Ramires6 11/05/2011"Uma emocionante celebração da vitória do amor sobre o tempo"Comprei este livro, na última Bienal do Livro de São Paulo, por três motivos: por ter gostado da capa, por ter achado o título interessante e por ser uma publicação da Suma de Letras (que tem lançado excelentes títulos ultimamente). Após sair do stand com ele na sacolinha (junto a “O Jogo do Anjo” e “O Livro Perdido das Bruxas de Salem”, todos da Suma de Letras) a sombra de uma dúvida passou pelo meu rosto: e se fosse um daqueles livros de “mulherzinha”? Sabe, do tipo que a Nora Roberts escreve, ensinando receitas de cozinha; ou como a Marion Zimmer Bradley, descrevendo como a personagem se sente triste e só quando seu amado está distante? Afinal de contas, a autora é mulher (Audrey Niffenegger é uma americana de 47 anos que, aparentemente, se idealizou como protagonista da estória) e o livro é sobre a mulher do viajante…
Nas primeiras páginas da história de Clare e Henry, percebi que meus receios eram infundados: apesar das situações corriqueiras, o modo de escrita, intercalando os pontos de vista dos protagonistas, torna a leitura extremamente dinâmica. Apesar do inusitado da viagem no tempo (e isto não é spoiler, pois na primeira página do livro já é explicado o fenômeno que ocorre com Henry), a autora opta por manter a estrutura cronológica da estória baseada na vida de Clare, o que, tendo em vista as acrobacias temporais realizadas por Henry, é a única forma de dar sentido à narrativa.
Situações constrangedoras, cômicas, melancólicas, tensas, sexuais ou violentas, todas são tratadas com muita habilidade e coerência, sendo bem explanadas e em tópicos curtos e objetivos, que permitem que o leitor não se sinta cansado ao ler, por exemplo, quais os tipos de música preferidos pelos personagens, ou o passo-a-passo para se confeccionar uma escultura em papel.
Mas, independentemente de críticas como do Chicago Tribune, que define o livro como “Uma emocionante celebração da vitória do amor sobre o tempo”, A Mulher do Viajante no Tempo é na verdade uma excelente estória de ficção que presenteia o leitor com incríveis acontecimentos em diferentes locais e épocas em um curto espaço de tempo (desculpem o trocadilho).
Àqueles que detestam a mesmice e o clichê, essa é uma obra de contexto inusitado e que merece ser devorada pelos aficionados da originalidade, seja do ponto de vista da singularidade da anomalia genética e suas conseqüências à qual Henry é condenado (inclusive pelo fato de incidir diretamente no futuro e modo de vida de Clare), seja pela visão estrutural de escrita (com breves blocos de informação situados em locais e épocas distintos e descritos por um ou outro dos protagonistas).
A Mulher do Viajante do Tempo é uma leitura fácil e gostosa, que nos leva a ponderar até que ponto um dom incomum pode ser favorável e desejável (quem nunca se imaginou voltando no tempo para desfazer alguma bobagem ou se deslocando até o futuro para copiar os resultados da loteria?). Eu li e gostei, e classifico este livro como uma grata surpresa para alguém que teve acesso às suas páginas baseado apenas em um título interessante e uma capa bonita.
Filme: Àqueles que preferem assistir o filme ao invés de ler o livro, ou que gostam de fazer comparações entre a idéia original do autor e sua adaptação à telinha, “The Time Traveler’s Wife” foi transformado em filme em 2009 pela Warner Home Video. Contando com as brilhantes atuações de Rachel McAdams (Sherlock Holmes) como Clare Abshire e de Eric Bana (Hulk) como Henry DeTamble, o filme foi dirigido por Robert Schwentke e teve seu título traduzido no Brasil para “Te amarei para sempre“.
Esta resenha foi publicada originalmente no site Leio e indico em 03/11/2010.