Lucas1429 22/09/2021
As mulheres de Elena respiram fora das páginas
Obra com assuntos de estima de Elena: a maternidade, o crescimento, a feminilidade na Itália, em território napolitano, num mundo caótico de determinações formais e de diferenças fraternais. Em matéria de verossimilhança, é à realidade a tal escrita, sempre potente, aprazada por Elena. Suas mulheres são naturais, guerreiras (num sentido de equidade da posição feminina), verídicas. Numa exposição à banalização ao maternal, ela não se limita em espairecer os meandros que tornam-se as atitudes de mães idealizadas para além da própria gestante/puérpera/mãe, na luta para despir a romantização do assunto.
A protagonista, Leda, é o que todo autor sonha em dar à luz, num trocadilho sensato ao tema; ela tem duas filhas crescidas que fantasiosamente sempre foram sua benção. Mas carregam a sina do peso materno à progenitora, uma mulher que reconhece sua presunção ambiciosa a que nossa sociedade compele, a da satisfação corporal, econômica, espiritual e psicológica, aqui mal sucedidas. E está tudo bem em se assumir instável, segundo seu texto.
Quando encontra em Nina, anos mais jovem, oriunda da sua terra natal evitada, e inexperiente, com sua filhinha Elena, Leda projeta na então desconhecida sua sombra do passado; Nina quase a obriga, indiretamente, a se confrontar com o ser mãe na vida de Leda. Do primeiro contato visual à uma inesperada união de ambas, o estado de aproximação valerá de uma figura que se descobrirá onipotente. É esse objeto o símbolo da retórica de Ferrante para moção de seu texto ser tocante, supostamente metaforizado em seu título, amado e vigiado pelo significado social, até lírico, que ele apresenta, principalmente, porém abrangente também, de uma mulher. É dela a força emanada da autora para desbravar e desnudar sua denúncia de seres auto enjeitados, desacreditados, desvencilhados de sua natureza, em prol alheio. O importante é a confluência ejetada até nós, seus espectadores, atingida, prontos a nos enxergarmos e reconhecermos o sufocante ar que dividimos sem entender nosso propósito. E repito, para Leda e à geral, está tudo bem em não estar bem.