Lucas1429 04/05/2021
O Brasil de 61 ainda é o mesmo do Edney de agora, e de seus seguidores
Aqui, Edney, um grande jornalista e prosador contemporâneo, disseca um tema batido mas não abatido, o da sociedade de espúrias à brasileira: traz corrupção, aliciamento político e comportamento cultural conservador expostos na década de 60, pré-ditadura, e décadas depois ainda vigente por aí, por aqui.
A trilogia que ele planejou, trazendo Paulo neste, Bárbara em "A Felicidade é Fácil" e os unindo em depoimentos da derroca diversas do Brasil em "Vidas Provisórias", e a mim lendo-os de trás pra frente (na época não sabia de suas ligações), confirma que tudo continua igual - não perde-se nada nem confunde-se -, seus temas recorrentes nas três obras permitem um acesso a mais, porém de menos quando mudanças ocorrem à uma nova ordem, revolta, golpe, e os dissabores egoístas humanísticos se sobressaem ao coletivo, ao utópico. Seus personagens presenciam tudinho. E por vezes, reproduzem. Ele, democrático e assertivo, escancara como o deve ser feito.
Os protagonistas Paulo e Eduardo, oferecem uma jornada típica de romance de formação (seus 12 anos não serão os mesmos), com ingredientes do policial (o que essa mulher assassinada fez ao Poder?) ao histórico (era um ex Rio capital), escritos com maestria pelo Edney - sério, seríssimo. Seu final, particularmente agridoce, mas sensível e sensato, denota tudo o que expus desde o começo da impressão, sua escrita, e, portanto, para nós, sua leitura, é síncrona com o Brasil do hoje, de Bolsonaros, de milícias, de negacionismo, da direita ininteligível exacerbada, do conformismo cultural em manter comportamentos e reproduzi-los mesmo depois de esmiuçados à nossa fuça. Aí é que tá, a literatura está pra expiar essas demandas, e que bom que existe um quinhão de pessoas que a valorizem. Leiam esses autores que nos querem bem. Esta é, ainda, sua melhora obra.