Jeff.Rodrigues 28/09/2017Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brCriador dos fascinantes Cenobitas e de toda a mitologia que os envolve, Clive Barker já nos chocou e infringiu dor o suficiente para esperarmos sempre o pior, no bom sentido, de suas histórias. Ao retornar a este mundo insano, unindo dois personagens já velhos conhecidos do público, Pinhead e Harry D’Amour, Evangelho de Sangue prometia trazer uma conclusão épica para essa saga. Infelizmente, achei que o livro ficou na promessa.
Antes de mais nada, é preciso dizer que Evangelho de Sangue tem um prólogo de tirar o fôlego. Um texto cujo DNA de Barker escorre pelas páginas com todo o horror e sadismo que estamos acostumamos e aprendemos a amar. Pinhead, Sacerdote do Inferno, protagoniza as cenas mais insanas que vocês jamais lerão, num confronto de muito sofrimento com o grupo de últimos magos do mundo. Ele está em uma missão rumo ao Inferno e, para isso, busca reunir todo o conhecimento oculto, feitiços e magias. Uma abertura digna das melhores obras de horror.
Na sequência, os primeiros capítulos seguem promissores com o detetive Harry D’Amour vivendo sua rotina de investigações até que, trapaceado por um “cliente”, seu caminho cruza com o do Sacerdote do Inferno. O destino os levará ao centro do Inferno bíblico, com direito a ótimas descrições num fascinante exercício imaginativo de Barker. E ponto! O grande problema é que o conjunto da narrativa se arrasta e envereda por caminhos que me soaram chatos e pouco atraentes. O início promissor perdeu espaço para sequências que em alguns momentos beiraram o trash.
A cruzada de Pinhead ao Inferno em busca do que podemos chamar de “poder absoluto” não cativa e é totalmente isenta de horror, terror ou qualquer sentimento que desperte o mínimo de medo ou algo próximo a isso. Já pelo meio da história comecei a achar que lia o gênero fantasia, tão distante a trama me soou do que estava acostumado e esperava de Clive Barker. E isso me frustrou bastante!
Os poucos pontos altos que se espalham ao longo do livro acabam sendo ofuscados pelo conjunto geral da obra. As sequências no Inferno, por exemplo, que tenderiam ao ápice, não conseguem empolgar e o desfecho que poderia ser extasiante passa batido.
Após os leitores devorarem Hellraiser, Evangelho de Sangue vem como um banho de água do ártico. Para fãs de terror, ele não consegue empolgar, e para os conhecedores e apreciadores da obra de Clive Barker ele deixa a desejar em todos os sentidos. Pinhead não merecia uma conclusão tão risível para sua mitologia.
Ps: A edição da DarkSide traz uma capa que supera em qualidade o texto. Pensada minuciosamente para agradar, atrair, vender, é uma das artes mais fodas que a editora já produziu. O único porém, de novo, fica para os erros de revisão imperdoáveis que a editora tanto comete.
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