Camilla.Alves 30/03/2024Uma metalinguagem digna de um Mestre! Isso é King! ??De minhas últimas leituras, essa foi uma das mais difíceis de terminar.
No início, pareceu que a história não engrenava, não cativava a ponto de fluir. Chegou a ser confuso até. Mas aí pensei: é King e ele geralmente demoooora a engrenar mesmo.
Com o passar dos dias, foi andando e acompanhar o sofrimento do personagem principal, Paul, foi agonizante.
Paul é um escritor famoso que sofreu um acidente e é "salvo" por Annie, sua fã número um, que o encarcera em sua casa. Annie não gosta do final terrível que Paul deu à sua personagem principal e pede para que ele reescreva a história, usando métodos cruéis de persuasão.
Como ele mesmo se qualifica, Paul se vê encarnando Sherazade a fim de lutar pela sua vida enquanto escreve sua nova história.
Isso tudo permeado por inúmeras citações de processo de escrita e assombros que atormentam a vida de um escritor.
Nada deve ser pior do que ter seus leitores atormentando um autor por um outro desfecho, ou querendo ressuscitar personagens que você já deu fim, ou até mesmo persegui-lo duramente através de ataques verbais que levam a mutilações no corpo: como não ter pés para correr deles ou mãos calejadas que já não conseguem escrever mais.
Por mais terrível que tenha sido ler este livro por esses momentos angustiantes, assim como ver um autor passivo diante do encarceramento de seus fãs, penso que é aí onde o brilhantismo de King se revela.
Ele realmente conseguiu me deixar angustiada e ao mesmo tempo embasbacada com sua maestria de escrever quase que metalinguisticamente sobre as dores que acarretam a vida de um autor.