O Livro dos Negros

O Livro dos Negros Lawrence Hill




Resenhas - O Livro dos Negros


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Leticia | @bardaliteraria 22/08/2015

O livro dos Negros de Lawrence Hill
Particularmente não esperava um livro que me fizesse chorar e nem sentir a dor daquela que descrevia sua história.
O que esperar de um livro em que uma criança de 11 anos é tirada da sua terra, perde os país e as pessoas que conhecia para ser mal tratada, transportada em um navio de condições horríveis, chegar em uma terra estranha e cheias de pessoas ruins, ser vendida como objeto e forçada a trabalhar em condições tão precárias quanto o temoroso navio em que viajou e a todo momento sofrer diversas provações que a fazem questionar se consegue continuar viva.
O livros do negros tem cerca de 408 páginas dividas em 4 livros ( que é como a separação da história é feita), narrado sempre em 1º pessoa (pela personagem principal) e mesclando entre ela mais velha e o início e meio de sua história de vida. Eu amei a capa do livro e a diagramação, a editora teve muito carinho nessa edição mas senti falta de uma revisão melhor, em alguns momentos encontrei palavras erradas e me sentia meio confusa com o que o escritor queria dizer mais nada muito grave que atrapalhasse a leitura.
A personagem principal se chama Aminata Diallo, uma garota de 11 anos (ou estações como eles chamam) muçulmana livre que foi raptada de seus país e de sua aldeia Bayo para ser tornar escrava de Toubabus ( brancos) em uma ilha que pertencia ao povo britânico.
O livro do Negros foi o primeiro em muitos anos que me fez chorar, não consegui me debulhar em lágrimas por não aceitar dentro de mim que uma história de ficção pode ser tão crível quanto nossa realidade, a história é extramente fluída porém dolorosa e angustiante, ler e me sentir como Aminata ( Deena para facilitar ao toubabus), me fez em alguns momentos querer vomitar, correr e gritar, mas também ter raiva dela por ser tão ingenua e não confiar nos negros mais velhos que apenas queriam seu bem, era interessante ver que mesmo depois de anos e sofrimentos vindos uns atrás do outro ela se manteve firme na fé de que um dia voltaria a sua África, para sua amada aldeia Bayo.
A história foi baseada em uma época que muitos nunca tiraram um pouco do seu tempo pra ler de forma mais profunda, no máximo um filme, uma série ou novela baseada, uma época da qual poucos se fazem questão em pensar no seu dia a dia, lembrada apenas nos livros de histórias que não podem contar toda a dor que ali havia, eu não imaginava o quão duro seria ler esse livro, a todo momento me via desejando que ela não fizesse isso ou aquilo, que não se arriscasse ou confiasse, que não sofresse tantas situações horríveis, uma das coisas que mais gostei foi ver o quanto mesmo sendo sofrida sua vida ela pensava em seus companheiros, em sua gente, no quanto se dedicou a evoluir e aprender para ajudar os outros e quem sabe realizar seu sonho de voltar a sua terra que ela recentemente descobrira se chamar Árica.
Eu não poderia dizer que o livro tem um final feliz porque após tanto sofrimento e dor seria difícil dizer isso mas pela primeira vez Aminata parou de sofrer por uma de suas perdas,e considero isso o melhor final possível. Eu amei ter a oportunidade de ler esse livro e agradeço de coração a editora que o enviou para mim, Aminata me fez lembrar o quanto o preconceito e o sentimento de superioridade pode tornar o ser humano capaz de machucar o outro apenas pelo poder que lhe acha ser justo criado com base na cor da pele.
Eu indico o livro pra todo leitor que quer uma boa história mas que tenha estômago pra ler sobre tanto sofrimento, a história é incrível e Lawrence Hill me surpreendeu além de claro me fazer chorar.

site: http://mylittlegardenofideas.blogspot.com.br/2015/07/o-livro-dos-negros-de-lawrence-hill.html
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Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 05/08/2015

O Livro dos Negros
Em "O Livro dos Negros" a trama se passa em 1745 na África, baseado em fatos e documentos históricos o autor Lawrence Hill abordou uma temática, digamos rica em detalhes e totalmente realista, a ponto do leitor sentir na própria pele (literalmente) a dor da protagonista Aminata Diallo.

O mais incrível deste livro é que o autor narrou na 'voz' de Aminata Diallo e que em certo ponto, dá-se a sensação de ser uma escritora, pois a qualidade de escrita é tamanha, que afirmo com veemência para quem me perguntar sobre "O Livro dos Negros": este foi até hoje, o melhor livro de documentário que li em toda a minha vida!

Em toda a história de Aminata, o que a fez ser destaque entre os demais de seu povo, foi o fato de ela saber ler e, em diversas línguas daquele tempo remoto. Em uma época em que mulher não poderia ter conhecimento da língua; ser totalmente submissa aos homens, principalmente quando se é um escrava. Mas eis que encontrei uma frase que me fez emocionou e faço questão de mostrar para vocês:

"Ler era como um sonho diurno em terra secreta. Ninguém além de mim sabia chegar lá, e ninguém além de mim era dono daquele lugar".

O livro é tão bom que se eu for descrever tudo o que senti ao ler esta obra literária, esta resenha seria imensa, portanto, resumo dizendo que foi incrível ler um documentário com fatos que marcaram uma geração onde a história de humanidade, mais especificamente a história dos africanos, foi totalmente transformada após a escravidão dos negros e, como a história de muitos africanos foi reformulada com a atitude de Aminata e sua força de vontade em querer mmudar o mundo com seu conhecimento.

Um dos fatos bem marcantes deste livro, foi saber que mesmo quando ela foi abolida, Aminata nunca se sentiu livre e em quando acabou o livro, fiquei com a sensação de que ela estava certa, pois a abolição foi apenas fachada para interesse entre nações. Mesmo sendo triste, foi muito bom saber disso.
"Os abolicionistas podem até me chamar de sua igual, mas seus lábios ainda não pronunciaram meu nome e seus ouvidos não ouvem minha história".

O Livro dos Negros, me emocionou, me fez refletir, me fez sofrer, me fez mais intelectual e melhor ainda, adicionou em mim um respeito pelos africanos que sofreram e que ainda sofrem com o descaso dos diplomatas do continente.

"Se a mãe é escrava, então você é escravo. Se o pai é escravo, então você é escravo. Qualquer traço negro em você é escravo. É tão claro quanto a luz do dia".

Confesso que enquanto o livro não chegou ao fim, não consegui largar dele, pois achei magnífico e repito: foi o melhor livro do gênero documentário que já li. Lawrence Hill é um escritor fascinante. O Livro dos Negros é espetacular; fantástico! Indico para todo tipo de leitor, pois este livro deve ser absorvido sem moderação. ;)

site: http://www.irmaoslivreiros.com/2015/08/o-livro-dos-negros.html
cid 14/08/2015minha estante
Daniel, vc assistiu a serie baseada no livro?


Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 14/08/2015minha estante
Oi, Cid.

Ainda não, mas estou doido para assistir, pois eu li e me apaixonei pelo livro! :)


Janaina @revisora.janainastaciarini 17/09/2015minha estante
Gente, me conta qual é a série baseada no livro!! Daniel, adorei sua resenha. Eu estou completamente envolvida pela leitura e todo dia que leio à noite acordo com a cara inchada de tanto chorar.


Gustavo 27/10/2015minha estante
A mini série pois é só uma temporada de 6 capítulos é,the book of negroes,muito boa,ótima mesmo,por causa dela que comprei o livro,ainda não o li.




Thais Maia da C 25/07/2015

Resenha O Livro dos Livros
Terminei de lê-lo semana passada, mas desde então estou pensando aqui em como deveria falar dele para vocês. Sabe aquele livro que você quer indicar para todos? Que você acha que todos deveriam ler? Pois é... Pode ser que vocês já tenham se deparado com um livro assim, ou pode ser que não, no meu caso por exemplo eu tenho vários livros que gosto muito e que vivo indicando para os amigos... Mas esse é diferente! E vocês logo irão entender por que.

O livro começa precisamente no ano de 1802 em Londres, Aminata já está com uma idade avançada, e nesse primeiro capítulo nos conta como está a sua vida nesse período e o que anda fazendo para ajudar na causa abolicionista. Incentivada por muitos ela começa então a escrever sua história, como foi sua vida outrora de sofrimento e como foi que ela conseguiu chegar em Londres, lutando pelos direitos de seu povo.

Seus relados começam em sua infância, em Bayo no ano de 1745. Aminita nos conta como era a vida entre seu povo, como viviam o que faziam no que acreditavam e tudo mais. Seu pai era o joalheiro da aldeia e sua mãe a parteira, desde muito jovem a garota a ajuda com ofício e demonstra uma habilidade impressionante.

“Entretendo, nossos raptores também tinham uma marca, por aquilo que lhes faltava: a luz em seus livros. Nunca conheci alguém que, fazendo coisas terríveis pudesse cruzar seu olhar com o meu em paz. Encarar o rosto de outra pessoa é fazer duas coisas: reconhecer a humanidade do outro e assumir a sua.” pag35

Quando viajava com sua mãe para fazer mais um parto na aldeia vizinha é raptada por contrabandistas, que a amarram e a tratam pior que um animal. Perdida e sozinha a garota parte então rumo a uma viagem sem volta para um caminho que até então era totalmente desconhecido por ela.

Acho que a primeira coisa que devo dizer é: se você é do tipo sensível se prepare para fortes emoções, O Livro dos Negros nos trás um relado emocionante do que várias pessoas teriam passado, sendo arrancadas de suas aldeias e jogados em um navio rumo a um terra desconhecida. Mulheres, crianças e homens todos tratados como seres desprezíveis, Sem nenhum respeito ou compaixão.

“Como ele veio a se tornar meu dono, e de todos os outros? Perguntei-me se ele seria meu dono o tempo todo, ou apenas quando eu trabalhava para ele. Seria ele meu dono enquanto eu dormia? Ou sonhava?.”

Assim que fiquei sabendo do livro através da parceria com a Primavera Editorial, logo me interessei. Gosto muito de história e de ler livros que retratem algum momento dela, E estava querendo variar nas minhas leituras também, então quando ele chegou não demorei muito a ler. O livro é dividido em quatro partes tendo cada uma mais o menos cinco capítulos, ele é dividido para acompanhar as etapas da vida da protagonista, em suas 405 páginas ele é quase todo escrito em narrativa, por esse motivo demorei um pouco a terminar de lê-lo.

Como disse no começo acho que todos deveriam ao menos tentar ler o livro, é uma história emocionante, tocante que nos mostra o quanto podemos ser fortes sejam quais forem as dificuldades, e ainda como podemos ser tão cruéis com os nossos semelhantes.

“Alguns dizem que tive uma beleza pouco comum, mas não desejaria beleza para nenhuma mulher que não tivesse sua liberdade, e que não escolhesse os braços que a abraçam.”

site: www.notinhasderodape.com.br
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TamiresCipriano 10/07/2015

Uma história incrível que toca o coração.
Foram horas e horas da madrugada com olhos cheio d´água ou com sorriso no rosto e principalmente, chocada! Somos levados da África para uma história incrível até vários solos firmes.
Aprendi muito com Aminata, aprendi muito com o livro e com toda certeza é mais do que indicado.

Animata Diallo é a nossa protagonista. Filha de uma parteira (Sira Kulibali) e joalheiro (Mamadu Diallo) da aldeia Bayo. Foi sequestrada aos onze anos de idade para ser vendida na Carolina do sul e no caminho conhece um dos seus raptores, Chekura, que futuramente vêm a ser seu marido privativamente.

Aminata tinha lindas luas nas bochechas que a enfeitava, sinal de sua aldeia. Infelizmente, a beleza poderia ser algo negativo em algum momento da vida de nossa protagonista, mas sua sabedoria e o dom de ser uma ótima contadora de histórias - que sabia desde criança que seria uma - além de sua extrema vontade de saber mais e viver. Consegue fazer muito mais, e não somente por ela.

Como Aminata tinha mãos perfeitas para ajudar sua mãe e segurar as crianças, acompanhava seus trajetos e os nascimentos. Escutaram histórias de que homens diferentes, brancos e barbudos - os chamados taubabus - raptavam algumas pessoas próximas dali. Certo dia, sua mãe foi chamada para fazer um parto em local distante da aldeia Bayo, seu pai as acompanhou, porém, no caminho tentaram raptar os três. Com grande resistência, seu pai e sua mãe lutaram até a morte e enquanto era obrigada a caminhar, ainda podia dar uma última olhada para trás e sentir o sopro das almas de seus pais, esvaindo-se.

"Pa significava pai na minha língua. Ma significava rio. E também mãe. No começo da minha infância, minha mãe era como um rio, correndo comigo ao longo dos dias e mantendo-me em segurança à noite. A maior parte de minha vida veio e se foi, mas eu ainda penso neles como meus pais, mais velhos e mais sábios que eu; ainda escuto suas vozes, algumas vezes vultuosas e profundas, outras, flutuando como notas musicais. Imagino suas mãos, afastando-me das ameaças, desviando-me dos fogões e me levando para o colchão à sombra fresca de nossa casa. Ainda consigo ver meu pai com uma vara afiada sobre a terra dura, riscando, em árabe, linhas fluentes, e falando sobre o distante Timbuktu." Pág 12.

Seu travejo para chegar ao grande rio - assim conhecido por eles, que é o mar - foi horrível! Pessoas morreram, a fome, o frio e o cansaço "derrubou" muitos, mas ao olhar ao redor e reconhecer que não estava sozinha, que Fanta e Fomba de sua aldeia estava ali, sentia-se um pouco mais aliviada e com esperanças. Além da companhia dos de sua aldeia, Aminata conhece mais de Chekura, o menino que havia ajudado a raptá-la mas que também a tratava com carinho.

Rebeliões foram feitas na chegada ao navio. Aminata usou um pouco de seu conhecimento já que seu pai havia lhe ensinado a ler e a escrever. Sabia Fulfulde e Bamananka. Chegando na Carolina do sul, foi vendida por pouco dinheiro. Na nova terra que pisara atravessando o grande mar, era mais conhecida como Meena.

"Caminhei porque fui feita para isso. Caminhei, porque era a única coisa a fazer. E naquela noite, enquanto caminhava, por muitas e muitas vezes, ouvi as últimas palavras de meu pai. Aminata. Aminata. Aminata." Pág 34

Não é só ai que para; ao contrário da série que assisti antes de ler, algumas coisas foram modificadas, como Fomba e Fanta. As coisas foram bem diferentes. Fomba era um ótimo caçador, melhor ainda quando fazia sozinho, mas depois de ser levado pelos grilhões, nunca falou novamente. Fanta não gostava de Aminata, odiava o jeito de seus pais adularem a menina, mas não é só isso, sabia que a menina era muito inteligente, bonita e que logo poderia tomar o que é seu...

A narrativa te prende de maneira surreal! O livro são quatrocentas páginas de pura emoção, adrenalina, medo, choque, pavor e querendo ou não, algumas vezes felicidades e alívios. Felicidade quando? Quando o Checkura aparecia, ou no final que soube de algo - não posso contar - que aliviou teu coração.

Foi estrupada pelo seu senhor que era bem ciumento. Ajudou bastante a Sra. Lindo e o Sr. Lindo e os mesmos ajudaram-na. Pisou em várias terras diferentes, sentiu o medo, a perda, as pequenas vitórias e as grandes batalhas da vida. Encontrou homens de bem e paz. Passar no mar se tornou repugnante ao imaginar estar acima de túmulos. Ajudou homens e mulheres, aprendeu a ler e a escrever. Sabia mais do que qualquer outro negro e até mais do que muitos brancos. Sr. Lindo ainda a ensinou fazer as contas para ajudar e pagar a ele o que consumia na casa.

O livro são divididos em livros. Parte de sua vida em Bayo e uma no navio. Outra parte de sua vida na Carolina do sul. Outra com Sr. Lindo e outras de todas suas perdas, das histórias que logo iriam virar Histórias e ser grande ponto aos abolicionistas.

Eu vou falar, falar e falar e a finalidade será a mesma. Leiam! Não somente por ser um ótimo livro, mas também há partes baseadas em fatos reais. Por conhecimento histórico e para chocar um pouco mesmo com a raça humana e seus métodos de ser o pior "animal" da face da terra. Um ser pensante, impensante...

Nem preciso dizer que a editora caprichou na edição, certo? A capa tem tudo a ver e sério, depois de lerem, dão uma procurada na série que é linda também: The book of negroes. No mais, agradeço a editora pelo carinho de sempre e por terem enviado um exemplar que agora é um dos favoritos e de grande importância na estante.

Saibam mais no blog:


site: http://de-tudo-e-um-pouco.blogspot.com.br/2015/06/resenha-premiada-o-livro-dos-negros.html
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Clã 26/06/2015

Clã dos Livros - O Livro dos Negros
Baseado em fatos e documentos históricos O livro dos negros de Lawrence Hill, é uma obra fictícia de temática e abordagem muito realista e enriquecedora. O autor foi muito feliz ao criar uma trama tão envolvente para apresentar e promover reflexões sobre o comércio de escravos e a abolição da escravatura.

A protagonista Aminata Diallo é a narradora da sua própria história. Da infância tranquila na aldeia à velhice no Reino Unido, em 1802, ao lado de um grupo de abolicionista. É chegada a hora de mudar o rumo da história de inúmeros africanos que sofreram com o desrespeito da escravidão...

“Como falei, sou Aminata Diallo, filha de Mamadu Diallo e Sira Kulibali...Creio que nasci em 1745, ou por aí. E estou escrevendo este relato. Todo ele. Caso eu morra antes de terminar a tarefa, instruí John Clarkson, um dos abolicionistas mais pacatos, mas o único em que confio, para não mudar nada. ...Alguns dizem que tive uma beleza pouco comum, mas eu não desejaria beleza para nenhuma mulher que não tivesse sua liberdade, e que não escolhesse os braços que a abraçam.”

Aminata demonstrava ser dona de uma inteligência perspicaz ainda criança. Com a mãe aprendeu a amparar os bebês que chegavam ao mundo, com o pai conheceu e estudou o alcorão e tornou-se mulçumana. Mas os dias de paz na aldeia desaparecem com a chegada dos traficantes de escravos. A perda da sua família e de sua terra e a terrível viagem em um navio negreiro exigem que a pequena Aminata amadureça para sobreviver.

“ Os homens gritavam nas mais diversas línguas . Gritavam preces árabes, gritavam em fulfulde, em bamanankan e em outras línguas que eu nunca escutara. Todos pediam as mesmas coisa; água, comida, ar, luz. Um deles clamava estar acorrentado a um morto. Sob a luz bruxuleante, pude vê-lo tocar o corpo inerte preso a ele, pé com pé...”

Quando o navio atraca na Carolina do Sul Aminata é levada para a plantação de índigo de Robinson Appleby. É lá que recebe o nome americano Meena Dee, redescobre com Geórgia uma relação próxima de mãe e filha, reencontra Chekura que a acompanhou no navio negreiro e com ele vive o amor... Talentosa, aprende a forma de falar dos brancos, aprende a ler e escrever, descobre e aplica as ciências medicinais.

Sua história transforma-se quando é vendida para a família de Solomon Lindo, que reconhecendo suas habilidades, a ensina cálculos e grafia. Cada vez mais independente passa a trabalhar para pagar pelo abrigo e alimento que recebe, mas continua sendo propriedade dos Lindo. Quando anda pela cidade e acompanha a chegada de novos navios negreiros o sentimento de repulsa aflora.

“ Perto da plataforma, havia um grupo de africanos: alguns mal conseguiam ficar em pé, enquanto outros tinham pus saindo das feridas nas pernas. Parecia que para eles o beijo da morte seria muito bem-vindo. Senti um nó na garganta, e olhei para o chão, evitando cruzar meu olhar com o deles. Eu estava alimentada, e eles não. Tinha roupas, e eles, não. Não podia fazer nada para mudar sua perspectiva. Ou a minha. Isso, decidi, era o que significava ser escravo: você é invisível no presente, e não pode ter pretensão em relação ao futuro. Minha situação não era melhor que a deles...”

Continuamos acompanhando toda sua trajetória: as mudanças, a fuga, os novos amigos, a continuidade do seu amor por Checkura mesmo com a distância, as conquistas pessoais e por muitas vezes as suas dores, perdas e sofrimentos.

Os tempos difíceis surgem. A guerra e os confrontos entre americanos e ingleses transformam a realidade de Meena que torna-se peça fundamental da história ao ser convocada para preencher O Livro dos Negros. Neste documento registravam-se os nomes dos escravos que possuíam o certificado de que haviam servido aos britânicos e, por conseguinte tornariam-se livres.

“ Meu trabalho era entrevistar os negros e repetir as respostas aos oficiais. Vi pessoas vindas de lugares que nunca ouvira antes. Alguns, eu não conseguia entender, mas fui capaz de coletar informações da maioria, e pude explicar-lhes o que estava escrito nas passagens que recebiam. A sala era lotada e quente, e os dias, longos. Mas, embora estivesse ansiosa para voltar aos braços de Chekura, eu adorava minha nova ocupação. Sentia que dava algo especial para os negros que buscavam refúgio na Nova Escócia, e que eles me davam algo especial. Diziam-me que eu não estava sozinha.”

Nem tudo acontece como desejado para quem viveu a sombra da escravidão por toda a vida, mas de maneira poetica, nos despedimos dessa mulher com grande poder de superação e senso de justiça, que cruzou o oceano, viu e viveu tanto...

“ Eu gostaria de desenhar um mapa dos lugares onde vivi... Não haveria elefantes no lugar das cidades, mas sim guinéus feitos com o ouro das minas da África, uma mulher equilibrando frutas na cabeça, outra com saquinhos azuis de remédios, uma criança lendo e as colinas verdes de Serra Leoa, terra de minhas chegadas e partidas.”

Lawrence Hill é um autor fascinante. O livro dos negros é espetacular. Recomendo que não perca tempo. Leia, aprenda e emocione-se.

site: http://cladoslivros.blogspot.com.br/2015/06/resenha-o-livro-dos-negros-de-lawrence.html
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Lê Golz 24/06/2015

Enriquecedor!
"Hoje, você vive, criança. Amanhã, você sonha." (p. 97)

Uau! Que livro! Essa leitura veio em um momento que eu ainda estou digerindo as emoções que senti lendo 12 anos de escravidão. Mas neste livro, Aminata Diallo é uma personagem fictícia, porém seu sofrimento é reflexo de todos os negros que sofreram com o início da escravidão. O livro dos negros, lançamento da Primavera Editorial é fascinante de todas as maneiras.

Aos 11 anos, Aminata vivia tranquilamente em sua pequena aldeia, Bayo, na África, até ser sequestrada e enviada a um navio negreiro. Até então Aminata somente conhecia os cuidados dos pais, sua comunidade e sua terra. Mas ao ser acorrentada e submetida as vontades dos toubabus - como eram chamados os homens brancos pelos negros - sua realidade mudara, e agora ela precisava amadurecer e ser forte para sobreviver. Ela fez a travessia rumo às Américas, onde foi vendida nos Estados Unidos. Sua trajetória foi marcada por muitas humilhações, mas ela não era uma africana comum. Dotada de uma grande inteligência, Aminata aprende a ler e escrever, e se virar como pode com aquilo que aprendeu com a mãe, amparar bebês.

O livro é narrado pela própria protagonista, que em 1802, em sua velhice se encontrava na Inglaterra ao lado de um grupo de abolicionistas que reivindicavam mudanças e dignidade aos negros. A escrita do autor é clara e fluida e nos remete a um momento histórico marcante que trouxe tanto sofrimento aos africanos e seus descendentes. Sem dúvidas, as cenas no navio negreiro foram as piores. Não tenho como descrever tamanha crueldade, e acho que todos deviam ler o livro para conhecer esse lado da história da escravidão.


"Ela me perguntou por que eu era tão negra. Eu lhe perguntei por que ela era tão branca." (p. 13)

A diagramação está ótima, o que tornou a leitura muito confortável, com folhas amareladas e fonte em tamanho ideal. A capa é maravilhosa e me agradou bastante. Os capítulos são grandes, mas a história é tão impactante que isso não me atrapalhou. Apesar de fluida, não vou dizer que é uma leitura rápida, pois há mais narrativa do que diálogos, além do conteúdo histórico.

Mas afinal, o que é o Livro dos negros? Assim era chamado o único e maior documento, contendo os nomes e os detalhes de 3 mil homens, mulheres e crianças negras, que após servir às linhas britânicas seriam considerados livres e viajariam para colônias britânicas, a chamada "terra prometida". Mas nem tudo foi bem assim...

"Como ele veio a se tornar meu dono, e de todos os outros? Perguntei-me se ele seria meu dono o tempo todo, ou apenas quando eu trabalhava para ele. Seria ele meu dono enquanto eu dormia? Ou sonhava?" (p. 121)

Com a leitura desse livro tomei conhecimento de fatos históricos até então desconhecidos por mim. Em nota no final do livro, o autor conta o que de fato foi ficção, e o que não foi. Apesar de Aminata ter existido apenas na cabeça do escritor, ela representa as inúmeras humilhações, açoitamentos, períodos de fome e sede, e incontáveis formas de desrespeito aos negros. Desde o início, a leitura é impactante, e eu só conseguia me perguntar com que direito uma pessoa tira diversos seres humanos de suas aldeias e casas, crianças dos braços de seus pais, e separam famílias afim de escravizá-los em outro continente? A diferença de cor lhes davam esse direito? Como Aminata mesmo se perguntou: quem havia tido essa "brilhante" ideia e iniciado tudo isso?

O livro dos negros é mais que um relato comum da escravidão. Conhecemos não apenas o período em que os negros tiveram com seus senhores, mas toda a trajetória que os trouxeram às Américas, e o desejo íntimo de voltarem para sua terra-mãe. Não é exagero dizer que este livro é perfeito. Ele tem um teor histórico muito bem escrito, e uma personagem forte, inteligente e inesquecível. Ao mesmo tempo que nos causa indignação e tristeza, nos traz admiração e encantamento pela luta de uma escrava pela liberdade.

site: http://livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br/2015/06/resenha-o-livro-dos-negros.html
Mi 24/06/2015minha estante
Assisti a serie de tv e na época quando soube ser baseado em livro fiquei chateada por ainda não ser publicado aqui e agora ao saber desse lançamento estou muito ansiosa pra ler o livro. Ótima resenha.


Lê Golz 04/07/2015minha estante
Oi Michelli...o livro vale muito a pena. Bom demais!!




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