Isis Costa 08/01/20241º livro do ano finalizado!Os incidentes de Encarcerados se desdobram após o surgimento de uma pandemia causada por uma enfermidade inicialmente considerada relativamente inofensiva. Inicia-se com sintomas que se assemelham aos da gripe comum, sendo até apelidada de a Grande Gripe. A exemplo da gripe convencional, essa patologia ceifou a vida de mais de 400 milhões de pessoas globalmente, deixando marcas profundas. No entanto, o que tornou a Grande Gripe singular foram as sequelas extraordinárias que deixou para trás.
Certos indivíduos que sobreviveram à pandemia desenvolveram a Síndrome de Haden, uma condição em que suas mentes ficaram aprisionadas dentro de seus corpos. Embora conscientes do ambiente ao redor, essas pessoas são incapazes de realizar movimentos, interagir com outros, comer, andar ou falar. Além das numerosas mortes resultantes da doença, as sequelas apresentavam características inéditas, desafiando a capacidade do sistema de saúde de qualquer país em lidar com tal complexidade.
Como várias pessoas ficaram limitadas em suas capacidades físicas, uma considerável quantia de dinheiro foi direcionada para pesquisas em ciência fundamental. Surgiram estudos e financiamentos substanciais para explorar maneiras de auxiliar as vítimas do aprisionamento. Nesse contexto, foram desenvolvidos os C3, robôs de última geração que, por meio de uma avançada interface neural, possibilitam aos indivíduos encarcerados a oportunidade de viver, estudar e trabalhar.
Uma das coisas que mais me atrai nesta obra é a maneira como a ciência e a robótica proporcionaram benefícios significativos para muitas pessoas, incluindo o agente do FBI Chris Shane, nosso protagonista. Chris alcançou notoriedade na infância ao representar a luta dos Hadens, mas, ao crescer, esforçou-se para escapar desse contexto, buscando uma vida comum.
No seu dia inaugural como policial, o agente Shane se depara com sua colega, a agente Leslie Vann, e ambos se veem imersos em um intrincado caso de homicídio. A situação envolve espionagem industrial, preconceito contra os Hadens, Hadens sem escrúpulos e uma profusão de tecnologia robótica.
A narrativa de Scalzi é ágil, e a tradução apresenta uma qualidade notável. Este não é apenas um livro centrado em uma investigação policial ou um thriller tecnológico; é também uma obra que questiona o capacitismo e combate o preconceito contra pessoas com deficiência.
Mesmo com todo o pano de fundo tecnológico, Encarcerados se desenrola em um Estados Unidos bastante próximo da nossa realidade, não exatamente repleto de alta tecnologia, e concentra-se principalmente em Washington D.C. Dada a natureza da narrativa, Scalzi incorpora um vocabulário rico em programação e tecnologia, contudo, de forma equilibrada o suficiente para não alienar leitores menos familiarizados com esses temas. Assim, é plenamente possível ignorar esses detalhes e manter um ritmo envolvente na leitura.
Encarcerados apresenta uma proposta única e envolvente, abordando temas extremamente atuais e significativos. Apesar de seu tom crítico, mantém uma leveza, adotando uma abordagem séria e consciente, ao mesmo tempo em que utiliza um humor sagaz para transmitir uma mensagem que constantemente reafirma nossa humanidade e a igualdade que compartilhamos nessa condição humana.