spoiler visualizarlahmot 31/07/2023
Tive pouco contato com as obras da Jane Austen além de assistir ao filme de 2005 e a minissérie da BBC de Orgulho e Preconceito, e ao filme Emma (2020), por isso sabia mais ou menos o que me esperaria lendo este livro. É a primeira obra lançada por Jane Austen, e eu não sei se certas escolhas (não necessariamente ruins, mas diferentes do que estou acostumada) foram tomadas puramente por liberdade artística, provavelmente são sim, mas ainda assim fiquei na dúvida.
Razão e Sensibilidade conta a história de duas irmãs, Elinor e Marianne Dashwood, que perdem o pai e herdam um grandíssimo nada, pois quase tudo fica na posse de seu irmão mais velho, fruto do primeiro casamento de seu pai, que é um grande bananão e deixa de cumprir a promessa que fez ao pai de auxiliá-las financeiramente no momento em que a esposa baratona tonta dele, que já é rica, diz pra ele que eles não sobreviveriam a ficar um tantinho menos ricos se ajudassem elas, tadiiinhos :(
Esse tipo de romance, creio eu, não é tão palpável quanto um romance contemporâneo e as grandes formalidades na escrita me pegaram um pouco desprevenida, apesar de eu não esperar algo diferente. O começo, principalmente, é pesado na exposição, e teve muitos momentos em que eu gostaria que a Srta Austen tivesse me mostrado, ao invés de ter contado, mas eu entendo essa escolha em certas vezes (com a exceção de uma, que citarei mais para frente).
Eu não torci para nenhum casal, ou melhor, torci, mas depois me desencantei. Assim que eu comecei a pensar gostar de Willoughby, pronto, ele foi lá e me decepcionou. E apesar de eu não ter tido nada contra o Edward, também não liguei tanto assim pra ele; achei que faltou mais cenas de interação entre ele e a Elinor, tudo que a gente acaba sabendo sobre a relação dos dois é contado (e criticado pela Marianne, o que não ajudou muito, aliás), eu queria mais motivos para torcer por eles, mas ao invés disso, me vi torcendo simplesmente por gostar da Elinor e querer um final feliz para ela.
Preciso dedicar um parágrafo ao santo padroeiro, também conhecido como Coronel Brandon, que é introduzido como um homem mais velho que está afim de nossa querida Marianne, esta que sequer olha direito na cara dele. Em diversos momentos fui levada a pensar que ele estava destinado a terminar com a Elinor, que sofria silenciosamente pelo recém descoberto noivado de Edward, pois até que teria feito sentido né? Duas pessoas que almejavam ter alguém que não podiam, mas não foi isso que aconteceu, e parte de mim ficou feliz, apenas parte. Por que? Porque eu detesto o Coronel Brandon! Ele é bondoso, diversas vezes é gentil e até mesmo sofreu por amor no passado... Como resistir, né? Bom, para começar, ele é um chato. Sim, isso mesmo, ele é uma porta, não tem uma ponta de carisma; personalidade. O outro motivo é que nenhuma das irmãs mostra um pingo de interesse nele, ele não tem química nenhuma com elas! A parte de mim que ficou triste, foi porque, com a Elinor tendo retomado a relação com o Edward, é... adivinha quem sobrou? A pessoa que menos se importava com o Coronel Brandon o livro inteiro, que saía da sala assim que ele chegava, que mal trocou um "Bom dia" com ele por 300 páginas... terminou o livro com ele. Compreendo que seria inviável que ela terminasse solteira na época em que o livro foi escrito, mas eu odiei a Marianne ter se casado com ele no final, achei um absurdo.
Agora que eu já coloquei para fora tudo aquilo que me incomodou, vamos aos pontos positivos. Não há nada que una mais duas irmãs do que o dedo podre pra homem. A Elinor e a Marianne, mesmo tão opostas, são duas queridas; no comecinho eu achei a Elinor meio chatinha, mas no decorrer da história ela me conquistou e achei ela uma santa, tão forte que sofre calada para não atrapalhar o sofrimento da irmã. Deve ser chato ser irmã mais velha né? Mulher não pode nem ser racional demais, nem romântica demais, aos olhos da sociedade, é claro que é muito fácil eu chegar e dizer: "Não, mas precisamos de um equilíbrio!", o que é de fato verdade, mas às vezes nada é o suficiente quando se é mulher. Marianne é praticamente desgraçada em público por ser feita de trouxa por Willoughby, e a partir do momento que ela não finge seus sentimentos, e mostra a todos o quão mal ela está, é vista como "feia", como "desleixada". Enquanto Elinor sofre calada, obrigada a guardar o segredo de Lucy sem poder externalizar o que realmente está sentindo.
Queria comentar rapidamente que a Marianne é tudo o que eu queria ser certas vezes. Não tá afim de falar com a visita? Sobe e não sai do quarto até eles irem embora. Tem uma opinião contrária? Não deixa de expor o que pensa, mesmo que só para a Elinor, no privado. Não finge com sorrisinhos ser simpática com gente chata (com as irmãs Steele, INSUPORTÁVEIS), e quando aquela véia chata da Sra Ferrars destrata a irmã dela, ela levanta a cabeça e dá uma patada bem dada na véia. É assim mesmo, lenda 👏👏.
Lá pelo final do livro é onde acontecem as reviravoltas e posso dizer que gostei muito, havia momentos em que eu não fazia ideia como isso terminaria e eu adorei. Por mais que toda aquela situação do final tenha sido apressada, foi legal passar parte do livro me perguntando: "E agora? Com quem ela vai ficar?". A Jane Austen podia ter mostrado mais a cena do Edward pedindo a Elinor em casamento, poxa, chegou na hora e ela só cortou a cena e contou o que aconteceu depois, achei sacanagem, mas tirando isso eu gostei de como isso se desenrolou. Eu já sabia que eles terminariam juntos por conta de um spoiler que me deram, mas ainda sim fiquei desacreditada, (Como??).
Pode não ser tão boa quanto Orgulho e Preconceito, mas achei uma boa introdução à escrita da Jane Austen. Mesmo sendo uma narrativa que muitos podem achar cansativo, há momentos engraçadinhos, seja pela forma como são apresentados na narração, quanto por cenas um pouco ridículas que acontecem (A Sra Jennings ouvindo a conversa entre a Elinor e o Coronel Brandon e entendendo tudo errado, por exemplo). Eu entendo que esse livro pode não agradar todos, e tá tudo bem!! Razão e Sensibilidade mostra que é difícil viver um romance tendo menos dinheiro do que os outros, ainda mais quando se é mulher na Inglaterra Regencial. Não se pode sonhar alto demais, ou vai cair de cara no chão (e diferente de Marianne, não vai ter ninguém para te catar quando estiver rolando na colina!!), mas também não se pode guardar tudo para si em prol dos outros somente porque o mundo não quer que você mostre que está sofrendo. É importante lembrar que todo mundo tem o direito de ficar de coração partido, mas ao mesmo tempo, não nos rebaixemos por quem não nos merece.