Fabio Shiva 23/11/2019
um de meus favoritos
Acho que todo mundo deveria ter alguns livros favoritos, desses que nunca cansamos de reler. Já perdi a conta de quantas vezes revivi essas amadas “Aventuras de Sherlock Holmes”! Cheguei ao ponto de quase saber de cor alguns dos imortais diálogos trocados entre Holmes e seu fiel escudeiro Watson enquanto deslindavam os mais intrincados e sinistros mistérios...
Quanto às histórias em si, claro que estão gravadas em meu coração. O que não diminui em nada o prazer da leitura, renovado e aumentado a cada vez. Sempre encontro algum novo aprendizado. Dessa vez, por exemplo, me chamou a atenção o fato de as histórias serem conduzidas por um senso de justiça implacável. Não é incomum, nas aventuras de Sherlock Holmes, que o malfeitor seja punido em consequência direta de suas próprias más ações, por uma justiça mais refinada que a dos homens. Mesmo antes de abraçar a doutrina do kardecismo, ao final da vida, Conan Doyle já demonstrava ser bastante sensível à inapelável lei do karma...
Outra surpresa que tive nessa releitura foi constatar o quanto algumas questões abordadas no livro continuam (infelizmente) muito atuais. No conto “A Faixa Malhada”, por exemplo, Holmes afirma:
“Quando um médico desvia-se do bem, torna-se o pior dos criminosos.”
Li essa frase em sincronicidade com algumas tristes reflexões sobre como atualmente a prática da medicina, ao menos em nosso país, está tão emaranhada com interesses financeiros que ficou difícil distinguir o que é medicina e o que é comércio...
Outra sincronicidade chocante foi me deparar, no conto “As Cinco Sementes de Laranja”, com a seguinte descrição da infame KKK:
“Ku, Klux, Klan é o nome derivado da semelhança imaginária com o som produzido ao carregar uma espingarda.”
Será que a obsessão por armas está sempre ligada ao racismo e à intolerância? O nome KKK, com sua associação a armas de fogo, devia evocar o mesmo tipo de prazer pervertido nos capuzes brancos que hoje o símbolo da “arminha” evoca em alguns “cidadãos de bem”, com seu novo partido treisoitão e seu racismo (e homofobia e misoginia e intolerância religiosa etc. etc. etc.) cada vez mais mal disfarçado. Como bom baiano e apreciador de Freud, não posso deixar de pensar que a origem de tanta agressividade mal direcionada só pode estar em sérios problemas sexuais.
E como músico e fã de Sherlock Holmes, só posso concordar com meu herói quando ele diz:
“Não há mais nada a fazer e a dizer hoje mesmo, por isso dê-me meu violino e vamos experimentar esquecer por meia hora esse tempo miserável e o procedimento ainda mais miserável dos nossos semelhantes.”
E viva Sherlock Holmes!
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