Desireé (@UpLiterario) 21/07/2018Poesia e beleza em meio ao caos e a destruição. (@UpLiterario)Imani é uma jovem de 15 anos diferente de todas as demais de sua tribo. Primeiro, porque ela é a única que ainda não possui um filho, segundo porque a criação em meio aos portugueses lhe permitiu ter conhecimentos que nenhuma delas jamais sonhou em possuir. Sabendo ler e escrever em português, Imana e sua família buscam manter a aldeia a salvo do terrível destino que assola toda Moçambique. Mas ninguém será capaz de fugir do seu próprio destino.
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Mia Couto traz uma obra belíssima e um começo de trilogia sem igual. Intercalando a voz de Imani com as cartas do sargento português Germano de Melo, temos uma mistura de poesia e aspereza, beleza e brutalidade, sonhos e angústias, todos os bons elementos para uma narrativa impressionante. Entre presente e passado, conhecemos a saga da família de Imani e os motivos que levaram o sargento à África, enquanto os mistérios e a beleza da cultura e da religião local levam o leitor a se imaginar ali, em meio aos terrenos áridos e tortuosos de Moçambique.
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"Alguns de nós, humanos, temos esse mesmo destino: falecidos por dentro, e apenas mantidos pela parecença com os vivos que já fomos."
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É quase mágico vivenciar esses dois olhares e perceber como uma mesma ocasião pode ser vista e interpretada de jeitos tão distintos. Mais impressionante ainda é que mesmo sob o toque forte e intenso da cultura africana e o véu brilhante e cegante da adolescência, Imani pode ter uma percepção muito mais cética e lúcida sobre os acontecimentos presentes, do que qualquer português ou adulto por ali.
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"O pior do passado é o que ainda está por vir."
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Leitura mais do que recomendada, é obrigatória! Melhor livro do ano e uma das melhores leituras da vida.
Mas a melhor parte é que Mulheres de Cinzas é apenas começo de uma grande história.
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