Coruja 25/05/2011Estou apaixonada. Simplesmente apaixonada. Quero partir para Fantasia. Quero viver aventuras ao lado de Atreiú. Quero voar aconchegada ao pescoço de Fuchur. Quero admirar a Imperatriz Criança, a Filha da Lua, Senhora dos Desejos, a dos olhos dourados. Quero contemplar Amargante e perder-me em sua biblioteca. Quero... quero...
Gostaria de saber porque não li esse livro antes.
Claro que assisti o filme. A História sem Fim é um clássico da Sessão da Tarde, tendo sido reprisado dezenas e dezenas de vezes. Bons tempos aqueles em que se revezavam O Feitiço de Áquila, Gremlins, O Jardim Secreto, A Princesinha... Curtindo a Vida Adoidado! Quero ser Grande, com sua inesquecível cena do teclado! Um Morto muito Louco! Goonies! De Volta para o Futuro! INDIANA JONES!!!!
Ok, deixa eu parar a sessão nostalgia por aqui, ou vamos ficar só nisso pelo resto do dia... Voltemos ao tópico principal... o caso é que, assisti o filme; como quase toda criança, queria um Falkor pra mim; mas não fazia nem idéia de que existia um livro com a história do filme – do contrário, teria procurado ele bem mais cedo...
História sem Fim será, sem dúvida, um dos livros que lerei para minha filha imaginária num futuro muito, muito distante (e imaginária, porque, a princípio, pretendo seguir o exemplo do Brás Cubas).
Bastian Baltasar Bux é um menino bastante comum. Ele não é particularmente inteligente, particularmente atlético ou particularmente popular. Perdeu a mãe não faz muito tempo e vive sozinho com o pai, que parece ter se anulado após a morte da esposa. Sofre constantemente nas mãos dos colegas de escola por ser gordinho e desajeitado. Como aluno, é apenas mediano, o que significa que não é um grande favorito dos professores, que também se comprazem em humilhá-lo em sala de vez em quando.
Até que, um dia, ao fugir dos colegas, ele acaba indo se esconder numa pequena loja, onde se depara com um velho resmungão... e um livro. Não um livro, na verdade, mas O Livro. A História sem Fim.
Se Bastian tem alguma paixão na vida, essa paixão são os livros... e as histórias. Aquele livro, com a promessa de uma história que nunca chega ao fim, encanta-o. E é assim que o garoto acaba por roubar o livro, enfiando-se no sótão esquecido da escola para poder lê-lo, crente que após sua transgressão, jamais poderá voltar para casa.
De certa forma, Bastian tem razão. Ao terminar sua leitura, ele estará completamente mudado. Dentro do livro, ele viveu muitas eras e muitas vidas. Ao voltar para casa, para sua vida de antes, traz consigo tudo aquilo que aprendeu em Fantasia.
É um processo parecido com o dos irmãos Pevensie, de Lewis: reis e rainhas de Nárnia, que acumulam a vivência que tiveram no mundo de Aslam à sua vida comum. São, todos eles, crianças com olhos que viram muito além de seus anos.
A História sem Fim são muitas histórias que se encontram – e algumas, deixadas a terminar, convidam o leitor a, como Bastian, participar da criação de Fantasia. Todos nós, ao acompanharmos as aventuras dele, de Atreiú e Fuchur; todos também damos à Imperatriz Criança um novo nome – e com isso resta assegurada a continuidade de Fantasia.
Faz-me lembrar de Peter Pan, pedindo que as crianças o ajudem a salvar Sininho: o bater palmas enquanto recita "eu acredito em fadas!" é um equivalente à necessidade do novo nome, e tudo o mais se resume à idéia de que precisamos crer para que o encanto resista.
É um livro de personagens apaixonantes, sem maniqueísmos, aberto a inúmeras, infinitas interpretações. Um livro para se ler e reler e continuar em nossa imaginação... uma história sem fim, sem barreiras, sem idades.
Eterna.