@livrodegaia 13/05/2021
Lembranças, reflexões, viagens, experiências e sonhos.
Que Patti Smith é uma artista multifacetada todos sabem (ou deveriam saber). Musicista, cantora, compositora, poetisa, escritora, fotógrafa, enfim, uma figura de muitos feitos. Particularmente nunca fui fã do ícone punk rock propriamente dito, mas sou MUITO fã dela como pessoa e escritora.
Enquanto em "Só Garotos" ela revive sua juventude e o relacionamento com o fotógrafo Robert Mapplethorpe, em “Linha M” temos uma mulher madura e solitária narrando – de forma não linear – lembranças, reflexões, viagens, experiências literárias (descobri que ela ficou tão obcecada por Murakami quanto eu), séries favoritas (ela ama sérias investigativas/policiais e não perde as reprises), sonhos e a saudade dos familiares que já se foram – especialmente do marido Fred “Sonic” Smith. São fragmentos de memórias, divagações, recortes de episódios marcantes.
Acompanhamos suas frequentes idas ao Café ‘Ino (pequeno café que ficava em Bedford Street, NY, mesma localidade onde fica o icônico edifício da série Friends), num ritual diário que só estaria completo se ela encontrasse a mesa de sempre desocupada para passar a manhã inteira pensando, escrevendo ou lendo na companhia de uma xicara de café preto, pão torrado e azeite (quando o café fechou as portas, ela ficou com a tal mesa).
Patti mora sozinha em Nova York, mas está sempre fazendo as malas. Na maioria das vezes, simplesmente porque leu, sonhou, viu ou lembrou de algo que despertou a necessidade de viajar. Inspirada pelo livro “Diário de um ladrão”, de Jean Genet, quis conhecer a colônia penal francesa; obcecada pelo livro “2666”, de Roberto Bolaño, visitou a casa da família do escritor na Espanha e sentou na cadeira que ele usava para escrever; passou mal durante uma visita a Casa Azul (Frida Kahalo) e precisou tirar um cochilo na cama de Diego Rivera. rs! Não sei vocês, mas eu super me identifico com esse tipo de sensibilidade romântica peculiar, inclusive, já conheci lugares movida pelo mesmo tipo de sentimento. rsrs
Quem leu “Só Garotos” já está familiarizado, por exemplo, com a peregrinação de Patti por cemitérios mundo afora para “encontrar” seus ídolos. Em “Linha M” ela narra algumas dessas visitas, como quando foi ao túmulo de Sylvia Plath (em três ocasiões diferentes).
É impossível não se sensibilizar. Me conectei muito com o olhar sensível que ela sustenta diante de situações e coisas aparentemente sem importância, com sua natureza obsessiva e mania de sonhar acordada por mais tempo do que o bom senso exige. O fato de compartilharmos o vício em café, a paixão pela literatura, pela escrita, por viagens e fotografia, só reforça o meu interesse pela vida dessa artista. E que vida! Se existe uma pessoa cuja história merece ser contada, essa pessoa é Patricia Lee Smith, uma mulher que coleciona experiências fantásticas e perdas terríveis.