Ayla Cedraz 22/02/2023
Para as próximas décadas
Eu espero, daqui a uns vinte anos (quem sabe dez, sendo generosa), reler este livro e reconhecer como eu mudei. "Orlando" certamente tem esse poder, sendo o Tempo, afinal, seu maior personagem, o grande deus regente de tudo que é (des)conhecido.
Eu não esperava gostar desta leitura. Há alguns anos, li despretensiosamente a sua primeira página e pensei comigo quão denso parecia ser, daquelas obras que parecem cultivar em sua superfície quilômetros de hera selvagem, os quais só o leitor corajoso e persistente pode atravessar. Havia comigo ainda um pouco dessa sensação quando, há três ou quatro semanas, resolvi, enfim, "enfrentá-lo".
Apesar de já conhecer um tanto da escrita de Woolf, eu não contava com a sua capacidade de encantar sem ludibriar. Não há nada ali que precise ser enfrentado. Digo, é como reconhecer estar diante de algo fenomenal e ao mesmo tempo ter certeza de que há ali um sem-fim de informações ocultas, decididamente inacessíveis para um olhar despreparado e inexperiente (como é o meu caso). Ainda assim, felizmente, a narrativa é gentil o bastante para te manter perto, não esquecendo de deixar na última página um convite sincero de reencontro, um "até logo" para daqui a vinte (quem sabe dez) anos.