Helder 07/11/2016Livro neurótico baseado em fatos reais?Era de se esperar que fosse isso, pois desde a capa o livro já me pareceu neurótico.
Ainda me pergunto se realmente gostei do livro. Vejo-o parecido a um jogo. Sinto que a sua escrita foi tremendamente pensada para mexer com o leitor e “criar um clima”. Isso já vem desde o nome da autora e do livro. Temos aqui Delphine de Vigan escrevendo um livro chamado Baseado em Fatos reais onde conta a estória de uma autora chamada Delphine que nos narra em primeira pessoa uma experiência real e perturbadora que teve em sua vida. O que é verdade e o que é ficção?
É uma leitura estranha, mas que nos atiça. Em diversos momentos a autora vai nos passando uma estória morna, mas que nos deixa em ponto de atenção, pois parece que há um fantasma rondando e que algo bombástico vai ocorrer, e em diversas vezes este estopim aceso realmente causa pequenas explosões. Mas são pequenas explosões. O interessante aqui é o esperar. Não o sentir.
Por outro lado, não estamos aqui para ler um livro de terror, mas sim para discutir o limite entre realidade e ficção.
Delphine é uma escritora que vem de um mega-sucesso editorial após ter publicado um livro biográfico, que lhe trouxe problemas com seus familiares, tanto que de repente ela passa a receber cartas anônimas de alguém que aparentemente não curtiu ser exposto nesta obra. O que ela teria escrito? Ela busca inspiração e um tema para um novo romance, e devido a pesada carga pessoal do último, acha que é o momento de voltar a ficção.
Em paralelo a isso, sua vida real parece tranquila, pois tem uma relação estável com um homem de sua faixa etária que faz documentários sobre escritores e seu casal de filhos gêmeos está saindo de casa para ir estudar em outra cidade.
É neste momento de sua vida que ela conhece L. Uma mulher extremamente bela, inteligente e articulada, porem bem misteriosa. L. é a antítese de Delphine. Enquanto uma é travada, a outra é extremamente ousada. Em pouco tempo esta amizade cresce e ambas passam a se completar. Ou será que L passa a completar Delphine? Mas o que L pede em troca?
L insiste em que o caminho para o sucesso é a realidade. Ela afirma que o público busca livros baseados em fatos reais, que ele precisa sentir que uma estória é reflexo de algo que realmente aconteceu, que o autor passou por aquilo, e que não é somente fruto da imaginação de algum autor criativo. Sendo assim, de acordo com L, a entrega de Delphine foi o motivo de seu sucesso e L insiste que do baú de onde saíram aquelas coisas, ainda existem mais coisas a serem ditas, e que o público precisa disso. Ou será que L precisa disso?
Criatividade X Realidade?
Em tempos de reality shows, não deixa de haver um pouco de verdade no palavrório de L. , apesar de estas discussões cansarem em diversos momentos.
Mas quem é L? Uma fã apaixonada pelo último livro de Delphine? Uma vítima deste livro? Uma antiga amiga? Uma antiga inimiga? E
No fim, aconteceu algo que eu já imaginava, porém nem todas as respostas vieram, e talvez não tivesse muito como a autora fugir do clichê, mas acho que valeu a pena participar do jogo proposto por ela até chegar ao final da narrativa.
Não sei se recomendo. Cada um que decida se quer jogar ou não.