Aione
28/11/2018O Jardim Esquecido foi meu segundo contato com as obras de Kate Morton, iniciado por A Casa do Lago. O segundo livro publicado da autora foi primeiramente trazido para o Brasil pela editora Rocco, sob o título O Jardim Secreto de Eliza, recebendo agora uma nova edição pela Arqueiro.
Após a morte da avó, Cassandra recebe de herança um chalé na Cornualha e a notícia de que Ness tinha um passado misterioso. Em uma tentativa de descobrir os segredos de sua família, ela parte para a Inglaterra tendo como única pista um livro infantil de contos de fadas escrito por Eliza Makepiece, que pertencia à Nell.
Assim como em minha outra leitura de Kate Morton, encontrei em O Jardim Esquecido uma narrativa repleta de esmero: cenários, eventos e personagens são construídos com cuidado e detalhamento, de maneira que o livro se desenvolva com mais calma. Da mesma forma que em A Casa do Lago, a leitura é mais lenta justamente por toda sua riqueza de informações, ainda que, agora, meu envolvimento inicial tenha sido menor do que da primeira vez, na qual devorei o livro mesmo com sua densidade de informações.
E as semelhanças continuam, indicando ser esse o estilo da autora: aqui também há narrativas alternadas em épocas diferentes, de maneira a acompanharmos perspectivas de personagens diferentes em contextos também diferentes. Enquanto Cassandra investiga, em 2005 o passado da avó, vemos Ness em 1975 em busca de suas próprias origens e, paralelamente, temos a perspectiva de Eliza no início dos anos 1900, o que faz de sua história mais próxima do leitor, uma vez que ele pode acompanhá-la diretamente e não apenas pelas descobertas de Cassandra e Ness. Ao alternar os pontos de vista e as épocas, Kate Morton constrói o enredo de forma mais elaborada, mantendo o suspense em doses exatas e criando um jogo muito bem elaborado na medida em que as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. Também, drama e romance aparecem bem concatenados, dando à leitura seu toque emocional.
Outra semelhança com A Casa do Lago é que O Jardim Esquecido também traz em seu conteúdo uma personagem escritora e, em ambos os casos, o fazer poético das personagens acaba se interligando com a história contada por Morton, dando às obras um aspecto, em partes, metalinguístico. Também, se A Casa do Lago me remeteu a obras como Reparação, de Ian McEwan, e Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, de Stieg Larsson, O Jardim Esquecido certamente teve seus tons de O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett.
Devo confessar que O Jardim Esquecido me impactou muito menos do que a outra obra da autora, uma das minhas melhores leituras em 2017. Talvez, por meu envolvimento inicial ter sido menor, eu tenha demorado mais para ingressar no universo das personagens, ao mesmo tempo em que, dessa vez, as revelações também me pareceram menos surpreendentes. De qualquer maneira, mais uma vez me encantei pela leitura, especialmente pelo livro ser tão bem construído e por trazer personagens tão palpáveis. Há um quê de magia que permeia a história, bem como há uma doçura na forma de Kate Morton narrá-la, e tais elementos certamente tornaram meu contato com a obra delicado e extremamente prazeroso.
site:
https://www.minhavidaliteraria.com.br/2018/11/27/resenha-o-jardim-esquecido-kate-morton/