Artax 21/05/2017Quem quer ser a donzela de ferro?Alguns livros são legais, alguns nem tanto. Alguns te fazem feliz, outros te aborrecem…Mas outros simplesmente mudam a sua forma de enxergar o mundo.
O Mito da Beleza é uma grande referência feminista, pois serve de uma porta de entrada aos mais diversos questionamento a respeito da beleza, e como ela afeta as vidas das mulheres (e dos homens também), em todos os aspectos (sexual, profissional, político, pessoal…). Naomi Wolf consegue ilustrar o Mito de forma bem interessante, por meio da Donzela de Ferro.
A Donzela de Ferro representa o ideal feminino, tudo aquilo que nós, mulheres, deveríamos ser para nos adequarmos ao Mito. O grande problema é que a Donzela, como “ideal”, é uma representação que não condiz com a realidade. E por mais que a mulher tente ser como ela, sofrendo, se privando dos prazeres da vida, se calando, se definhando cada vez mais, ela nunca consegue alcançar a beleza da Donzela. E sempre será julgada por isso.
Mas como o ideal da Donzela de Ferro se sustenta? Por que as mulheres passam fome, se submetem a intervenções cirúrgicas, abdicam do prazer, do conforto e da própria voz na sociedade, tudo em nome de um ideal inalcançável? A resposta encontra-se justamente no Mito. E ele é construído de uma maneira engenhosa, de acordo com os interesses de quem tem a perder com a felicidade e a inteligência das mulheres.
Para argumentar a favor da existência do Mito, Naomi Wolf utiliza-se de uma série de dados estatísticos, causas judiciais e publicidade voltada às mulheres. E o resultado é assustador. Ela não só consegue convencer o leitor de que há algo horrível por trás de uma inocente propaganda de maquiagem, como também lançar um palpite de um futuro próximo. O que é incrível é que muito do que ela sugere no livro (que foi escrito no início da década de 90), de fato já acontece, 20 anos depois.
Quem vê tudo isso de forma superficial tende a propor uma ideia errada a respeito do livro. A lição mais importante a ser aprendida é que a autora não rejeita a beleza. Não é ruim querer se sentir mais bonita. O ruim é ser aprisionada no Mito. É procurar a beleza não para si mesma, mas para alcançar um ideal proposto que não traz satisfação pessoal nem felicidade. É ignorar que é possível ser plenamente satisfeita com o seu próprio corpo, mesmo que tenha uns quilinhos a mais, ou mesmo que não goste de usar salto alto, ou mesmo que prefira deixar os cabelos encaracolados. É não enxergar que a mulher pode ser livre, feliz, inteligente, ativa e competente, sem que precise parecer uma “obra de arte” e sem ser julgada por isso.