Fernando Lafaiete 29/03/2018O Cair da Noite: O que eu tenho a dizer sobre o conto mais famoso e importante da ficção científica?**Nota: 2.5**
Foi em 1941 que Isaac Asimov, considerado por muitos como o maior escritor de ficção científica, lançou O cair da Noite; o conto que viria a se tornar o melhor e mais importante conto de ficção científica de todos os tempos. Todo este status se iniciou em 1968 quando ele foi considerado o melhor conto do gênero pela Science Fiction Writers of America. É importante ressaltar que este status ainda permanece em 2018.
Aqui o mestre Asimov nos apresenta Lagash, um planeta iluminado por seis sóis. Não existe escuridão e a mesma é vista como uma catástrofe que levaria ao fim da humanidade. Tudo se inicia com um grupo de cientistas se reunindo para esperar o tão temido dia em que os sóis sumiriam e a escuridão cairia sobre a terra. Quando esse momento chegar, os seres humanos não sabendo lidar com as trevas que os cercariam, entraria em um processo de loucura que seria o início do fim. A ideia é incrível, mas confesso que pra mim foi uma leitura tediosa do começo ao fim.
O conto apresenta personagens interessantes. Além dos cientistas, temos um jornalista que está reunido com os mesmos a fim de registrar tudo para uma possível matéria. Temos um psicólogo e temos um sacerdote, tratado e apresentado como um cultista. Isaac Asimov constrói debates interessantes onde de um lado temos a ciência e do outro a religião. Temos uma espécie de bíblia e a famigerada noite é vista como o Armagedom.
A ideia do autor é desenvolver e nos fazer pensar sobre o quão somos frágeis diante do desconhecido. A ideia de uma histeria generalizada, resultado do medo das pessoas que não sabem lidar com o novo, é bacana e até me instigou por um tempo. O problema foi o status do conto que me fez esperar uma história e uma narrativa muito melhor e mais profunda do que qualquer conto da antologia Eu, Robô, do mesmo autor. A questão é que tudo se desenvolve muito lentamente e não tive o deslumbre real dessa histeria que tanto queria presenciar. O autor perde tempo com diálogos repetitivos e explicações de coisas as quais eu já havia entendido.
O mundo além dos vários sóis que o ilumina não apresenta nada mais que tenha me fascinado... Achei um tédio difícil de relevar. A escrita de Asimov é espetacular e em relação à isso eu não tenho nada a dizer. Preciso frisar que existem duas versões desta história. O conto que li, lançado em 1941 e um romance cujo o famoso autor aceitou escrever e publicar juntamente com Robert Silverberg em 1990. A essência das narrativas é a mesma, mas existem algumas mudanças consideráveis. Inserção de novos personagens e uma abrangência maior do mundo e da situação são algumas das mudanças que preciso citar. Comecei a ler o romance e parei para ler o conto original antes. Devo dizer que apesar das minhas ressalvas, o conto é melhor do que o romance escrito em quatro mãos. A história de Asimov e Silverberg possui uma nota dos autores que é bem desnecessária além de uma narrativa chata e ainda mais cansativa que a do conto. Outra mudança que me saltou aos olhos foi a alteração do nome do mundo. O do conto é Lagash e o do romance é Kalgash.
Pra quem acha que Asimov se sentia lisonjeado por ser autor do conto mais importante da ficção científica, se engana. Após o autor lançar várias outras histórias, continuava ouvindo que O Cair da Noite era sua melhor criação. Ele passou a se incomodar exatamente por acreditar que não havia evoluído como escritor. Como era possível sua primeira narrativa ser melhor do que as que vieram depois? Graças à Deus não escuto mais, nem leitores e nem críticos literários afirmarem que o famoso conto é superior a série dos robôs e muito menos do que a série Fundação; apesar de ainda ser considerado o melhor conto do gênero.
O Cair da noite é um conto que promete, mas não entrega nada de muito fabuloso. É bem escrito e é sim interessante. Mas acredito que permanece com o status de melhor conto já escrito do gênero que faz parte, apenas porque quem o escreveu foi Isaac Asimov. As pessoas se sentem pressionadas a fazerem parte do grupo que ama esta história e a venera. Li e não vejo motivo algum para tanta veneração. Sou sincero e pra mim foi um conto qualquer que não me acrescentou muita coisa. Ainda não li quase nada do autor e pretendo ler sua obra completa. Por enquanto, minha indicação para quem deseja começar a lê-lo permanece sendo a sensacional antologia de contos Eu, Robô.