Andre.Pithon 29/04/2024
Bingo de Ficção Especulativa 2024
Casa 2.5 Romantasia
NOTA: 2.5
Sarah J. Maas é a autora de fantasia mais importante/influente contemporânea. Acho que hoje é inegável que romantasia em muito supera fantasia tradicional em vendas e alcance, e que é um dos mercados mais rentáveis literários. Dentro dele, ACOTAR é provavelmente uma das obras fundadoras. E vamos começar com a questão difícil. Romantasia é tabu, e tratado com descaso como baixa literatura pelo mesmo motivo que Crepúsculo o foi; pois é voltado para o público feminino. É óbvio que obras literárias de entretenimento voltados para mulheres, principalmente jovens, tornam-se alvo fácil de escárnio e de ridículo, por que é claro que sim. A sociedade é misógina, e ACOTAR é fantasia de garota que é raptada pela fada mágica e se apaixona e faz sexo (pouco sexo, mas logo reclamo disso), exata mesma vibe de crepúsculo. Eu não vou deixar de criticar esse livro, não temam, eu não gostei muito. Mas eu quero deixar bem claro que ele se propõe a fazer um coisa, oferecer romance de escapismo fantástico, e ele cumpre a proposta. ACOTAR não é ruim por ser romantasia, ou por ser direcionado para mulheres; é ruim porque é ruim. E adendo, nem é tão ruim assim. Já li muita fantasia tradicional voltada para um público mais esteriotipicamente masculino que é consideravelmente pior, chequem minhas estrelas. Tem coisa do Sanderson que eu considero pior que esse livro. E já ouvi dizer que é o pior da série fácil (não lerei os outros), então ACOTAR tem tudo para somente crescer.
Dita toda essa enrolação, vamos ao plot:
Feyre é pobre fodida coitada. Ela é raptada por Tamlin, homem-fada meio raivoso e presa em uma maravilhosa mansão perfeita onde ela ganha tudo do bom e do melhor. Romance ocorre. Eventualmente a rainha malvada vem estragar o romance. O escravo sexual dela malvadinho Rhysand acaba ajudando Feyre e obviamente também se apaixonando por ela, pq tem muitos livros e não dá pra ter só um interesse romântico. Tudo dá certo no final, mas Feyre sofre um bocadinho, sempre maltratada por criaturas feéricas diversas. É bem releitura de Bela e a Fera, com gotas de uma mitologia mal explorada. Eu adoro fadas, e as fadas aqui parecem elfos; e se você é um elfo você é chato e não uma fada.
Em The Spear Cuts Through Water, uma das minhas leituras recentes prediletas, tem uma cena em que um semideus se apaixona tanto por uma apresentação de dança, que obrigada a coitada da dançarina a repetir sequencial o mesmo espetáculo até que seu corpo não aguente mais, pintando o chão de sangue, até ossos começarem a quebrar e ele continuar lá aplaudindo, hipnotizado. É isso que eu espero de uma fada, uma moralidade alienígena, uma predileção por contratos e promessas, um perigo caótico e incompreensível. E tudo bem, o fato de eu preferir uma versão de fadas não torna as daqui ruins, mas achei tudo muito sem sal. Uns elfos chatos, um romance sem química, um sexo nem um pouco excitante. Esperava que pelo menos a putaria fosse entreter sabe? São cenas que não duram nem uma página, esperava bem mais de um livro onde acontece uma ORGIA FÉERICA. SE PROPÕE A COLOCAR ORGIAS NO SEU LIVRO E NÃO VAI ME ENTREGAR NADA DE PUTARIA? Inaceitável né, tá quebrando toda a proposta.
No final do livro existe um enigma, pq óbvio que tem, e ele é a coisa mais óbvia e ridícula possível, de saber a resposta instantaneamente, e faz os personagens parecerem estúpidos por não descobrirem e a antagonista ainda mais por propor tal coisa. Não faz sentido ela só oferecer essa saída pra Feyre ter um momento de glória no final.
Honestamente, a prosa é ok. Achei a tradução ruim, erros de pontuação e óbvios erros de tradução, onde você percebe que deveria ser um termo diferente aí, mas não fui checar o original e não vou retirar pontos pela localização. É um livro feito para sua leitura ser fluída e prazerosa, e ele consegue ser fluída sem cair no hediondo. Li duzentas páginas hoje, e passou voando, é uma obra feita para ser maratonada, sem pensar muito.
E quer saber? É uma fantasia decente. O mundo é até engraçadinho, com conceitos curiosos de política entre cortes de fadas (que, novamente, são elfos e não fadas), com indícios a criaturas não muito únicas, mas que tão aí. É mais worldbuilding do que eu esperava, e sai positivamente surpreso. Alguns personagens tem personalidade, Lucien é um destaque positivo, e fiquei surpreso que ele não deu em cima uma vez da protagonista, que achei ser inevitável nesse gênero.
Não é meu estilo de obra, mas fico feliz em conhecer. Como considerar-se proficiente em fantasia se eu ignoro completamente o gênero mais popular dentro do campo? Minha descoberta nessa aventura mágica foi de que é menos pior do que esperava, mas infelizmente também muito mais pudico.
Deixem as fadas(elfos) transarem.