Lucas Viapiana 01/03/2020
"O Fogo queima, mas purifica também. É preciso passar por ele."
Se Tempo do Desprezo é o início do fim, Batismo de Fogo é o apocalipse. De fato guerra, fome, doença e morte são os principais agentes motores desse livro.
Ciri aparece pouco e Yennefer menos ainda. Batismo de Fogo foca principalmente em Geralt e sua improvável companhia, um bando de personagens muito diferentes e por vezes até hostis uns aos outros, que se junta por duas causas comuns: sobreviver e achar Ciri. O livro tem um tom de superação e desenvolvimento pessoal. Geralt, mesmo gravemente ferido e mal recuperado, é orgulhoso e teimoso; quer viajar sozinho e tem enorme dificuldade em lidar com o fato de que sim, há pessoas que se importam com ele, que o consideram um amigo e que viajariam com ele, mesmo arriscando suas próprias vidas. Outro ponto que traz essa ideia de superação é o fogo, elemento recorrente ao longo do livro. O batismo de fogo, termo que comumente significa “a primeira batalha de alguém”, vai além desse significado direto; também representa o passar pela dor e pelo trauma, o deixar queimar-se, para sair das chamas mais forte do que antes.
Também há outros temas secundários interessantes. Um deles é a desmistificação do vampiro; e como muitas das histórias e lendas sobre esse arquétipo são ridículas (ao menos no mundo de Sapkowski). Outro é o contraste entre as diferentes classes sociais e posições de poder quando confrontadas com uma calamidade como a guerra. Enquanto os camponeses são massacrados, convivendo diariamente com as piores misérias físicas e mentais possíveis, pequenos grupos de poderosos se encontram em torres de marfim bem estocadas com comidas finas e vinhos, e discutem se talvez a guerra não seja algo bom a longo prazo, afinal, menos gente significa menos bocas a ser alimentadas.
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