spoiler visualizarCoruja 05/05/2023
Não podemos reescrever o passado.
Aviso de gatilho:
O livro trata de assuntos sensíveis sem tanta responsabilidade, não recomendo para menores de 18 anos ou caso esteja passando por algo difícil, se for o seu caso não leia esse livro nem as citações que destaquei abaixo.
Citações:
Eu queria apertar stop e voltar a conversa inteira deles. Para voltar ao passado e alertá-los. Ou até mesmo impedi-los de se conhecer. Mas não posso. Não podemos reescrever o passado.
Apenas três pessoas, felizes porque não passaríamos o primeiro dia de aula zanzando sozinhos pelos corredores. Nem almoçando sozinhos. Se perdendo sozinhos.
Quando alguém fala seu nome daquela forma, quando nem olha nos seus olhos, não há mais nada a fazer, nem dizer. A pessoa já está decidida.
Apoio as costas no cartaz protegido por uma moldura de plástico e fecho os olhos. Estou escutando alguém desistir. Alguém que eu conhecia. Alguém que eu gostava. Estou escutando. Mesmo assim, estou atrasado.
Foi naquela mesa que os piores pensamentos do mundo entraram, pela primeira vez, na minha cabeça. Foi ali que eu comecei a pensar em? a pensar em? na palavra que ainda não consigo dizer.
Suicídio. Tenho pensado nisso. Não muito a serio, mas tenho pensado nisso.
Eles ouviriam confusão. Frustração. Até mesmo um pouco de raiva. Ouviriam as palavras de uma garota morta percorrendo minha cabeça. Uma garota que, por alguma razão, me culpa pelo seu suicídio.
Olhando dentro dos olhos dela, não pude deixar de dizer que eu sentia muito. Sentia muito por ter esperado tanto tempo para expressar o quanto gostava dela.
E eu concordei, com um sorriso que era provavelmente o mais bobo do mundo estampado no rosto. (Não. O mais lindo.)
E é para ele que eu digo: negue tudo! Vá em frente, negue que eu estava naquele quarto. Negue que eu sei o que você fez. Ou melhor: não o que você fez, mas o que deixou de fazer. Aquilo que você deixou acontecer. Procure argumentos para que sua segunda aparição não seja nesta fita. Deveria ser numa fita posterior. Tem de ser numa fita posterior.
Eu não consegui acreditar. E Seu amigo também não conseguiu acredita, porque, quando ele pegou a maçaneta de novo, não entrou correndo. Ficou esperando você protestar.
Estamos nessa juntos. Nós dois poderíamos ter impedido aquilo. Ou eu ou você. Poderíamos tê-la salvo. E estou admitindo isso diante de vocês. De todos vocês. Aquela garota teve duas chances. E nós dois a deixamos na mão.
Os sinais estavam todos ali, em toda parte, para qualquer um que estivesse a fim de reparar.
Se quisesse que alguém a impedisse, que a socorresse de si mesma, esse alguém era eu. Na festa. E ela sabia disso.
Cada vez mais, bem genericamente, eu vinha pensando na minha própria morte. Apenas no fato de morrer. Mas, aquele dia, com todos vocês num funeral, comecei a pensar no meu próprio.
Eu queria morrer.
Isso se tornou uma espécie de jogo doentio, imaginar maneiras de me matar. E algumas delas são bem esquisitas e criativas.
Eu teria ajudado, se ela tivesse deixado. Eu teria ajudado porque queria que ela estivesse viva.