Fran(zina) 09/01/2021
Dias de abandono: não há beleza em sofrer por alguém
Ler Elena Ferrante/pseudônimo é como jogasse em uma cama de rosas, deslumbrante pelas flores, doloroso pelos espinhos. Ferrante tem o poder de colocar a mão em feridas que aparentemente são inexistentes, e então, geminar a dor alheia de seus personagens, e isso é fascinante e triste, principalmente dado que suas obras são sobre coisas que pode acontecer com qualquer leitor.
Em especial seu livro Dias de abandono, em que tratasse sobre a história de Olga, uma mulher de 38 anos, dois filhos e um cachorro, que após 15 anos de casamento, seu até então marido, Mario, decide em um dia normal, ao final de uma refeição enquanto tiram os pratos da mesa, comunicar que vai embora, assim, como quem diz: “vou na padaria comprar pão e volto já.”
A prosa narrada em primeira pessoa transmite a sensação que Olga está ao nosso lado, sendo possível vislumbrar todas as suas fases de abandono. Logo, de início, ela recursa a aceitar o fim do casamento, lutando durante todo o caminho em não cair na armadilha de pobre mulher abandonada. O livro escancara o como o abandono e a dependência em alguém, sobretudo em um homem, pode levar ao abismo e desespero.
Dias de abandono, é um livro necessária, sobre a dor massacrante que alguém pode causar e em especial sobre uma mulher quebrada ao ponto de desabar em mil pedaços tentando não desabar em mil pedaços. Existe tanta maneira de escrever sobre está destruída, mas, Elena Ferrante escolheu o jeito mais real, sem romantizar a dor, porque não há beleza em sofrer por alguém, principalmente quando esse alguém lhe promete o mundo e depois lhe abandona, desperdiçando seus dias, seu corpo, suas oportunidades, seus sonhos.