spoiler visualizarXanda 16/12/2021
O LIVRO COM OS PERSONAGENS MAIS CATIVANTES DA SÉRIE
Um dos melhores dessa série, definitivamente! Leitura bem leve e viciante, que avança sem problemas. O livro é bem engraçadinho (aquela comédia bem simples e deliciosa que a Tessa já está acostumada a entregar), a conexão que o casal tem é ótima e o desenvolvimento do romance também é bem tecido. Plots clichês que eu amo estão presentes aqui desde as primeiras linhas apresentando aquele casal que é só briguinhas de cão e gato desde sempre e agora precisam conviver um com o outro para conseguir o que querem. Nesse enredo tem também o elemento do relacionamento falso (amo), e da viagem tortuosa cheia de altos e baixos, bandidos, aventuras e quartos de taverna a serem divididos.
Generalizando e olhando por cima eu diria que o livro é incrível, mas analisando ele com cuidado e lembrando de como me senti lendo, acabado me sentindo na obrigação de atestar que me incomodou um pouco as possíveis tentativas de feminismo nesse livro. Eu concordo que é muito legal e saudável tecer algumas situações que se apresentaram no livro dentro desse aspecto, como por exemplo o envolvimento de mulheres e ciência, junto da reflexão sobre o papel e o lugar da mulher na sociedade. Só que, no meu ponto de vista, esse discurso que a autora elaborou foi praticamente anulado quando esse plot muitas vezes foi deixado de lado e principalmente pelo fato de que em determinado ponto do enredo a Minerva escolhe o Collin em detrimento do seu trabalho, inclusive sem conseguir apresentar a sua pesquisa decentemente e o pouco que conseguiu atingir de seu objetivo vem com os créditos da ajuda e da insistência do Collin pois ela havia desistido. Poderia ter sido muito pior desenvolvido e refletido, as ações de ambos inclusive, e vejo que a autora tentou equilibrar ambos os lados, mas mesmo assim me causa um leve desconforto. A Tessa Dare, diferente de outras autoras, tenta muito (e em parte é por isso que ainda estou lendo os livros dela) entregar personagens inusitadas para o período histórico (a exemplo da Minerva, a geóloga), desromantização do corpo perfeito, representatividade de vários grupos, etc mas nem sempre o que ela faz parece ser o suficiente, sempre tudo muito superficial.
A Minerva é a desajustada da sociedade, aquele clichezão de sempre onde a personagem é meio isolada, muito estudiosa, e todo mundo acha ela feia por causa de uns óculos. A autora não faz nem questão de amenizar. Quando comecei o livro e ela estava descrevendo a Minerva de maneira tão generalizada e estereotipada já me deu um rebuliço no estômago sobre a preguiça da autora. Mas depois foi uma personagem que desceu bem até demais. O começo foi bem forçado e clichê, mas depois assentou, assim como o desenvolvimento dela passou a ser mais sutil e gradual, onde ela vai criando mais coragem, se permite ser mais calorosa, e principalmente aceitando que está realmente tudo bem ela ser essa pessoa mais autônoma, dura e decidida que ela é. Tem um complexo muito interessante e bem trabalhado na Minerva que é o fato de ela ser naturalmente confiante de suas capacidades, mas ao mesmo tempo insegura e ansiosa socialmente, porque não consegue e não deseja portar-se da maneira que lhe foi imposta para as mulheres de sua época, nem sofrer as consequências da rejeição. O motivo do desprezo dos personagens com relação a Minerva obviamente não são apenas porque lhe falta delicadeza, mas por juntar a imagem da mulher à adjetivos como inteligência, confiança e ambição, e a autora sobre ressaltar isso. A Min é genuinamente muito inteligente, insistente e pulso firme, por isso não teria como não ter caído no meu gosto, faz facilmente parte do meu hall de favoritos da série pela personalidade e contribuição.
Criativo, sarcástico, debochado, inteligente e charmoso, o nerd em segredo que é o Collin me cativou demais. Ele é um personagem que eu AMO, mas que precisava ter tido um desenvolvimento mais cuidadoso e sutil entre sua versão do primeiro livro e a trajetória que ele tem aqui. Isso é uma das poucas coisas que estragam um pouco o personagem dele, a outra é que as vezes ele pisa um pouquinho fora da linha com relação a sentimentos de possessividade e proteção à mocinha. Aqueles acontecimentos do primeiro livro envolvendo o personagem dele, aos quais achei bastante toscos, infantis, esdrúxulos e preguiçosos se provaram como uma decisão intencional e não como uma falha completa da autora, uma vez que a atitude machista do Colin se prova na sua maior parte como uma fachada falsa, um personagem que ele criou na “necessidade” (lê-se danos psicológicos) de receber atenção mesmo que negativa, se auto punir, etc. Com tal propósito, não teria mesmo porque o Colin esforçar-se em agir com mais realismo, naturalidade e complexidade. Pelo que eu entendi ele é um personagem meio raso no primeiro livro porque a personalidade dele de verdade não estava nem exposta ainda. No entanto, mesmo nesse sentido, ainda acho que a autora deveria ter encontrado um meio termo mais satisfatório de apresentar isso. Como últimos comentários a respeito dele, destaco que o motivo do personagem do Colin ser tão interessante é justamente porque ele é vários personagens em um, uma vez que ele constantemente cria novas identidades para se divertir, conseguir o que quer, se safar de seus b.o., etc. As identidades falsas que o Colin dá para si e para a Minerva e as histórias que ele inventa para esses personagens são hilárias e só demonstram o grande potencial criativo que ele tem (na minha opinião esse homem tinha que sentar e tentar escrever um livro - eu leria).
O romance aqui até pode ter uma química ótima, mas ainda é um clássico repetido de mocinha curando os traumas do mocinho. Aquele plot meio sem pé nem cabeça (e possivelmente nocivo) de que com a pessoa certa todos os seus defeitos e traumas serão minimizados da noite para o dia. Collin infelizmente entra nessa lista de mocinhos que teve uma vida de libertinagem e todas as mulheres que ele transou sofreram em algum nível objetificação de seus corpos, mas o jeito da mocinha é mágico o bastante para fazê-lo querer mudar de vida, a presença dela já o torna outra pessoa – até um feministo, transar com ela é sobre amor e não tesão pela primeira vez e contar para ela uma única vez sobre suas inseguranças, passado trágico, medos e traumas já equivale à sete anos de terapia. E isso me incomoda bastante, embora eu tenha conseguido abstrair e suportar.
No geral eu recomendo muito esse livro porque ele é engraçado e os personagens possuem trocas muito boas, é bem escrito (para o padrão que a autora apresentou em outros de seus livros, que eu particularmente não gosto) e razoavelmente bem desenvolvido. No entanto tem todos esses pontos negativos que elenquei, que devem ser relevados na leitura, mas debatidos entre mulheres depois dela, alguns inclusive que demandam certa paciência quando aparecem nos capítulos, o que acaba pesando um pouco na avaliação do livro.