Tamy.Queiroz 21/03/2018 Sabe aquele sentimento de ler um livro e pensar “eu já vi isso antes”? Foi o sentimento que eu tive lendo The Cursed Child. A sensação de que eu já tinha lido aquilo em alguma fanfic.
Pra começar, a peça não foi escrita pela J. K. Rowling, foi escrita pelo Jack Thorne baseada numa história que a tia Jo escreveu. Ou seja, a peça é uma história meio que de segunda mão e não dá pra saber o quanto daquilo foi a J. K. e o quanto foi maluquice do Thorne. O fato é que a peça pega uma ideia que já vinha circulando na cabeça dos fãs há anos e extrapola.
A história começa onde o último livro terminou, com Harry e cia. levando os filhos pra estação de trem e Albus Severus (pior nome de filho da história) todo preocupado em ser escolhido pra Sonserina. Primeiro que Harry nunca devia ter tido permissão pra dar nome nem prum hamster, quanto mais pruma criança. E segundo, acho muito preconceito contra a minha casa, onde tem um monte de gente legal. Só lembrem que Merlin era da Sonserina, tá? Chegando em Hogwarts, o que acontece com Alvinho? Pá! É sorteado pra Sonserina. Tristinho, ele fica amigo da pessoa mais maravilhosa do universo, Scorpius Malfoy (exatamente, o filho do Draco), dando origem ao eterno shipp Scorbus.
Alvinho, pelas barbas de Merlin, é leviosa e não leviosah
A relação do Alvinho com o pai começa a ficar bem esquisita porque o Harry é um pai bem porcaria. Ele não sabe escutar o menino e fala umas coisas horrorosas lá no meio do livro. Se eu fosse a Gina, eu tinha pedido o divórcio na hora. Suas crises de pânico não são motivo pra ser grosso com o filho que não tem culpa de você ser um lesado, tá, Potty??
Depois de umas tretas, Alvinho escuta uma conversa do pai com uma pessoa que eu não vou dizer quem é pra não dar spoiler, sobre uma morte bem injusta nos livros. Ele conta isso pro Scorpio e os dois gênios (só que não) resolvem voltar no tempo pra impedir a dita pessoa de ser morta. Parece que burrice é ilimitada na família Potter.
Imagina o que teria acontecido se personagem X não tivesse morrido. É aí que a coisa desanda. Seguindo a linha “coisas sinistras acontecem com bruxos que mexem com o tempo, Harry”, um monte de coisa horrível começa a acontecer.
como diria o Barty Crouch Jr- ops, Décimo Doutor
Aqui eu vou fazer uma pausa pra explicar o que acontece com outra série. Existe uma minissérie do Flash, que virou filme, chamada Flashpoint (Ponto de Ignição). Nela, o Barry acorda um dia e percebe que algumas coisas estão diferentes, tipo, a mãe dele tá viva, o Batman não é o Bruce Wayne, o Superman é uma cobaia, Mulher Maravilha e Aquaman estão em guerra e por aí vai. Ele acha que os problemas foram causados por um inimigo dele. Quando a guerra estoura, o mundo inteiro está à beira de um colapso e um monte de gente está prestes a morrer, ele descobre que ele foi o responsável por aquilo. Quando ele voltou no tempo pra salvar a própria mãe, ele criou uma linha do tempo alternativa onde tudo ficava pior. O Flash resolve então voltar no tempo pra consertar a besteira que ele fez e deixa a mãe morrer.
Em The Cursed Child, os bonitos do Scorbus voltam no tempo, fazem besteira, tentam consertar, pioram a situação e criam não sei quantas realidades alternativas.
a minha cara lendo as burrices que esses meninos fazem
Além da completa falta juízo dos protagonistas, o livro ainda conta com quase nenhuma participação feminina relevante. Se nos livros anteriores, Harry nunca teria sobrevivido sem a Mione, aqui as mulheres não fazem quase nada. A Rose, coitada, só existe. É bem chato. Pleno 2016 (que foi quando eu li) e a gente ainda tem que ficar mendigando uma cena de uma mulher fazendo alguma coisa relevante…
Outra coisa bem incômoda é a necessidade que o Thorne tem de afirmar que Albus e Scorpius não são um casal. É um tal de “eles são só amigos’ aqui e ali que cansa. Querido, você pode esfregar um letreiro escrito “HÉTERO” na cara da gente, a gente vai shippar mesmo assim., bjs.
E, meldels, eu não vou nem falar sobra a criança amaldiçoada do título, que tinha tudo pra ser uma personagem poderosa, forte e sensacional, mas vira uma desculpa tosca pra reviravolta e REVELAÇÕES BOMBÁSTICAS!!! (desculpa, só funciona em caps lock)
Mas nem só de pontos negativos vive a peça. A melhor coisa da história é meu amorzinho, coisa mais fofa e preciosa: Scorpius. Nunca um Malfoy foi tão impossivelmente adorável quanto esse menino. Ele é leal, gentil, divertido e tudo que há de bom. Só é meio burrinho de ficar seguindo o Albus pra cima e pra baixo e fazer besteira com ele. Mas a gente perdoa porque ele é um amor.
não se deixe enganar pela cara de constipado do ator, ele é um fofo
O Draco também melhorou bastante, tá mais maduro e dá pra perceber que ele realmente se importa com o filho e que proteger o Scorpius a qualquer custo. Ele ainda guarda um ressentimento da adolescência, por não ter tido bons amigos e por terem uns boatos muito maldosos a respeito da família dele por aí.
O Harry tá mais chato que n’A Ordem da Fênix, mas Romione tá com tudo. Rony é outro fofucho que transborda amor. Dá pra perceber em cada linha de diálogo dele que ele é completamente apaixonado pela Mione. E, apesar da treta envolvendo a atriz ser negra, a Mione está poderosíssima na peça. E queria ter visto mais do trabalho dela, da relação dela com a Rose e o Rony.
olha quanto amor *.*
No fim das contas, The Cursed Child foi uma peça que prometeu muitas coisas e cumpriu trinta por cento do que prometeu. Prometeu uma volta a Hogwarts e entregou uma cena bem WTF envolvendo a tia do carrinho de doces. Prometeu ser uma aventura nova e empolgante e, no fim, foi meio que um jogo dos sete erros. A impressão que eu tive foi que o Thorne tentou explorar todos os ângulos errados do cenário e acabou com uma história que podia ter sido muita coisa. Podia ter sido tão reconfortante pra essa nova geração quanto os livros foram pra gente. Mas foi só uma história mediana num cenário interessante.
site:
disponível em detudoumpouquinho.com