MiCandeloro 07/01/2017
De tirar o fôlego!
Vee era uma garota que nasceu para os bastidores. Tímida, recatada e muito responsável, passava os seus dias entre o colégio, a loja de roupas na qual trabalhava, e o teatro da escola, onde cuidava da maquiagem e do figurino dos atores, seus colegas de aula.
Há cinco meses ela enfrentava um castigo injusto, com toque de recolher, por conta de um acidente que quase lhe tirara a vida e sobre o qual ninguém sabia, fora Syd, sua melhor amiga.
Fazia um tempo que Vee estava a fim de Matthew, o protagonista da peça de teatro, que contracenava com Syd e que tinha uma péssima fama. Mas não importava, pois cada vez mais parecia que ele estava lhe dando bola.
Infelizmente, as coisas não saíram como o esperado. No ato final da apresentação, Matthew beijou Syd por um tempo prolongado e desnecessário, e assumiu ter enviado buquês de flores para a menina, deixando Vee possessa.
Ela estava cansada de ser a garota boazinha, que respeitava os pais, que lambia o chão por onde Syd passava, e que era invisível aos olhos dos outros.
Num impulso, Vee decidiu se inscrever no Nerve, um jogo visto pelo mundo todo, composto por diversos desafios que, quando cumpridos, pagavam prêmios aos jogadores.
Seu primeiro desafio na cafeteria foi mais uma brincadeira, uma forma de se testar, superar suas dificuldades, mas mal sabia ela que faria tanto sucesso, conquistaria fãs e chamaria a atenção do próprio Nerve.
A cada novo desafio aceito, as propostas de Nerve ficavam ainda mais altas, e por mais que Vee soubesse em seu íntimo que tinha que pular fora, sua ganância não permitia. E foi assim que ela colocou os seus amigos, a sua família e a si mesma em risco.
Será que Vee será capaz de salvar a todos e dar um basta nesta competição mortal? Ou estará ela fadada a ser mais uma vítima de Nerve?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam.
***
Escolhi ler Nerve para fugir da minha zona de conforto e passar o tempo com algo diferente, mas não imaginava que ia me deparar com uma leitura tão eletrizante e cheia de ação.
Pensem em Jogos Mortais, com todo o seu terror psicológico, mas sem a carnificina, pois é, Nerve é mais ou menos assim. E numa era em que impera a babaquice mor, não sei como ainda ninguém criou um jogo como esse. Ah, já sei, porque para vermos pessoas se deixando picar por cobras, colocando a mão em formigueiro, bebendo xixi e se humilhando publicamente (nada contra), não precisamos pagar, basta abrirmos o YouTube.
Em Nerve, para participar das partidas e concorrer aos prêmios, o candidato deve realizar algum desafio, ser filmado, e subir o vídeo na plataforma. Os vídeos mais vistos, mais comentados e com mais Observadores, são aprovados.
Para assistir às grandes competições na tela do computador ou celular, os Observadores precisam pagar, e é assustador se dar conta de quanta gente se sujeita a isso. Pessoas sádicas, que têm prazer de bisbilhotar a vida alheia e de ver os outros sofrerem. E o pior é que isso não é restrito à ficção.
Além deles, existem os Observadores presenciais, que pagam pequenas fortunas para seguirem os jogadores e verem tudo em primeira mão, podendo filmar e invadir a privacidade alheia.
Tudo isso mexeu demais comigo, pois achei real demais, possível demais, e a perversidade humana é chocante.
Muito me lembrou um pouco da minha realidade. Por mais que eu não grave desafios, tenho uma certa famosidade, e é incrível como as pessoas se sentem no direito de dar pitacos na sua vida, serem grosseiras e te abordarem ou te seguirem na rua só porque te acompanham online.
Mas enfim, voltando ao livro, Vee rapidamente se vê envolta neste universo que ela nem sabia que existia, tendo que lidar com as dificuldades das provas, a perseguição dos Observadores, e o dilema moral de se o que ela estava fazendo era certo ou errado.
Em dados momentos fiquei com raiva de Vee e do seu lado egocêntrico. Em outros a entendi e também ficaria tentada a participar dos desafios, não só pelo dinheiro, mas pela emoção e superação dos nossos medos.
Fiquei nervosa do início ao fim e mega curiosa com o que ia acontecer. Só não dei nota máxima a essa obra, pois achei o final insosso, comparado a todo resto. Mas para quem gosta de desfechos felizes, com um gancho para algo mais, certamente ficará satisfeito.
Palmas para a autora que criou uma história super original e criativa. Com uma narrativa eletrizante, uma pitada de romance e questionamentos interessantes sobre a nossa vida online, Nerve irá conquistar vocês.
site: http://www.recantodami.com