nenos 25/06/2023
Ensaio do Absurdismo
Habitantes desse lugar geométrico onde a razão divina ratifica parte das criaturas, a consciência da morte vislumbra a única liberdade que nós temos, que é a de existir. Camus explica essa “náusea” que sentimos diante daquilo que somos, o divórcio entre o homem e a vida, a revolta da carne, o próprio sentimento de absurdo que carrega consigo a exigência de familiaridade e o apetite de clareza em um universo estranho.
Reconhecer o caráter insensato da agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento através do suicídio não é solução, é renúncia ao desafio. Mas, a ausência total de esperança não pode ser confundida com desespero, e, portanto, Camus propõe a reconstrução e reconciliação de um homem que se sente estrangeiro através da consciência e revolta.
Há sempre algo irredutível no homem que nos escapa, e existindo nesse exílio sem solução, parte da humanidade busca reconciliação através do escândalo, entregando-se ao mundo irrisório dos deuses, sacrificando o intelecto e perdendo para sempre o mais puro dos prazeres, que é sentir e sentir-se nessa Terra.
Obedecer à chama é ao mesmo tempo o que há de mais fácil e mais difícil. Nós ansiamos pela orgia de emoções, a pretensão escandalosa de um espírito que se nega a viver um destino único, vai de encontro com a lucidez da consciência e o vazio eloquente do coração. Parece-me que o melhor caminho para a plena aceitação da existência é, nas palavras de Nietzsche, “a arte, as virtudes do espírito, a razão, algo refinado, louco ou divino”.
Link para meus highlights: https://drive.google.com/file/d/1r90kX8MvsnzWZFSNnLkDFoUV2RhqBi9S/view?usp=sharing