Gabriela 04/12/2022
Sísifo: o proletário dos deuses
Camus propõe sua teoria do absurdo a partir da questão filosófica: qual o sentido do suicídio? Para ele, a mais importante de todas as questões e sobre essa questão circunda-se toda a filosofia, pois ela busca sentidos para a existência, a vida e a morte.
Posto essa questão, Camus nos mostra que o suicídio não é lógico, pois mesmo que a vida não tenha sentido, o caminho para a felicidade é a revolta. O homem cotidiano se depara com a ausência de liberdade e então o absurdo o incomoda. Mas a falta de sentido deve gerar a revolta, ainda que seja uma ideia paradoxa, o suicídio seria a entrega, a falta de coragem. Encarar a vida é, então, a busca da clareza, ainda que não a encontraremos: "A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra". Camus também está negando a vida após a morte, argumentando que é preciso aceitar a falta de sentido e não procurá-la em algo inexistente, questionando radicalmente as divindades e religiões impostas.
O absurdo é humano. A vida vale a pena ser vivida, ainda que absurda. Nesse sentido, Sísifo, castigado de carregar a pedra ao cume para sempre, é o herói do absurdo, pois renuncia a morte e vive, ainda que castigado, levar a pedra ao cume traz para ele um sentido, visto que ele entende que a felicidade não é estável, mas um estado. Sísifo, o proletário dos deus, é um ser revoltado com seu castigo que não possui sentido, mas o aceita. Sísifo, ao carregar sua pedra, está de frente para o abismo, e o suicídio pode ser fácil e tentador, mas ele o nega. Ele pode ver o abismo, mas também as estrelas. Não se desespera, mas carrega seu fardo com revolta, liberdade e paixão. É preciso imaginar Sísifo feliz.