Manuella_3 10/09/2014
Essa trama enredada que é a vida...
Uma menina de quatro anos encontrada sozinha num navio que partiu da Inglaterra rumo à Austrália. Uma escritora de livros infantis que sumiu, misteriosamente. Uma mulher que tenta reunir os pedaços da vida da avó e descobrir os mistérios que cercaram sua infância. Eis um quebra-cabeça que Kate Morton nos desafia a montar e que, com sensibilidade, percorrerá as mais de 500 páginas. Deixando o leitor cheio de expectativas, as vidas dessas mulheres vão sendo costuradas lentamente pela autora, num vaivém do tempo, com alguma nostalgia, muita tensão e surpresas reveladoras.
O livro começa com o drama da garotinha Nell, abandonada no navio no começo do século XX, com uma mala na mão e um livro de contos infantis. É o grande mistério do livro: quem a deixou lá e por quê? Já madura, em 1975, Nell parte para a Inglaterra, em busca de sua
história. Então conheceremos Eliza, a autora de livros infantis, de infância muito sofrida, resgatada pelo tio e levada para a Mansão Blackhurst, uma propriedade que guarda muitos segredos...
Além dessas duas mulheres, há Cassandra, a neta de Nell, que refaz o caminho da avó em busca da solução do mistério ainda não solucionado. Ao receber como herança um chalé na Inglaterra, a personagem torna-se a maestrina da narrativa, amarrando as pontas soltas do enigma, encontrando as peças fundamentais para recontar a verdade sobre a vida de Nell. Com um diário da avó na mão, Cassandra vai descobrir bem mais que o passado obscuro da avó: é uma viagem de autoconhecimento, também.
É um livro para ler com atenção, pois são muitos os detalhes. A autora avança e recua no tempo em cada capítulo, alternando as histórias das três mulheres, além das personagens secundárias e igualmente importantes na trama. Essa estrutura narrativa é muito rica e interessante, amplia a visão do leitor e, ao mesmo tempo, joga pistas como iscas (nem sempre verdadeiras) e revela segredos.
A autora faz referência aos contos de fadas através da personagem Adeline, uma figura arquetípica da madrasta má, amargurada e invejosa, manipuladora e cruel. Além de inserir no livro os contos que Eliza escreve.
Foi uma leitura maravilhosa e instigante pelos mistérios e descobertas, encantadora pelas descrições belíssimas dos lugares, como o jardim secreto e o chalé do penhasco. É um deleite para quem ‘viaja’ numa descrição bem feita - e esta é uma habilidade da autora. Para quem prefere o mistério e o suspense, as doses de tensão são bem generosas.
Além das emoções da narrativa, as personagens femininas são muito fortes, cada uma a seu modo. Entre alegrias e decepções, todas revelarão suas verdades e encontrarão caminhos um tanto espinhosos, sofridos, mas que caberão perfeitamente nessa trama enredada que também é a vida.
Quero todos os outros livros da autora. Merecidas cinco estrelas!
Resenha publicada no blog Ler para Divertir:
http://www.lerparadivertir.com/2014/06/o-jardim-secreto-de-eliza-kate-morton.html