Biia Rozante | @atitudeliteraria 29/10/2016Divertido, surpreendente e envolvente. Amei.Com personagens reais, dramas e situações verossímeis, PENSEI QUE FOSSE VERDADE me conquistou pela simplicidade do enredo e narrativa envolvente.
Gwen é uma jovem de dezessete anos, filha de pais separados, que mora com a mãe, o irmãozinho autista, o avô e o seu primo Nick que é como se fosse um irmão. De origem humilde, moradora de uma pequena cidadezinha litorânea, é a típica adolescente cheia de conflitos, inseguranças e dúvidas, ao mesmo tempo em que se sente confiante, determinada e cheia de si. Assim como os demais jovens da ilha, precisa trabalhar no verão para ajudar financeiramente sua família. Porém, algo em seu passado a marcou, um erro que a constrange e irrita fazendo com que deseje ser capaz de ir embora da ilha a cada dia, mais e mais. Porém, tentar a vida longe de casa não é algo simples...
O que amei nessa personagem é que ela é gente como a gente, pobre, trabalhadora, que não fica de mimimi, se lamuriando ou sofrendo pelo que a vida é, muito pelo contrário, ela vai à luta. Gwen está naquela fase de se auto-descobrir, buscando encontrar seu caminho e em função disso vive em conflitos com si mesma. Ao mesmo tempo em que tudo parece estar bem, de repente já não está mais. São decisões erradas de seu passado, que agora voltaram a bater em sua porta atormentando o presente, questionamentos sobre seu futuro, família, amor e o medo de abrir seu coração e se machucar “outra vez”. Linda e impulsiva, Gwen é uma boa filha, uma irmã dedicada e uma amiga carinhosa, com dificuldades para confiar, dar segundas chances, o que é compreensível levando em consideração o que lhe aconteceu.
“A vida é mais do que aquilo de que você tem medo...”
Abordando relações familiares, amizade, perdão, recomeços e amor, PENSEI QUE FOSSE VERDADE te convida a conhecer a Gwen, suas confusões, inseguranças e conquistas. Uma jovem descobrindo sobre si mesma, o primeiro amor e como lidar com a decepção. Com um romance delicado, que em minha opinião ficou em segundo plano, apesar de ter sido bem explorado, foi doce, divertido, suave, leve, dois jovens descobrindo como lidarem com as diferenças, permitindo que as feridas se curem, que mágoas sejam esquecidas e juntos superando, amadurecendo e vivendo o amor em sua forma mais pura, aquele que nasce de uma bela amizade. O livro é um misto de emoções bem exploradas e temas que nos levam a refletir, como por exemplo o preconceito contra a mulher, o contraste das diferenças sociais, a importância dos verdadeiros amigos ao nosso lado e o papel fundamental que a família desempenha em nossas vidas.
“—Temos algum destino? — pergunto?— Aqui — diz Cass, como se não estivéssemos voando pela água, como se estivéssemos em um único ponto. — A menos que você prefira ir a algum outro lugar. Em alguma outra direção.”
Os personagens principais me conquistaram totalmente, amei Gwen, sua personalidade forte e a maneira como ela lida com todas as dificuldades, sua relação com a família, o modo como se apoiam, se aceitam e cuidam uns dos outros, é lindo. Seu irmãozinho roubou a cena em diversos momentos, é um menino especial e tão cheio de pureza e inocência que me manteve cativa e atenta a cada cena que ele apareceu. Assim como, amei o Nick, um jovem que sofreu perdas demais na sua vida, que busca incansavelmente seus sonhos e por uma infelicidade acaba se perdendo ao longo do caminho, porém é nesse momento também que ele descobre quem são os verdadeiros ao seu lado e o valor do amor fraternal. Já Cass, me conquistou por sua doçura, força de vontade e jeito de ser, um jovem tão lindo, que apesar de ter “tudo” na vida não faz questão de expor isso, ele sabe o que quer e de maneira tranquila aos pouquinhos ele vai atrás disso. Também fiquei encantada pelos personagens secundários e a maneira como interferem na trama e são responsáveis por algumas reviravoltas. Os temas abordados são totalmente pertinentes para o enredo, toda a trama em si foi muito bem construída e os cenários estão lindos e bem explorados. Apesar do livro em si não ter um drama tão intenso, e aquele BOOM extraordinário, foi uma leitura rápida, deliciosa e proveitosa.
“(...) de repente, quando você menos espera, está quase com vinte anos e BUM — agora, as suas escolhas importam. Não se trata mais de saber se você prefere chocolate ou baunilha, a ponte ou o píer, Sandy Claw ou Abenaki. É a sua vida inteira que está em jogo. De repente, você fica a um triz, como disse Nic, de dar o passo errado. Ou o passo certo. E agora, faz toda a diferença.”
Quando finalizei a leitura fiquei com aquele sentimento de saudade. Querendo que os capítulos continuassem e que pudesse acompanhar os próximos anos de suas vidas, para ter a certeza de que tudo acabou de maneira linda e plena. E é muito gostoso sentir isso. Trás a sensação de que a conexão com os personagens foi real e que infelizmente ainda não estava pronta para dizer adeus.
“Talvez eu tenha me calado porque não sei o que dizer. Ou talvez porque finalmente entendi que às vezes nós nos apegamos a uma coisa, uma pessoa, um ressentimento, um arrependimento, uma ideia de quem somos... porque não sabemos o que buscar em seguida. Que o que fizemos antes é o que temos que fazer de novo. Que só há recomeços e segundas chances...”
Huntley Fitzpatrick possui uma narrativa suave, sábia, que trata de diversos assuntos com muita sutileza, trás muitas reviravoltas e questionamentos sem deixar que o texto fique cansativo ou chato. Ela consegue nos prender através dos pequenos segredos que se negam a ser revelados abruptamente tornando a leitura viciante. Apesar dos pequenos clichês do gênero, para mim a história funcionou perfeitamente bem e me surpreendeu em diversos momentos.
Amei a capa e a delicadeza da diagramação. Editora Valentina fez um excelente trabalho
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