A Redenção do Anjo Caído

A Redenção do Anjo Caído Fabio Baptista




Resenhas - A Redenção do Anjo Caído


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Gustavo Araujo 12/09/2016

Um Livro para Pensar
“A dádiva da mente brilhante sempre vem acompanhada pela maldição do rápido enfastiamento com tudo e com todos.”

Lúcifer, derrotado no início dos Tempos, enfim percebe a onisciência de Deus e sua própria condição de perdedor eterno. Dessa forma, resolve pedir ao Altíssimo uma espécie de segunda chance, sendo para isso enviado ao Mundo dos Homens.

Esta é a linha condutora do provocativo romance de Fabio Baptista, aliás, sua primeira incursão em narrativas de fôlego.
Acompanhamos a história do Primeiro Anjo desde o alvorecer dos tempos, suas batalhas ao lado do Arcanjo Miguel em nome de Deus, até os eventos que culminaram em sua expulsão do Paraíso.

Ao procurar sua redenção, Lúcifer vem à Terra, viver entre os humanos, na pele de um mendigo que luta pela vida nas ruas de São Paulo. É onde se torna “Lucien”, onde descobre sua verdadeira essência, céu e inferno.

Em meio a gente comum, torna-se companheiro de pequenos furtos de uma garota de rua chamada Gisele.

Então a história, que poderia ser como tantas outras desse gênero, ganha força própria, eis que confere a Lúcifer uma dimensão humana profunda e perturbadora.

As cenas urbanas e os personagens que surgem no contexto narrativo criam uma atmosfera facilmente reconhecível, aproximando o leitor dos personagens, tornando o livro impossível de largar.

Não espere clichês. Não acredite necessariamente numa redenção – embora o título do livro possa dar essa ideia, não se trata de spoiler. O que se denota é que o Diabo pode ter muitas faces, algumas agradáveis, outras nem tanto.

Irascível, sarcástico, deliciosamente irônico e sempre pronto a se refestelar com o sofrimento alheio (especialmente com as torturas e com as humilhações impostas aos demônios do segundo escalão). Mas também é alguém que se questiona, que se comove, que sofre e que não se conforma com os desígnios do Altíssimo.

Da narrativa se percebe o cuidadoso trabalho de pesquisa do autor. A segurança nas descrições de Céu e Inferno é notável. Tudo soa real: portões, planícies, desfiladeiros; é como se reconhecêssemos locais visitados há muito tempo. Também os anjos e demônios que secundam Deus e o Diabo, têm suas características ricamente descritas, não só em termos físicos, mas particularmente no aspecto psicológico, o que lhes garante a humanidade necessária para que se tornem verdadeiros.

Embora o aspecto sobrenatural dê um ótimo ritmo da história, é no ambiente terreno que Fabio Baptista ganha definitivamente o leitor. A provação pela qual o Diabo passa ao surgir em São Paulo, em busca de uma segunda chance, é especialmente inspirada e vale todo o livro, apresentando a singular qualidade de nos deixar pensando dias e dias a respeito de suas entrelinhas.

Como leitores, somos colocados diante de nossos próprios defeitos. Revisitamos momentos-chave de nossa própria existência, aqueles que levariam nossas vidas a rumos completamente diferentes se na ocasião tivéssemos feito outras escolhas.

É exatamente disso que trata “A Redenção do Anjo Caído: de opções, de renúncias, de resignação. Um livro para quem aprecia o universo bíblico em seu aspecto mitológico, mas também para aqueles que procuram profundidade em seus personagens.

Um livro que arrebata pela natureza fantástica, mas que deixa sua marca também pelos questionamentos que nos leva a fazer.

site: http://entrecontos.com
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Claudia Angst 09/09/2016

A Redenção de um anjo ou do leitor?
Confesso que quando comecei a ler A Redenção do Anjo Caído, pensei: mais um livro sobre anjos. Não, não é mais um livro sobre anjos. É o livro. Melhor ou pior? Isso cabe a cada leitor decidir, mas posso contribuir compartilhando minhas impressões.

A saga do carismático Lúcifer divide-se em etapas bem definidas, como degraus desordenados: Paraíso, Inferno, Terra. Conforme o protagonista entra em um mundo, nota-se logo uma clara mudança de “pegada” no tom da narrativa. Tudo se transforma, o tempo todo, no universo do maior dos anjos.

Ao longo dos capítulos, consegui fazer uma interessante associação entre os acontecimentos narrados e os quatro elementos: ar, terra, água e fogo. Diz o autor que não foi intencional, mas está lá, os símbolos em quase todos os parágrafos, marcando a queda, o despertar e a esperada redenção do anjo caído.

Os personagens são construídos de maneira linear, tecidos com os fios delicados de fantasia e cerzidos com resistente e áspero material cotidiano. Não há como não se sensibilizar com a personagem Gisele, a Giza. Encantadora malandrinha, o contraponto de Lúcifer. Misturados a anjos e demônios, surgem outros personagens bem simpáticos, sempre muito bem caracterizados, que me pareceram tão familiares como, por exemplo, a senhora da barraquinha de hot dog.

Como definir Lulu, digo, Lúcifer, na sua trajetória terrena? Creio que essa será uma experiência bastante particular do leitor. O mais provável é que você encontre um anjo caído com tantas facetas, mesclando instintos de vingança, proteção e retomada de poder, que desista completamente de qualquer definição.

Algumas passagens do livro beiram ao drama. Não, pensando bem, comem o drama pelas beiradas. Parágrafos inteiros abordam o caos externo e interno, com habilidade e talvez, como já disse alguém, toques de sadismo. O lado triste, infeliz, a parcela que nem o inferno aceitou. E não serei eu que revelarei se o autor poupou ou não as criancinhas.

Há também momentos de poesia, com direito ao contraste da delicadeza da borboletinha amarela com um homem de proporções rinocerônticas. É melhor não se focar muito nessas passagens ou se arriscará a rotular o autor de “fofolete”.

Uma das passagens mais comoventes do livro mostra que o Príncipe dos Anjos, apesar de toda a sua trajetória infernal, mantém a essência de criação divina, chegando a reconhecer a possibilidade de se aproximar dos seres humanos, os usurpadores do amor de Deus.

(...) sensação de que talvez não fosse assim tão difícil gostar dos humanos.

A parte mais, digamos assim, terrena do romance foi a que mais me agradou. A identificação com os personagens e seus conflitos foi imediata. Por isso, senti um certo alívio quando notei que o autor não se alongou demais nos pormenores infernais. Chega a queimar, mas passa.

A afiada caracterização dos personagens e a ótima descrição das relações criadas no novo cotidiano de Lúcifer fizeram com que eu me aproximasse mais da trama, e olhando bem de perto, ninguém é normal, nem o diabo é tão feio quanto dizem. E assim que assume o lado endiabrado, o leitor é capaz de apertar as mãos do narrador e dizer – Estamos juntos nessa!

Portanto, leitor, não se espante se, lá pela metade do livro, você se pegar torcendo pelo demônio. Aquiete o seu sentimento de culpa dizendo que, afinal, antes de tudo, Lúcifer é um anjo criado por Deus. Talvez isso funcione. Comigo, funcionou bem.

Fabio Baptista também nos brinda, vez por outra, com cutucadas nem sempre sutis, em meio a frases irônicas e clichês bem colocados, despertando sentimentos tão humanos, daqueles que nos levam do céu ao inferno. A perda de um amor, a morte de um amigo, a traição inesperada provam que nada mais será o mesmo, assim que se virar a página:

(...) mesmo que uma ferida daquelas que demoram a cicatrizar estivesse aberta e as coisas estivessem um pouco (um pouco que incomodava muito) diferentes do que eram antes.

Adorei acompanhar a saga de Lúcifer, sua personalidade bipolar (anjo/demônio), ora caindo no drama, no inferno das emoções mais densas e rasteiras; ora tinindo em ironia e até revelando sentimentos e reações que chegam a comover a mais insensível Claudia, digo, pedra.

Apesar de tudo (sono, cansaço, as pragas do Egito reunidas, o apocalipse que é a vida de uma mãe de adolescente), não consegui parar de ler até chegar ao último ponto. Simples assim, gostei mesmo do livro, embora tenha praguejado algumas vezes contra o autor. Depois ele ainda se pergunta por que o Cupido está de mal...

Segundo consta nos autos, lendários ou não, o romance foi concluído sob algumas ameaças de morte. Valeu a “pena” do escritor e todas as noites insones. A cada página, a crescente curiosidade supera qualquer resistência ao tema anjos e demônios.

Quem quer conhecer o destino do anjo caído, levanta a mão, digo... vai ler o livro!

Sai quando nas livrarias?

Cotação: *****




site: http://entendeuouquerqueeuresenhe.blogspot.com.br/2016/09/a-redencao-do-anjo-caido-fabio-baptista.html
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