Lucas 24/03/2022
Um episódio filler focado no desenvolvimento de personagens
"E eu por acaso vou lhe conceder este predicado: Geralt de Rívia. Ha, ha."
Apesar desse livro parecer um episódio filler em que os personagens não conquistam nenhum dos seus objetivos e não chegam a lugar nenhum, ficando só perambulando por aí, considero esse o melhor livro da série... até agora: Andrzej apresenta a sua melhor escrita e sabe desenvolver os personagens como nunca.
Mesmo a história não indo a lugar nenhum, alguns dos personagens, ao contrário, crescem como nunca. A trupe de Geralt e o desenvolvimento de cada personagem novo é muito bem desenvolvida. O personagem principal se mostra como um ser humano como qualquer outro: cheio de falhas, cabeça dura, orgulhoso mas, ao mesmo tempo, honroso e que aprende com os próprios erros. Enquanto isso, quando Ciri aparece, é só para situar aonde está e servir como um mcguffin para todos os personagens principais. E Yennefer então que só aparece para desaparecer de novo? Entretanto, sua participação tem certa importância para observarmos o surgimento da Loja das Bruxas, um grupo que promete ser de extrema importância nos acontecimentos que devem levar a reta final da saga.
A política da saga, como sempre, é muito confusa. Por um lado, tem livro que o autor joga tanta história e apresenta tantos personagens políticos de uma vez só que fica mais confuso e pesado que As Crônicas de Gelo e Fogo, por outro lado, quando ele escreve um livro como esse - em que os políticos já estão estabelecidos e sua história é menos explorada - você entende que tem que aceitar e seguir em frente, já que a política desse mundo nesse ponto é só um plano de fundo para a história maior de Geralt e Ciri. É claro que as consequências das tramas políticas se mostram bem claras nesse livro: por todo lado que os personagens andam existem consequências da guerra.
Importante ressaltar que o livro de Andrzej Sapkowski, um polonês, envelheceu muito bem em pleno 2022: como os personagens criticam a guerra e as ações de conquista do ser humano, além das ações "diplomáticas" que Nilfgaard apresenta perante outros líderes de estado. As ações, atitudes e objetivos de Nilfgaard e o que eles estão causando com as pessoas por todo o continente podem ser muito bem comparadas com as atitudes da Rússia contra a Ucrânia em pleno 2022: quando diplomatas de Nilfgaard vão prestar contas diante de líderes de outros estados - os quais eles nunca conseguiriam e nem tem interesse de conquistar - negam qualquer envolvimento em invasões de pontos estratégicos que poderiam colocá-los em conflito com poderes maiores; e ainda tentam usar da diplomacia e burocracia para justificar seus atos como legais, ao mesmo tempo em que eles invadem, destroem e conquistam reinos menores que acabam sendo anexados ao seu grande Império.
Destaque para Milva e Regis, os melhores personagens criados por Andrzej até o momento. Regis é o exemplo do tipo de personagem que o autor gosta de explorar nesse universo: aquele tido como monstro por todos mas que, no final das contas, conta uma história que o torna mais humano do que todos aqueles que o julgavam.