Mulheres de cinzas

Mulheres de cinzas Mia Couto




Resenhas - Mulheres de Cinzas


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regifreitas 17/01/2016

Apesar de o Skoob não permitir, a avaliação seria: 4,5/5,0.
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ElisaCazorla 08/01/2016

Iniciação à Mia Couto.
Para quem nunca leu Mia Couto, esse livro seria um bom começo. Devo dizer que já li todos os outros romances do autor e não posso evitar a comparação.
Eu sou uma admiradora de Mia Couto e todos os seus livros são um presente para mim. Quando esse livro foi anunciado esperei ansiosamente. Não me decepcionei, o livro é muito bom, mas saio dele com a sensação de que faltou algo. Talvez a alternância entre cartas do homem português branco e a narrativa da menina africana negra tenha feito desse livro algo menos poético e talvez mais 'palatável' para alcançar um público maior de leitores.
A emoção desse não foi tão intensa como nos outros, mas é emocionante. A construção desse não foi tão impressionante como a dos outros, mas foi impecavelmente construído. Inclusive a alternância entre a narrativa da negra e do branco é interessante e bela. A escolha de expor os dois pontos de vista é a maior virtude deste livro. Essa decisão enriqueceu o livro e fez dele um livro mais simples sem ser simplório!
Não encontrei muitos neologismos como nos outros e, talvez, tenha sido essa decisão que deixou o livro mais fácil ou menos exigente do que os outros. Isso não é um ponto negativo, mas foi o que me deixou um pouco triste. Senti falta neste livro da força pungente que me assombrou tanto nos outros livros dele.
Talvez seja uma obra que teve que atender à certas exigências para alcançar um novo público, mais amplo talvez. Por isso acho que se o leitor está procurando conhecer este autor, este livro é um excelente início à sua obra e ao seu estilo excepcionais.
Não me decepcionei. O livro é maravilhoso. Mas, infelizmente para mim, é menos poético. Aguardo o próximo livro desta trilogia com a mesma ansiedade e com a certeza de que será um deleite.
Tiago675 22/10/2016minha estante
Fiquei mais interessado, agora! É um romance histórico!




Babele 29/12/2015

Breve comentário
"(...) Vou lá dentro buscar a bíblia...
Correu transloucadamente para o quarto quase pisando a galinha, e ainda escutei o surdo ruído do seu corpo desabando no chão. O sargento tinha tropeçado numa cabra que vagueava dentro de casa (...) Foi então que percebeu que, da boca do caprino, emergia uma pasta esbranquiçada. Á força, Germano abriu as maxilas do ruminante para depois exibir, na concha das mãos, os restos amassados de um livro.
- É a bíblia - lamentou ele. - A puta da cabra comeu a bíblia (...)"
Sem palavras para descrever tamanha beleza, que Mia pintou este livro... Essa foi uma das poucas (ou talvez a única) parte que me fez rir, pois o restante ora me fizera transbordar em lágrimas, ora em surpresas e o tempo todo em infinito encanto. Quantas lições podem ser retiradas desse livro, precisei me conter para não marcar as páginas por inteira, com meu marca texto.. Espero que os próximos volumes não se demorem, não vejo a hora de devora-los!
"Acho que nunca mais me chegará o sono"
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/12/2015

Mia Couto - Mulheres de Cinzas
344 páginas - Editora Companhia das Letras - Lançamento no Brasil 16/11/2015.

Uma das citações mais bonitas de Mia Couto (e podem acreditar que são muitas) nos ensina que: "a descoberta de um lugar exige a temporária morte do viajante" (do seu romance "Venenos de Deus, Remédios do Diabo" de 2008), assim acontece com esta nova obra do autor, "Mulheres de Cinzas", primeiro volume de uma trilogia sobre um importante período da história de Moçambique e no qual, para apreciar toda a força poética do texto e a riqueza do folclore e costumes locais, precisamos abandonar a nossa herança cultural ocidental e urbana, assim como os conceitos transmitidos através da história oficial da colonização portuguesa, ou seja, "morrer" um pouco, só assim a prosa mágica do autor, com o seu estilo que é um exercício contínuo de recriação da língua, poderá ganhar o merecido espaço e ser "descoberta" pelo leitor, nada mais do que um mero e abandonado viajante solitário.

Os eventos narrados no livro ocorrem em 1895, época em que Moçambique era dominada de um lado pelo governo colonial português, nem sempre presente e atuante, e do outro pelo líder do poderoso Estado de Gaza, imperador Ngunguyane (chamado de Gungunhane pelos portugueses), muito mais forte politicamente na região. O sargento português Germano de Melo, degradado pela monarquia como punição após participar de uma revolta republicana no Porto, é enviado para combater o "Leão de Gaza", como era conhecido Ngungunyane, e assume o controle de um quartel, localizado na vila de Nkokolani, que nada mais é do que uma decadente mistura de paiol de armas e cantina para venda de quinquilharias para os nativos. Ele é auxiliado por Imani, uma adolescente de quinze anos que foi criada por missionários portugueses e domina bem o idioma, servindo como intérprete para o militar. O relacionamento entre os dois irá se fortalecer à medida em que ambos encontram alívio e mútua compreensão em meio ao isolamento provocado pelos conflitos.

"O mundo é tão grande que nele não cabe dono nenhum", mas mesmo assim o Império de Gaza e a Coroa Portuguesa se achavam proprietários da terra e por isso se odiavam tanto ("por serem tão parecidos nas suas intenções"). A família de Imani, da etnia VaChopi, era um símbolo dos conflitos na região porque, apesar de seguir os costumes ocidentais, tendo se aliado aos portugueses, apresentava uma grave divisão política interna já que um dos irmãos de Imani tinha o sonho de apoiar as forças de ocupação portuguesas enquanto o outro queria se unir ao exército de Ngungunyane. Na verdade, tanto Imani quanto o sargento Germano de Melo são indivíduos não adaptados ao próprio meio em que vivem e a narrativa é dividida entre as duas vozes alternadas, mas o tom predominante é mesmo o feminino como podemos constatar na bela passagem abaixo que mostra como os pobres e as mulheres são sempre mais afetados pelas guerras:

"A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos." (pág. 107)

Mia Couto alerta para a destruição da terra através das guerras contínuas e também do progresso não planejado em um jovem país dividido por línguas e culturas diferentes, fato tão comum no continente africano. Também a necessidade de conhecer o passado para entender o presente, Mia Couto afirma que os moçambicanos continuam "ainda prisioneiros de uma versão única do passado" e que precisam se libertar de uma narrativa solitária para assumir que existem outras versões e que todas podem ser válidas para explicar a diversidade atual.

"A estrada é uma espada. A sua lâmina rasga o corpo da terra. Não tarda que a nossa nação seja um emaranhado de cicatrizes, um mapa feito de tantos golpes que nos orgulharemos mais das feridas que do intacto corpo que ainda conseguirmos salvar." (pág. 11)

O livro representa um esforço de humanização de personagens históricos muito pouco conhecidos no Brasil. O último imperador de Gaza, Ngungunyane, foi capturado em 1895 por Mouzinho de Albuquerque quando o seu império já não tinha a força do passado e o domínio dos territórios conquistados, mas Portugal precisava demonstrar às demais potências coloniais européias, principalmente a Inglaterra, que ainda mantinha o controle sobre a colônia africana e levou Ngungunyane e suas sete esposas para Lisboa como propaganda política tendo sido posteriormente deportado para os Açores, onde veio a morrer em 1906. Os seus restos mortais foram trasladados para Moçambique em 1985. Na época, a imprensa moçambicana divulgou que na urna funerária só havia areia colhida em solo português, originando a ideia do título da trilogia, "As Areias do Imperador", que será completada com o lançamento dos dois próximos romances da série em 2016 e 2017.
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