Marcella 01/04/2021
Em O Mito da Beleza, Naomi Wolf traz uma análise sobre questões extremamente importantes sobre a obrigatoriedade da beleza das mulheres na sociedade. Através de uma escrita didática e exemplificativa, conhecemos a criação desse mito da beleza, qual sua importância política em relação ao controle das mulheres, e como isso reverbera em todos os temas da sociedade, seja no mercado de trabalho, no capitalismo das empresas de cosméticos, na indústria da cirurgia estética, entre outros.
Primeiramente é necessário ter em mente que este livro foi escrito e publicado em 1990; logo, todas as estatísticas trazidas estão desatualizadas, muitos pontos informados como problemáticos já não são tão latentes na sociedade atual, e outros vários pontos importantes hoje não são abordados pelo livro. Por exemplo, na década de 90 a cirurgia estética teve o seu boom com os implantes mamários; hoje, apesar de ainda serem cirurgias amplamente realizadas, tivemos uma evolução para dezenas de tipos de cirurgias, ainda mais invasivas e mais perigosas (como a atual cirurgia de reconstrução de abdômen). De qualquer forma, a base do mito da beleza, apesar de transformada, ainda é presente na vida das mulheres, muitas vezes de forma velada.
O mito da beleza é apenas uma nova forma de controle da mulher, realizado e incentivado por aqueles que tem interesse em manter a sociedade com seu controle patriarcal.
No começo do século XX, o ideal para a mulher era a domesticidade. Nesta época, a beleza não era vista como a principal característica a ser buscada por elas, mas sim seu comportamento doméstico, cuidados com a casa, com os filhos e com o marido. Quando o primeiro movimento feminista trouxe o direito das mulheres à tona, e estas conseguiram o direito ao voto e ao trabalho, a domesticidade não era mais uma forma eficaz de controle. Era necessário criar algo novo, que tanto criasse lucro como impedisse que a mulher tivesse tempo livre para buscar novos direitos e novas formas de vivência social. Assim, nasce o mito da beleza.
Hoje essa busca pela estética é tão intrínseca que todos nós temos comportamentos considerados “normais” que nunca são questionados. Quando, porém, paramos para analisar pontos banais, um sinal de alerta se acende.
A busca pelo corpo ideal levou e ainda leva milhares de mulheres a problemas como anorexia e bulimia. A gordofobia é algo considerado normal. A indústria de dietas e de cirurgia distorce dados para obrigar o corpo natural e saudável a se sentir doente e buscar uma operação. O marketing da indústria de cosméticos induz ao consumo desenfreado, tentando evitar o inevitável: a velhice, vista como sinal de amadurecimento e respeito no homem, mas como algo terrível na mulher.
O problema não é e nunca foi a aparência em sí, se a mulher é realmente jovem ou não, realmente bela ou não (até por que a beleza é algo subjetivo), mas sim o modo como a mulher se vê e se sente, e o modo como o mito da beleza busca o sofrimento e o usa contra a mulher. O problema não é a busca de cuidados próprios que visam a nos sentirmos bem, que nos voltam amor ao nosso corpo, mas sim a forma como o mito da beleza faz exatamente o contrário: leva as mulheres a se odiarem por não atingirem um padrão irreal, e como isso é apenas mais uma sobrecarga nas tarefas de sua vida. A luta contra esse mito não é obrigar as mulheres a desistirem da beleza, dos cosméticos, dos cuidados estéticos, mas sim que estes sejam uma escolha, e não uma obrigação.
Muita coisa já evoluiu e melhorou desde a época em que este livro foi escrito. Porém, ainda há muita coisa a ser conquistada para uma sociedade melhor e mais igualitária. A luta feminista ainda está longe de ser finalizada.