Joana Ribeiro 04/12/2018
Uma distopia no mundo pós 2012
Fui convidada pela autora, Loraine Pivatto, para participar do Book Tour de sua mais recente obra: Psuedônimo Mr. Queen. Inicialmente, confesso, a premissa do livro me chamou atenção mas não foi algo que causou grande impacto, o que de certa forma arrastou o início da leitura em alguns dias. Porém, conforme me acostumava com a narrativa e com a história, não consegui mais parar de ler.
Em linhas gerais, o livro conta a história de um mundo pós apocalíptico, no qual a profecia Maia se concretiza e apenas algumas pessoas sobrevivem para que possam iniciar um novo mundo, ou melhor, reiniciar o antigo mundo, uma vez que compreendemos com o passar da história que velhos hábitos e comportamentos jamais mudam. O plano de fundo é a história de três mulher, três gerações de mulheres da mesma família: Regina, Larissa e Vitória Brandão. As três vivem, à sua época, as mudanças daquele mundo no qual a premissa era bastante simples: não teríamos mais mortes prematuras. Cada indivíduo teria duas vidas para aproveitar da forma que quisesse, a primeira sendo até os 70 anos e a segunda dos 20 até os 100 anos, totalizando 150 anos e com a condição de que na segunda vida os indivíduos se lembrariam da primeira, viveriam nas mesmas casas porém, em uma dimensão diferente. Outro ponto importante também é que cada indivíduo poderia pedir dois refúgios, um em cada vida. O refúgio seria uma espécie de "geladeira", na qual cada pessoa poderiam dormir, pelo tempo que desejasse e poderia acordar, com a mesma aparência que tinha quando pediu o tempo, porém com a contagem de sua vida seguindo normalmente. A ideia da morte é natural na história, a única certeza que tinham.
Há, entretanto, um segredo que poucas pessoas sabem: o segredo da morte. A princípio não há como morrer, uma vez que todo indivíduo que estivesse prestes a morrer seria levado para um centro de recuperação, no qual seria curado e teria sua memória apagada, assim como aqueles que tivessem presenciado, no caso de uma catástrofe, por exemplo, também esqueceriam o que viram. No entanto, existe uma maneira de morrer e Regina, Lúcia, Leonardo e Cristiano preservam tal segredo, uma vez que a humanidade não tem condições de lidar com tal informação.
A história em si é cheia de personagens o que, de certa forma, pode causar algumas confusões no início mas, assim que tu começas a te habituar com os nomes e as histórias de cada um, tudo se torna mais fácil e a passagem de uma história para outra se torna bastante natural. Falando em história, é importante destacar que neste livro temos um emaranhado de histórias, histórias que se cruzam, histórias que se complementam, histórias que só farão sentido ao final, quando compreendermos, enfim, o que acontece e o que aconteceu para que as coisas chegassem no ponto em que chegaram.
Temos então a história de Regina, Maurício, Vanessa, Duda, Larissa, Paulinho, Júnior, Cristiano, Lúcia, Leonardo, Vicente, Vitória e outros tantos personagens que constroem essa distopia tão frenética e cheia de acontecimentos. O que mais chama minha atenção, ao término deste livro, é que a autora retrata uma sociedade praticamente doentia, marcada por um sistema de pontuação que avalia as pessoas de acordo com as áreas de sua vida, o que acarreta em indivíduos obcecados por amizades (comprovadas por fotos postadas em redes sociais), desenvolvimento acadêmico e profissional e relacionamentos bem sucedidos com pessoas de alta pontuação, para que se perpetuassem os tais pontos essenciais para se ter regalias e reconhecimento do governo.
Pensando no nosso mundo atual, existe diferença entre a sociedade da história e a nossa? É certo que não precisamos de selos em nossa pele estampando números e códigos que dizem respeito a quem somos perante o governo, mas será que estamos tão distantes assim desse colapso, dessa ideia doentia de aparentar ser mais do que se é, de fato? Acho que a autora foi bastante perspicaz neste sentido, fazendo uma analogia muito bem construída e assustadora com a nossa realidade e, por isso, é uma história que deve ser lida por todos pois faz refletir sobre quem somos e sobre os rumos que nossas vidas estão tomando, sobre os valores, sobre aquilo que vem se tornando cada vez mais importante. As aparências podem levar o mundo ao caos; a ganância e o desejo por poder também. Pseudônimo Mr. Queen é uma história que retrata a fraqueza humana e as consequências disso, permeada por um ideal de mundo no qual não existiriam mais doenças e mortes prematuras e as pessoas poderiam aproveitar seus 150 anos da maneira que desejassem, respeitando os ideais daquela nova sociedade.