MiCandeloro 13/08/2015
Divertido, emocionante e reflexivo!
Audrey era uma jovem de 14 anos aparentemente normal, mas depois de passar por sérios problemas no colégio, sucumbiu a um quadro de depressão que afetou não só a sua vida, mas a de toda a sua família também.
Depois de ser vítima de bullying, Audrey não conseguiu mais sair de casa. Não voltou às aulas, isolou-se do contato social, passou a usar óculos escuros em todas as ocasiões e as consultas com a psicoterapeuta tornaram-se parte de sua rotina.
Fazia meses desde que Audrey havia se isolado em seu mundinho, e não parecia haver nenhum indício de melhora na situação da garota. O problema é que ela não poderia ficar assim para sempre, Audrey precisava reagir, afinal, faltava pouco tempo para o ano letivo recomeçar, e a menina teria que voltar a enfrentar o mundo lá fora.
Desde que Audrey adoecera, a vida de Anne virou de cabeça para baixo. Além de ter que largar o emprego para poder cuidar integralmente da filha, se viu em meio a uma batalha sem fim com Frank, seu outro filho adolescente, que só queria saber de jogar Land of Conquerors.
Anne estava cansada de pedir para que ele parasse de jogar e fosse fazer outra coisa. Frank estava literalmente viciado e Anne se preocupava com a sua saúde mental e física. Não adiantava tentar ser legal, Frank abusava da boa vontade da mãe e se utilizava de subterfúgios para driblar seus castigos. Com isso, Anne chegou ao seu limite e acabou tomando uma atitude muito drástica na tentativa de refrear os maus hábitos do filho.
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
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À procura de Audrey é a estreia da autora Sophie Kinsella na literatura jovem adulta, e posso dizer, ela não poderia ter começado de forma melhor. Sophie é a minha diva do chick-lit, e não importa para qual público os seus livros sejam direcionados, ela arrasa sempre.
Narrado em primeira pessoa, por Audrey, a escrita da autora é tão intimista que parece que estamos ora conversando com a personagem, ora invadindo seus pensamentos e sentimentos mais profundos. Por meio dos relatos da garota, foi possível sentir o seu real sofrimento e compartilhar dos seus ataques de pânico e momentos de confusão emocional. Apesar de conter algumas passagens tristes e melancólicas, o texto é tão lindo, tão delicado e contém um humor negro tão delicioso, tipicamente britânico que tanto amo, que foi impossível não me sentir tocada pela história da protagonista.
Audrey sofre de transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada e episódios depressivos, e depois de muita terapia, lhe foi proposto um desafio de filmar o dia a dia de sua família, a fim de, devagarzinho, voltar a interagir com as outras pessoas. Audrey intitulou esse documentário, ironicamente, como "Minha serena e amorosa família".
Como fica inviável "vermos" os vídeos, Sophie nos apresenta as transcrições das filmagens como se fosse um roteiro de cinema. Esses registros são demais, já que representam perfeitamente o retrato da família que não se entende e não fala a mesma língua. Por mais que esta perspectiva seja meio deprimente, infelizmente ela é real dentro de muitos lares.
Nesta obra, Kinsella aborda três temáticas muito significativas para os dias de hoje: o bullying, os jogos eletrônicos e a falta de diálogo e familiaridade entre pais e filhos.
Quanto ao bullying, a autora inovou, na minha concepção, na medida em que não enfocou nas violências sofridas por Audrey. Todos nós sabemos o quanto os adolescentes podem ser cruéis, portanto, não precisamos nos inteirar literalmente acerca do que ocorreu com ela. É fácil de imaginar. Entretanto, foi a primeira vez que li exclusivamente sobre as consequências do bullying e seus efeitos nefastos para a vítima e seus familiares. Acredito, ou ao menos espero, que um relato como esse iniba essa prática tão desumana por parte dos valentões que vierem a ler o livro.
Em relação aos jogos eletrônicos, Sophie debateu os dois lados da moeda, tanto de Frank, que não vê mal algum em ficar mais de 10 horas consecutivas jogando no computador e que insiste em que ser gamer é uma nova profissão na qual ele pode vir a se dar bem; quanto de Anne, que fica horrorizada ao ver seu filho "viciado", tendo seu desenvolvimento neurológico e físico "prejudicado" em razão dos "maus hábitos" ocasionados pelos games. E aí, com quem concordar?
Pois bem, eu me senti completamente dividida nesse assunto. Por um lado, como mãe, acho danoso expor às crianças à tecnologia desde cedo, já que cada vez mais estamos vendo uma geração de alienados surgir por aí. Por outro, eu trabalho justamente com isso, portanto, como posso querer dar uma lição de moral nesses jovens que não se desconectam do mundo virtual?
Sim, eu sou gamer, sim, tenho um canal de jogos no Youtube com o meu marido e sim, passo horas a fio senão jogando, gravando e editando meus vídeos. Acontece que sou adulta, que encaro os games de maneira profissional e consigo conciliar a minha vida com outras atividades e responsabilidades, coisa que não costumamos ver nos adolescentes.
Nesse sentido, a única solução que vislumbro é encontrar um meio termo entre jogar e viver a vida fora das telas. Mas, para que isso funcione, acho necessário haver o envolvimento dos pais na vida dos filhos, não só compartilhando dos seus gostos, como os ensinando práticas mais saudáveis.
Como tornar isso possível quando os pais geralmente trabalham o dia todo fora de casa, não conhecem seus filhos de verdade e quando têm um tempo com eles, costumam exercer papéis completamente ditatoriais, como fazia Anne?
Na minha visão, Sophie nos deu exemplos excelentes de como não devemos agir como pais e como atitudes drásticas e radicais, além de explosivas, podem nos afastar ainda mais dos nossos filhos, criando um abismo que, muitas vezes, pode se tornar intransponível.
Bom, vocês puderam perceber que assunto é o que não vai faltar para vocês pensarem a respeito enquanto estiverem lendo este exemplar. E posso garantir, junto a tudo isso, irão se emocionar, rir muito, se encantar pelos personagens e se deliciar com um final digno de Sophie Kinsella.
Leiam À Procura de Audrey e descubram que nenhum obstáculo é insuperável quando temos com quem contar. Por mais que a vida seja feita de altos e baixos, são nos períodos mais negros que descobrimos a nossa verdadeira força para seguir em frente.
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