Resenhas - Caim

Badlagirl 27/08/2022

José Saramago reconta episódios bíblicos do Velho Testamento sob o ponto de vista de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com deus e parte numa jornada que o levará do jardim do Éden aos mais recônditos confins da criação.
Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura. No trajeto, o leitor revisitará episódios bíblicos conhecidos, mas sob uma perspectiva inteiramente diferente.
Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.

Bastante polêmico.
Não há outra definição.
Saramago é incrível em suas obras, sua escrita e ideias.

dionisocastro 07/08/2022

Depois de ler o sagrado, fui logo atrás do profano. Saramago é um nome que tenho enrolado para ler faz um bom tempo e, apesar da nota baixa, foi uma ótima experiência. Os pontos mais positivos do livro são certamente o jeito que o autor escreve, com total desrespeito às regras clássicas, mas que conferem ao livro o ritmo que ele precisa. Esse é mais um exemplo de como se pode usar as palavras em tudo o que elas nos podem oferecer.

Eu estava ainda no meio da minha leitura do pentateuco quando comecei esse, mas a maior parte dos eventos retratados aqui, eu já havia lido no material fonte. Acho interessante a releitura e a forma como Saramago critica diversas questões da bíblia, mas para mim, o livro não vai muito além disso.

Assim, acredito que vou me interessar bem mais por outros livros de Saramago, principalmente por ter me apaixonado completamente pela sua forma de escrever. Por outro lado, esse livro em específico não funcionou tanto para mim. Sinto que como uma crítica à Bíblia em forma ensaística e desconstruindo os personagens, o livro deixa muito a desejar. Gostaria de ver essa história alcançando todo o potencial que eu acredito que ela tenha.

fepopi 04/08/2022

Decepcionante
Já li outros de Saramago, e esse foi o mais complicado (no sentido ruim). A história ficou muito viajada depois que Caim começou a passar por partes da bíblia. Não parece um livro do Saramago; peguei para ler porque admiro o autor, mas perdi meu tempo.

heymilak 18/07/2022

Caim
Entre questões existencialistas a sátiras contra a autoridade divina e o destino, José Saramago escreve sua versão do que seria a ?verdadeira? história do Gênesis.
A figura de Deus é constantemente criticada devido a tirania do criador do mundo, que muitas vezes usou arbitrariamente do seu poder para penalizar a sua principal criação, sendo acusado por Caim de sentir inveja da vida dos humanos e por isso, tenta intervir por meio de dogmas e maldições na vida dos mesmos.
Caim, por sua vez, é a figura que se contraria a autoridade e despotismo divino, dedicando-se sempre à desafia-lo e a interromper os seus planos. Caim é a representação pura de um ser humano realmente livre, já que não segue a vontade de Deus, podendo usufruir dos prazeres do corpo e da alma, sem carregar consigo a culpa, que é inerente ao cristão.
A leitura é rápida e leve, que como um bom livro, te prende nesse passado bíblico (ou ?outro presente? como diria Saramago) e traz uma ótima reflexão acerca das crenças religiosas e da própria existência humana.

Erich 11/07/2022

Uma bela releitura do velho testamento. Acompanhamos o trajeto de Caim, condenado a vagar eternamente. Mas ele vaga não só pelo espaço, como também pelo tempo. E tem assim a oportunidade de presenciar várias das atuações de deus ao longo dos séculos. Pelos olhos de Caim vemos o deus se revelando como um ser ou insano (ou maligno), que mata sem pudor e dá ordens sem avaliar as consequências às pessoas. A culpa de Caim, que assassinou o irmão, é comparada aos poucos com a culpa de deus, que constantemente mata aos homens como formigas.

Otávio - @vendavaldelivros 08/07/2022

“O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraaão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado.”

Último romance lançado com o autor ainda vivo, Caim é mais uma das obras marcantes, polêmicas e encantadoras do português José Saramago. Publicado em 2009, um ano antes de seu falecimento, o livro narra a história do assassino de Abel, sua origem, sua relação com o irmão e, principalmente, sua relação com Deus e com os principais acontecimentos bíblicos do Antigo Testamento.

É sempre um prazer ler Saramago, não à toa o português é um dos meus autores favoritos e de tantas pessoas. Essa é minha segunda experiência com um romance seu que se aventura nas histórias bíblicas. E se em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” sua acidez e bom humor já eram marcantes, em Caim essas características ficam ainda mais expostas, o que torna o livro até mais gostoso de ser lido.

Na história, narrada por um narrador onisciente e que frequentemente quebra a barreira e se comunica com o leitor, conhecemos a história de Adão e Eva, sua expulsão do paraíso e, consequentemente, de seus filhos, nesse caso em especial, Caim e Abel.

Após o assassinato de Abel pelas mãos do irmão, Caim recebe a marca de Deus e passa a vagar pelo tempo e pelo espaço, estando presente, junto com seu jumento, de importantes passagens bíblicas como a construção da Torre de Babel, o cerco de Jericó, o sacrifício de Abraaão e o grande dilúvio. Em todos esses momentos Caim se destaca, com seu ceticismo em relação à grande bondade de Deus e suas motivações.

É óbvio que a obra tem total influência do ateísmo e das críticas costumazes de Saramago ao Cristianismo e, particularmente, são esses questionamentos ácidos as partes mais engraçadas do livro. Uma crítica que visa a racionalidade de conceitos tão consolidados dentro da religião, mas sempre com o bom humor que só um gênio como Saramago era capaz de fazer. O único defeito é que termina rápido demais, merecia o dobro de páginas.

Catharina 05/07/2022

Caim
Primeiramente, achei a escrita muito estranha, não gostei do fato do livro não seguir as regras básicas de pontuação do Português (tem parágrafos enormes, muitas vírgulas, falas escritas sem aspas nem travessão etc.), mas é um livro interessante. Ele é legal e até mesmo intrigante, o que me surpreendeu muito porque não esperava que fosse um livro bom. É interessante e diferente de qualquer outra coisa que já li. Também gostei do jeito que a história foi contada, do humor ácido e dos conteúdos polêmicos.

Ana Val 28/06/2022

Nem tão bondoso assim
Exposed party de Deus como um verdadeiro c*zao que é no velho testamento. Caim viaja (inclusive no tempo) presenciando grandes acontecimentos da Bíblia e expõe a crueldade presente nas ações divinas. O final pra mim é perfeito, Saramago definitivamente sabe como terminar livros em grande estilo.

Isrrael Reis 24/06/2022

Eu me encontro nesse momento num estado de surto interno
Eu me interessei há muito tempo para ler esse livro, mas só tive condições financeiras agora porque o livro finalmente entrou em promoção e eu pude comprar. Eu já sabia que a escrita de Saramago em primeira vista pode ser desafiadora e desconexa, mas depois que você vai lendo e acaba se acostumando com a forma de escrita do Saramago, você percebe que foi um sacada genial dele, já que ele usa muitos diálogos, e isso deixa a leitura mais fluida. Sem dúvida eu indicaria para quem quer se aventurar nas obras desse autor, pois é um livro pequeno e um pouco mais fácil de se ler, ao contrário do seu famoso livro ?Ensaio Sobre a Cegueira?, que é um livro bastante denso e pesado tanto na escrita como na ambientação. A cada capítulo que você vai lendo, Saramago te faz pensar um pouco sobre as passagens bíblicas que tanto conhecemos, fazendo a gente duvidar até mesmos do que está sendo contado na Bíblia. Este é sem dúvida um dos melhores livro que já. Apesar de ter algumas paras e expressões que você tem que parar pra procurar seu significado, já que estamos em uma escrita em português de Portugal, mas isso pouco atrapalha pois o livro é tão dinâmico que você não quer parar um só minuto de ler. Recomendo muito pra quem quer adentrar de cabeça nas obras deste autor que eu tanto adoro.

jusousan 20/06/2022

Caim
Em Caim, o autor José Saramago segue sua fórmula única, questionadora e cômica de sempre. A obra em si é polêmica, principalmente, pelo teor apresentado.

Neste livro, nos deparamos com uma história super envolvente. Ao retornar um tema bíblico de uma forma divertida e inovadora, Saramago traz à tona o embate entre Deus e Caim, assassino de Abel, o mesmo da Bíblia.

Na primeira parte do livro, o autor começa contando a história de Adão e Eva no Éden e desde o começo, já é perceptível como o desenvolvimento do romance vai ser brilhante. No decorrer da narrativa, acompanhamos Caim destrinchando eventos bíblicos.

Mais brilhante ainda é ter escolhido Caim como protagonista. O anti-herói. O mesmo que fez tanto mal ao irmão, agora, nos traz reflexões importantes.

O que mais me pega, em suas obras, é o fato do autor perpetuar por diversos assuntos, polêmicos ou não, e nunca perder sua essência, toda sua criatividade e genialidade. É uma obra pequena, rápida e super fluida. Recomendo demais.

Lisandro 06/06/2022

Questionamentos
Acho que ninguém melhor que um ateu pra fazer questionamentos lúcidos acerca de bíblia e cristianismo. Há muito penso como Saramago e Caim: deus parece mais com o demônio do que com um deus. Talvez tenha tornado Lúcifer caído justamente por este ter sido mais sensato do que o senhor.

Talvanes.Faustino 31/05/2022

Fantástico
A primeira vez que ouvi falar neste livro foi numa revista, acho que foi a Carta Capital, numa coluna sobre livros rejeitados pela igreja.

Pensei "o Vaticano não gosta? Deve ser bom" devia ter uns 17 anos, somente aos 28 consegui ler o livro. Com a leitura tive a minhas expectativas atendidas.

Zé é muito irônico, o que confere muito humor ao livro. Amei.

Gabriel Torres 29/05/2022

Eu já li alguns livros do Saramago e aqui ele repete uns vícios dele que me incomodam e o curioso é que esses vícios fazem parte da elogiada assinatura dele, mas que eu sempre quando começo a ler me questiono se ele não poderia ter explorado mais o texto sem inventar determinadas... firulas, mas o tema é tão fascinante e... pô, é o Saramago escrevendo sobre o Velho Testamento, acho que isso já vale dar uma conferida.

LisboaPB 22/05/2022

O livro começa perfeito e termina perfeito. O único problema é no meio, no desenrolar, que as coisas são mais ou menos. Mas a crítica que ele deixa sobre Deus da bíblia é incrível. É tudo o que pensei quando li esse livro. Deus consegue ser tão vingativo quanto um mero mortal. Daí que este livro se torna um belo reconto.

João 21/05/2022

Questione e questione-se
Esta obra ficcional do saudoso Saramago mostra passagens bíblicas de uma maneira bem peculiar, através dos olhos do fratricida Caim. O livro é repleto de ironia, provocações e questionamentos. Os questionamentos feitos pelo personagem central são a mais valia de todo o livro e me fez pensar sobre todas as coisas que nos são ditas como verdades absolutas, sem que ao menos nos questionemos sobre elas, uma vez que a história é escrita pelos vencedores.