, a história teria potencial para ser excelente, mas a escolha da narrativa não favorece.
Como o livro é narrado em primeira pessoa, no caso Greg, e ele é um personagem vazio, fiquei com a sensação que os demais personagens também eram. Como podem ter percebido acima, Jesse cria personagens com propostas bem legais e que poderiam ter sido muito bem desenvolvidos ao longo da história, mas a escolha da narrativa pela óptica do Greg não permitiu que ele os exploresse um pouco mais. Como podem ver na citação a seguir, que eu iria colocar no início do texto, mas acredito que ela ficará melhor agora:
Então, se fosse um livro normal sobre leucemia, provavelmente eu falaria muita merda sobre todas as coisas importantes que a Rachel tinha a dizer ao mesmo tempo que ficava mais doente, e também provavelmente a gente se apaixonaria e ela morreria nos meus braços. (pág. 191)
Outro ponto que me incomodou bastante neste personagem, é o fato de ele se achar “o” crítico de cinema. Ele fica fazendo referências a diretores e filmes o tempo inteiro, como forma de exemplificar alguns fatos. Mas e quem não conhece o que foi citado, fica perdido. Sério, de tudo que ele citou só conhecia Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001), do David Lynch. Como se não bastasse o pedantismo, o autor escolheu uma estrutura narrativa que funcionaria bem, se não fosse utilizada para as coisas erradas. Estou me referindo aos capítulos ou cenas aleatórias escritas em tópicos ou em forma de roteiro de teatro/cinema. Interessante? Sim! Mas não para descrever uma quantidade significativa de pensamentos aleatórios sobre algo que ele não tem coragem de fazer/falar; ou ainda para descrever frases aleatórias de personagens secundários, porque o narrador está entediado para criar um diálogo completo.