Mulheres de cinzas

Mulheres de cinzas Mia Couto




Resenhas - Mulheres de Cinzas


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Squad Literário 14/04/2018

Não tem como melhorar!
"À minha frente alinhavam-se os condenados: todos adolescentes, crianças. Nenhum deles tinha sido julgado, ninguém os escutara em português ou língua nativa. Os que iam morrer não tinham voz."
Não é a primeira vez que trago um livro do Mia Couto - e também está longe de ser a última. Mulheres de Cinza, publicado em 2015 pela @companhiadasletras, é o primeiro livro na trilogia As Areias do Imperador, um romance histórico que narra a época em que o sul de Moçambique era governado por Ngungunyane, o último líder do Estado de Gaza - segundo maior império no continente comandado por um africano.
No entanto, Embora o contexto de Mulheres de Cinza seja o da guerra que assola Moçambique no final do século XIX, um dos temas mais recorrentes na obra é a questão de como as mulheres resistem à uma batalha não apenas com armas e soldados, mas como também sobrevivem a guerra que é ser mulher em um mundo cercado por tradições patriarcais. Para as mulheres ? não apenas da obra, mas, também, de todo o contexto que esta se insere ?, na guerra, ?[passam] a ser violadas por quem não [conhecem]?. É com essa sensibilidade que a personagem Imani, uma garota africana de 15 anos, narra a história com toda sua ingenuidade e inteligência. Intercalado à narrativa dela, somos apresentados também ao ponto de vista do sargento português Germano através de cartas que ele envia a seu conselheiro, enviado a aldeia da moça para protegê-los do avançar do imperador.
O interessante aqui é diferença desses dois mundos que se encontram, envolvem-se, descobrem-se, apaixonam-se e enfrentam inimigos em comum: a guerra e as tradições. Mas é Imani quem mais encanta na narrativa: diz-se vazia, seca como uma casca de árvore, almejando o desejo de tornar-se mulher; contudo, mal sabe ela que já o é por resistir, por enfrentar e nunca se submeter a um mundo que a ameaça, mas nunca a vence.
Embalada por uma prosa poética, sensível, Mulheres de Cinza intercala a história e o romance, os horrores e os amores (que restam) no colonialismo de Moçambique.

Ranger Preta ?
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Manuel Gimo 13/04/2018

História e Ficção, um casal perfeito!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Mulheres de Cinza
SÉRIE: As Areias do Imperador
VOLUME: 1/3
LOCAL DA PUBLICAÇÃO: São Paulo
EDITORA: Companhia das Letras
ANO DA PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 223
FORMATO DO LIVRO: eBook (PDF)

SINOPSE:

Primeiro livro da trilogia As areias do Imperador, Mulheres de cinzas é um romance histórico sobre a época em que o sul de Moçambique era governado por Ngungunyane, o último grande líder do Estado de Gaza. Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado ao vilarejo de Nkokolani para participar da batalha contra o imperador que ameaçava o domínio colonial. Lá, ele encontra Imani, uma garota local de quinze anos que lhe servirá de intérprete. Enquanto um dos irmãos da menina lutava pela coroa de Portugal, o outro se uniu aos guerreiros tribais. Aos poucos, Germano e Imani se envolvem, apesar de todas as diferenças entre seus mundos. Porém, num país assombrado pela guerra dos homens, a única saída para uma mulher é passar desapercebida, como se fosse feita de sombras ou de cinzas.

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«A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra,os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.» (p. 63)

Depois de mergulhar no mundo de Ngungunhane (ou Ngungunyane, ou ainda Ngungunhana) ficcionado pelo Ungulani Ba Ka Khosa, em “Ualalapi” (2008)¹, vi-me instigado a querer mais conhecer o mundo do hosi (imperador) Mudungazi. Na verdade, adoro romances históricos e não consigo resistir ao ter oportunidade de ler um. E eis que me aparece este “Mulheres de Cinza”, primeiro volume da trilogia “As Areias do Imperador”, de Mia Couto, pseudônimo de António Emílio Couto. Meu conterrâneo Beirense.

Mia Couto dispensa qualquer tipo de apresentações. Um escritor que estimo muito, Couto está no topo da minha classificação dos melhores autores que já li. A poética escrita miacoutiana é das mais agradáveis e prazerosa que já tive. E com isso, não poderia estar mais ansioso para mergulhar na reimaginação do Estado de Gaza pelas mãos de Mia Couto.

«Diz-se em Nkokolani que o mundo é tão grande que nele não cabe dono nenhum.» (p. 12)

Na Nota Introdutória, Couto deixa bem claro que o que vamos ler é uma narrativa fictícia baseada em personagens e factos reais, originada duma extensa investigação documental e em testemunhos orais. É também nesta nota que ficamos a saber o porquê do título “As Areias do Imperador”. Ngungunyane foi o último dos imperadores que governou toda a metade sul do território de Moçambique, o chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano. Este foi derrotado pelas forças portuguesas sob o comando de Mouzinho de Alburquerque em 1895, e sendo deportado para os Açores, Portugal, onde viria a morrer em 1906. Em 1985, os seus restos mortais foram transladados para Moçambique, todavia, há quem sugere que o que estava na urna não eram ossadas do hosi mas sim torrões de areias do solo lusitano. Razão pela qual, o título “As Areias do Imperador”.

«A vida é como uma maré.» (p. 183)

Neste primeiro volume da trilogia, conhecemos Imani Nsambe, jovem MuChopi (da tribo VaChopi) de 15 anos moradora da aldeia de Nkokolani. É a personagem-protagonista portanto conhecemos o mundo sob sua perspectiva (que também é a perspectiva do seu povo). Vive com sua mãe, Chikazi Makwakwa e seu pai, Katini Nsambe. Enquanto a narrativa progride vamos conhecendo mais a sua história. Do seu irmão caçula, Mwanatu, à seu irmão mais velho, Dubula, até ao seu tio Musisi e a esposa deste, Rosi: conhecemos a história de todos estes. Inteligente e insubmissa, Imani (que em sua língua, Imani significa “Quem é?”) é uma menina de uma personalidade marcante. A sua vida e da aldeia muda com a chegada do sargento português, Germano de Melo, que vem garantir a protecção dos campesinos contra as invasões Ngunis.

«Eis o que faz a guerra: a gente nunca mais regressa a casa. Essa casa — que outrora foi nossa —, essa casa morre, nunca ninguém nela nasceu. E não há leito, não há ventre, não há sequer ruína a dar chão às nossas memórias.» (p. 152)

A narração é alternada entre Imani e o sargento português Germano de Melo. No entanto, a narração do sargento só se limita aos relatórios escritos por este ao seu superior, Conselheiro José d'Almeida. Nestes relatórios, ficamos a saber da sua jornada até Nkokolani. Nestas missivas, também temos a sua visão do mundo em que se encontra, sua insegurança e alheamento às “superstições dos cafres”. Exilado da sua amada Portugal por causa do seu passado de rebeldia, a sua estadia em Moçambique é um exílio posto pela Coroa lusitana. Chegado a Nkokolani, o português tem Imani como sua guia e intérprete, pois esta fala muito bem o Português. Confiado a missão de organizar os preparativos para a chegada do capitão Mouzinho de Albuquerque, que liderá as forças portuguesas na batalha contra os Vátuas, termo usado pelos portugueses para se referirem aos VaNgunis, a tribo de Ngungunyane. Da sua chegada até a chegada do messiânico capitão, os eventos se mostraram ser imprevisíveis, ao mesmo tempo que o sargento cria uma relação de afeto muito forte com Imani.

«Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras.Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem pessoas.» (p. 37)

Ler “Mulheres de Cinza” não é só a intricada trama que nos encanta, esta obra é, acima de tudo, um romance histórico. Portanto, temos a História. Apesar de ficção, alguns factos são verídicos, consequentemente é possível identificar alguns factos reais nisso tudo. E falando em ficção se misturando com a verdade, é possível notar nas páginas a extensa investigação do autor. Couto tece tão bem essa dicotomia “real vs irreal” que só temos um único pensamento durante a leitura: isso aconteceu de verdade.

E como não podia faltar, a oralidade (ou folclore), os costumes e hábitos locais imperam toda vez que Imani entra em cena. É algo de encher os olhos de tanto alegria de ver tudo aquilo nas páginas.

«[...] as guerras nunca começam. Quando damos por elas, já havia muito que vinham acontecendo.» (p. 83)

“Mulheres de Cinza” é também sobre um passado pouco lembrado, ou que é negligenciado, em Moçambique, e/ou em África em geral. Durante a escravatura ou colonização, vítimas e culpados estiveram todos misturados. A história foca o conflito entre os colonos portugueses e o “Leão de Gaza” na luta pela ocupação do Sul de Moçambique.

Temos a família Nsambe, nas pessoas de Katini e seu pai Tsangatelo, que renegaram suas tradições e aceitaram ser “civilizados” pelos portugueses. Dentro da própria família Nsambe, há discórdia. Dubula Nsambe não vê nenhum mal na invasão nguni, mas não aceita a intromissão dos portugueses que para ele representa a morte da sua raça. Um contraste a Dubula é o seu próprio irmão, Mwanatu Nsambe, que é fascinado pelos portugueses e é sentinela no quartel que abriga o sargento português. O tio Musisi é um verdadeiro contraste a estes dois irmãos, para este nestas invasões não há nada benéfico para o seu povo. Quanto a Imani, assim como o sargento português, sente-se não adaptado aos dois mundos. As mulheres desta família, Imani, Chikazi e Rosi, ou mesmo da aldeia inteira, são mulheres de cinza, isto é, num mundo dominado por homens e guerras lideradas por homens, elas tem que se tornar cinzas, invisíveis.

Vê-se claramente o povo moçambicano representado pela esta família. Dos que compactuaram-se com as invasões estrangeiras (no sentido: estrangeiros a tribo ou cultura), os que não se aliaram aos invasores e os que se tornaram neutros e passivos a situação.

Há poucos neologismos nesta obra, algo que me entristeceu um bocado, mas isso não tira a beleza da mesma.

Um grande começo dessa trilogia.

«(...) Mas a Paz é uma sombra em chão de miséria: basta o acontecer do Tempo para que desapareça.» (p. 14)

OUTRAS CITAÇÕES:

«(...) aquele que está em cima nem sempre manda no que está em baixo.» (p. 39)

«As mães da minha terra trazem o luto de todas as guerras.» (p. 53)

«Precisamos amedrontar quem nos quer causar medo.» (p. 53)

«Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados.» (p. 126)

«A generosidade de uma família mede-se pelo modo como acolhe os hóspedes.» (p. 141)

«— Nesta tua terra, meu caro Mwanatu, Jesus estaria desempregado: aqui não há quem não faça milagres.» (p. 163)

AVALIAÇÃO: 9.5/10

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Review by: Manuel Gimo

site: www.fb.com/manueltchatche.rmt
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Aninha 21/02/2018

Paz é uma sombra em chão de miséria
"Mas a Paz é uma sombra em chão de miséria; basta o acontecer do Tempo para que desapareça." (página 21)

Emendei um Mia no outro: há 1 mês li Cada homem é uma raça e agora devorei o volume 1 da trilogia "As areias do imperador".

Aqui temos os conflitos raciais e culturais entre portugueses e africanos, no vilarejo de Nkokolani, que vivia amedrontado pela constante ameaça de Ngungunyane, o temido líder e imperador do sul de Moçambique.

Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado a este vilarejo para evitar a expansão dos domínios de Ngungunyane. Tão logo ele chega, conhece a jovem Imani, de apenas quinze anos, que será sua intérprete nesse novo mundo. Ela mora com os pais e tem 2 irmãos: Dubula se aliou ao inimigo e Mwanatu - o tonto e atrasado - aos portugueses.

Os capítulos são intercalados: ora temos os relatos de Imani, ora lemos as cartas que Germano escreve para o Conselheiro José d´Almeida, em Portugal, relatando suas dificuldades, dúvidas e temores.

Conflitos na família (entre tio e pai, entre irmãos, entre marido e mulher) dão o tom da trama, a qual é permeada pelo medo dos invasores e os mistérios e encantos da natureza.

As guerras e as perdas desumanizam a todos que são atingidos e deixam sempre algum tipo de marca. Seja na pessoa, seja na terra onde vivem.

"É para isso que servem as fardas: para afastar o soldado da sua humanidade." (pág.20)

"...bebíamos para fugir de um lugar. E tornávamo-nos bêbados porque não sabíamos fugir de nós mesmos." (pág.42)

"...as guerras nunca começam. Quando damos por elas, já havia muito que vinham acontecendo." (pág.142)

"... não são os mortos que pesam. São os que não param nunca de morrer." (pág.283)

Como sempre, vale a pena ler Mia Couto.
Boa leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2018/02/mulheres-de-cinzas-as-areias-do.html
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Andressa.Oliveira 29/11/2017

Lindo e tocante como uma poesia
Ainda estou encantada com a forma que Couto constrói sua narrativa. Tanta poesia em cenários áridos, com pontos de vista diversos fazendo o leitor permear aqui e lá. Quero devorar a bibliografia inteira.
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SILVIA 12/03/2017

Uma leitura linda
Meus comentários estão no site.

site: http://reflexoesdesilviasouza.com/livro-mulheres-de-cinzas-de-mia-couto/
12/03/2017minha estante
O Sonho de um Homem Ridículo é uma pequena (no tamanho se compararmos com Irmãos karamazov) obra prima.


12/03/2017minha estante
Comentei no lugar errado.


12/03/2017minha estante
Qual é o site dos seus comentários?




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Raquel 01/02/2017

Mia Couto é poesia pura.
Livro delicioso, escrita poética, dá vontade de ler tudo que ele escreve.
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Guta 22/11/2016

Resiliência das mulheres de cinza
Já li alguns livros do Mia Couto, porém este foi o mais difícil, por alguma razão demorei muito para me apegar aos personagens, tive que me obrigar a ler, quase abandonei o livro durante a leitura. Mas agora que terminei não vejo a hora de ler o Sombras da água, a continuação da trilogia.
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Rosângela Luz 07/11/2016

Sempre forte a presença feminina negra nas obras de Mia Couto
Antes de começar gostaria de avisar que sou apenas uma leitora de impressões simples e sem técnica de resenha. Vamos lá!
Inicia-se o livro com os dizeres "A estrada é uma espada. A sua lâmina rasga o corpo da terra. Não tarda que a nossa nação seja um emaranhado de cicatrizes, um mapa feito de tantos golpes que nos orgulharemos mais das feridas que do intacto corpo que ainda conseguirmos salvar." E é exatamente assim a história da humanidade, desfiguramos a terra para depois tentar retomá-la ao antes. Mulheres de Cinza é o primeiro livro da trilogia As areias do Imperador, a personagem protagonista apresenta-se e apresenta a família, da importância ao nome dado a cada ser e de esse nome ser um "ato de poder" e dos vários nomes que já teve em sua curta existência até ali, O livro tem como norte a colonização portuguesa na África, especificamente, em Moçambique. Temos vislumbres das superstições, tradições, sinais de povos tão opostos e tão iguais. A história é narrada por dois personagens: a Imani e o sargento português Germano de Melo, os dois pontos de vista significativos diante da guerra, o que sempre me surpreende é a forma magnífica que o autor caracteriza suas personagens femininas, a mãe de Imani tem uma grande sacada para se sair de uma situação muito difícil e consegue com tal maestria e sabedoria que eu jamais seria capaz de imaginar.
Destaca-se a ferocidade humana diante do conflito armado, como os comportamentos se tornam bizarros diante de grandes transformações, da imposição da língua, da religião, dos costumes do colonizador e colonizados. Uma parte que se destacou e que me fisgou de vez para ler LOGO os três volumes foi este trecho: "Alguns de nós, humanos, temos esse mesmo destino: falecidos por dentro, e apenas mantidos pela parecença com os vivos que já fomos."
A verdade contida nesta frase conquistou meu coração, sofremos tantas perdas ao longo da vida, tristezas e decepções que terminamos por morrer um bocadinho. Mas não pense que é um livro deprimente, ao contrário, a alegria e a união andam juntas, obviamente a musicalidade, a dança e a alegria é por conta do negro, já o nosso sargento Germano é altamente melancólico, gera um verdadeiro choque de duas culturas. Eu poderia retirar trechos significativos e poéticos e lindos e emocionantes e faria um outro livro. Mia Couto é para saborear e ser saboreado e como diz a mãe de Imani - "para a minha loucura basta-me uma pequena porção da Lua". A prosa de Mia Couto são repletas de imagens lindas que nos evocam a algo antigo e , por mais estranho que pareça no momento, eu e o livro somos um só, a mesma história, as mesmas personagens, a mesma vivência.
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Daniele.Araujo 06/09/2016

Prosa em Poesia
Neste livro Mia Couto utiliza o cenário político da guerra civil de Moçambique no período em que o último imperador de Gaza ainda reinava. O romance tem um toque político, romântico e muito feminista. A leitura é leve e com uma poesia muito forte impregnada de filosofia africana.
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Luísa 20/06/2016

O Império de Gaza foi o segundo maior império africano liderado por um nativo e teve como último monarca Ngungunyane, ou Gungunhane, como ficou conhecido entre os portugueses.

Por ter se rebelado e ameaçado o domínio colonial português, Ngungunyane – apelidado, ainda, de “Leão de Gaza” – foi derrotado e deportado para o Açores pela coroa portuguesa em 1895, vindo a falecer em 1906. O Império de Gaza foi o que hoje conhecemos como a metade sul de Moçambique. O nome de Ngungunyane permaneceu como símbolo de glória e mito, e lendas e histórias foram criadas em cima de sua personalidade.

Com base em extensa pesquisa, o escritor moçambicano Mia Couto lançou no final de 2015 o primeiro romance histórico da trilogia As areias do Imperador, que conta os derradeiros anos do Império de Gaza, nas vozes de dois narradores, uma garota africana e um militar português degredado. O segundo e terceiro volume da trilogia têm previsão de lançamento para esse ano e 2017, respectivamente. O título vem de uma das lendas acerca do caixão com o corpo de Ngungunyane, oficialmente repatriado para Moçambique em 1985, cujo conteúdo, dizem, contém apenas areia colhida em solo português. As areias também significam um império que ruiu.

Leia mais em:

site: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/resenha-mulheres-de-cinza-de-mia-couto-por-luisa-gadelha/
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Dani.Stfn 25/04/2016

Ando me aventurando bastante pela literatura africana. Comecei com os livros da Chimamanda Ngozi Adichie e agora com Mia Couto que eu pensava ser uma mulher negra, mas na verdade é um homem branco que vive em Moçambique. Apesar da surpresa ao descobrir realmente quem era o escritor, a história, por ser feita realmente por um moçambicano é de encher os olhos. Mulheres de Cinza é o primeiro de livro da trilogia As Areias do Imperador.
A história é sobre Imani que na língua local significa "Quem é?", uma jovem de quinze anos que vive em uma aldeia chamada Nkokolani, filha do líder local. Ela é uma das poucas garotas da região que foi educada por padres que a ensinaram português, aprendendo esse diferente idioma de forma impecável. De personalidade forte e muito inteligente, Imani vai contando a história de seu povo de maneira lírica, mágica e muito bela. A época em que se passa a história é no final do século XIX, na época do Imperador Ngungunyane (Gungunhane) que governava o Estado de Gaza, sul de Moçambique, e está em confronto com os portugueses.
A vida de Imani e do vilarejo muda quando recebe a visita do Sargento Germano, trazendo promessas de proteção contra o exército de Ngungunyane, quando, na verdade, ele é um republicano banido de Portugal e mandado para lá como punição. Imani fica responsável por ser a guia e tradutora de Germano.
A história é dividida por capítulos alternados, uns contados por Imani em forma de narração e outros contados por Germano em forma epistolar. Os capítulos narrados por Imani são muito mais agradáveis, pois mostram a cultura de seu povo e como é seu cotidiano com sua família. Já as cartas de Germano são um tanto enfadonhas, mostrando sua real personalidade, a qual é insegura. De forma preconceituosa, o que condiz com a época, ele maldiz da cultura africana e até se surpreende por Imani ser uma menina inteligente, quando, na verdade, é de se surpreender que Germano tenha algo dentro da caixola. Mesmo assim, os dois personagens vão se envolvendo amorosamente, por mais que, ainda nesse primeiro livro, o romance não seja o foco.

"A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos".

Há também as disputas entre a tribo VaChopi (de Imani) e os VaNguni (de Ngungunyane), mostrando claramente essa divisão pelos irmãos de Imani. Um, Mwanatu, segue religiosamente os portugueses e o outro, Dubula, que segue o exército de Ngungunyane.
O livro é realmente incrível, tanto para passar o tempo, quanto para saber um pouco mais sobre a história de Moçambique. Estou ansiosa pela continuação e espero que as próximas capas sejam tão lindas e com uma palheta de cores tão incrível quanto foi a desse primeiro livro.

site: http://www.canalindicex.com/2016/04/as-mulheres-de-mocambique.html
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Conrado 14/03/2016

Mulheres de Cinzas
" - Nesta tua terra, meu caro Mwanatu, Jesus estaria desempregado; aqui não há quem não faça milagres. "

Aguardando o segundo da trilogia!
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Marcos Pinto 03/03/2016

Maravilhoso!
Existem livros que marcam uma época, uma fase da sua vida. Há outros, porém, que você carrega para uma vida toda. Esses, geralmente, são feitos de algo mais profundo, mais denso, mais tocante. Algo que mexe contigo e te muda; arrebata-te. Esses livros são raros, é verdade. Porém, esse ano eu tive uma dessas imensas felicidades: encontrei o livro Mulheres de Cinzas. Esse, sem dúvidas, faz parte desse grupo tão especial.

Tudo começa quando os portugueses invadem Moçambique e começam a reclamar cada território como “Terras da Coroa”. Contudo, a dominação não seria fácil. Por lá já havia um imperador e ele era Ngungunyane, grande líder do chamado Estado de Gaza. A partir daí surge um confronto de interesses, um confronto por poder e terra que fará o solo verter sangue.

No meio dos territórios em disputa, há o vilarejo chamado Nkokolani. Neste local, morava Imani. Ela não era uma garota como as outras. Em primeiro lugar, era a filha do líder local. Segundo, fora educada por padres, tendo um português correto e uma escrita impecável. Por último, era uma mulher com alma diferente. Aos quinze anos, já era independente, forte, com uma personalidade marcante e com uma inteligência superior a de praticamente todos.

“Os imperadores têm fome de terra e os seus soldados são bocas devorando nações. Aquela bota quebrou o Sol em mil estilhaços. E o dia ficou escuro. Os restantes dias também. Os sete sóis morriam debaixo das botas dos militares. A nossa terra estava a ser abocanhada. Sem estrelas para alimentar os nossos sonhos, nós aprendíamos a ser pobres. E nos perdíamos da eternidade. Sabendo que a eternidade é apenas o outro nome da Vida” (p. 15).

Nesse mesmo vilarejo chega o Sargento Germano. Ele ganha a simpatia de muitos por, a princípio, não ter a atitude de outros portugueses. Primeiro, ele anda com suas próprias pernas – enquanto outros obrigavam que as pessoas do vilarejo os carregassem –; ele também parece se importar com o povo, trazendo promessas de melhoras e proteção. Porém, nem mesmo ele e nem as suas promessas eram bem o que pareciam.

Partindo dessa premissa, Mia Couto constrói um dos melhores romances que eu já tive o prazer de desbravar. Com um aprofundamento histórico maravilhoso e contextualização de dar inveja, o leitor viaja nas nuances da trama enquanto aprende uma história africana muitas vezes ignorada pela escola.

Outro ponto que merece ser ressaltado é o aprofundamento da cultura tida naquela região de Moçambique. Couto apresenta as crenças, os mitos e a poesia que envolvia o cotidiano local. É incrível conhecer novas culturas e novas formas de pensar através da obra. Aliás, em muitos momentos, ficamos nos questionando como uma cultura tão bela como aquela pode ser massacrada, até hoje, costumeiramente.

“Haverá, a propósito, saudade que não seja infinita?” (p. 18).

O autor também merece destaque pelo embuste engenhoso que cria. Com a aparência de um romance “romântico”, ele vai muito além. Ele não se prende e nem se foca tanto no possível casal, mas nas marcas que a guerra deixa na alma dos personagens, sejam eles portugueses ou africanos. O aprofundamento psicológico e das consequências são muito mais importantes do que o romance propriamente dito.

Ademais, para completar a obra magnífica, Mia Couto fecha a estrutura do enredo com personagens cativantes, bem trabalhados e reais. Apesar de parecerem imbatíveis no começo, no decorrer da obra conseguimos ver o que é realmente verdadeiro e o que é aparência. Eles se desconstroem e reconstroem, mostrando as múltiplas facetas humanas.

Completando a enorme qualidade da obra, a Companhia das Letras providenciou uma capa bela e que combina perfeitamente com o enredo. A diagramação, por sua vez, está bem confortável, o que proporciona uma excelente leitura. Por fim, também não tenho o que reclamar da revisão: já é o costumeiro alto padrão de qualidade da editora.

“É para isso que servem as fardas: para afastar o soldado da sua humanidade” (p. 20).

Diante de tantos aspectos positivos, qualquer indicação final seria inútil. Recomendar o livro é muito pouco. Digo apenas: se você quiser ser tocado, já sabe qual livro deve procurar.

site: http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/03/resenha-mulheres-de-cinzas.html
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DIRCE 06/02/2016

Ausências
Mulheres de Cinza, I volume da trilogia As Areias do Imperador, chegou às minhas mãos me acariciando. Um livro de Mia Couto presenteado por minha filha...Tudo de bom e mais um pouco. O encantamento, de forma alguma, para por aí: a textura da capa é deliciosa e a gravura muito sugestiva.
Proust que me desculpe, mas meu projeto de não ler livro algum antes de concluir a leitura da saga do Em busca do tempo perdido foi pelos ares.
Mia Couto confirma, mais uma vez , ser a voz da África. Nessa trilogia ele pretende contar outro lado da história do Imperador Gungunhane que liderou o Estado de Gaza, sul de Moçambique, no final do século XIX, portanto, trata-se um romance fictício com cunho histórico.
As narrativas deste I volume são feitas por meio das cartas do sargento Germano e pela narrativa da adolescente Imani, porém o Estado de Gaza e o imperador ficaram em segundo plano neste livro. Creio que a intenção do Mia, neste primeiro romance , foi mostrar os hábitos, crenças e mitos dos VaChopi , e , de como seres tão contratantes como Imani e o sargento Germano podem ter algo em comum: ambos tinham um sentimento de não pertinência naquele mundo. Imani por ter se “aportuguesado” e o sargento – um degredado – se vê diante de uma missão que lhe era totalmente alheia, ambos, Imani e o sargento, me passaram uma sensação melancólica , e, quem sabe tenha sido ela, a melancolia, a responsável pela atração mútua.
Esse romance é viagem ao passado e de como ele é construído pela visão de um escritor que sempre se utiliza da poesia, mas me pareceu que por algum motivo, não quis abusar desse recurso nesta sua narrativa, tampouco, do neologismo, entretanto, ele conseguiu com muito sucesso nos mostrar que o passado é, indubitavelmente, traçado por meio de sangue e lágrimas.
Antes de finalizar este meu comentário, preciso dizer que os livros do Mia Couto sempre me soam como um gemido doloroso, porém, neste em especial, o que fez doer em mim foi a lembrança do nosso grande amigo Arsenio que nos deixou tão precocemente. Mia Couto era um dos seus escritores preferidos, qual seria a sua opinião sobre este romance? Tive, graças a Nanci, um esclarecimento ao não meu entendimento de um fato constante no romance, mas, para a opinião do Arsenio, tudo o tenho é um enorme vazio.
Ouso dizer que este é um livro no qual as ausências se fizeram presente,entretanto, não poderia, de forma alguma, classificá-lo com menos de 5 estrelas.
Vanessa 06/02/2016minha estante
Ótimo texto!!! Parabéns!!! Fiquei bem interessada! =)


Nanci 06/02/2016minha estante
"o que fez doer em mim foi a lembrança do nosso grande amigo Arsenio que nos deixou tão precocemente." - também me entristece muito,mas a saudade é uma prova de amor.


DIRCE 07/02/2016minha estante
É, Nanci: a lista das pessoas que marcaram minha vida de forma positiva e que deixaram saudades está aumentando.Uns, esperados, mas outros...




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