José Igor 28/01/2018
Vai um drink aí?
UM MARTÍNI COM O DIABO, de Claudia Lemes
“Las Vegas, Nevada, EUA. A máfia italiana está em guerra. E um filho busca vingança contra o pai” é a primeira coisa que você vai ler na sinopse do livro. A segunda é: “Charlie olhou para a bebida de Tony. Sabia, pelo formato do copo e o palito com azeitonas, que era um martíni [...]”. Resultado: a primeira “explosão” na sua cabeça! Não entendeu ainda? Releia o título do livro...
Booom! Num sentido conotativo: O pai do cara é o “Diabo”!
Só aí você já se sente propulsionado, ansioso para abrir o livro indagando: “Caramba! O que esse tal de Tony faz com a vida do moleque?”
Se você se perguntou o mesmo que eu, então, amigo, Cláudia Lemes já te pegou pelo colarinho e te jogou na máfia italiana.
Mais que um enredo sobre vingança, com certeza este livro trata de Determinação. Fiquei mais focado no engajamento do personagem Charlie, filho “rejeitado” do mafioso Tony, que as vezes eu acabava me esquecendo de que ele (o garoto) estava ali para se vingar do pai. (E acredite, Cláudia faz isso de uma maneira que você para, e diz: “Filhadamãe”).
E é claro, é só ler a sinopse inteira que você irá perceber que a autora conseguiu o que desejava. Brincou com os sentimentos do jovem Charlie (e com a gente), e o pior, ela já havia deixado claro, veja:
“[...] Mas Las Vegas corrompe. E o desejo de vingança de Charlie é posto à prova quando ele se vê seduzido por amizades, poder, drogas e dinheiro que a máfia oferece.”
“Filhadamãe2!”
Antes de mais nada, venho aqui dizer que não sou fã de tramas sobre máfias, muito menos máfia italiana (que deve ser a mais “popular”). Sim, me julguem, nunca vi “O poderoso chefão” nem coisa parecida, e, sobre a originalidade do livro da Cláudia, sem ter embasamento e conhecimento do assunto, fica meio difícil para mim, analisar. Contudo, arrisco em dizer que: “Estou cheio! Deu pra mim. Já estou farto!”
Mas calma! Calma! É um: “Estou cheio, deu pra mim, já estou farto” no sentido de estar verdadeiramente satisfeito! Como eu disse, nunca li nada do tipo (nem assisti) e puta-merda, adorei o troço! Quem já está mais habituado e é mais gabaritado no assunto pode avaliar a obra num sentido mais amplo, mas como um leitor comum, caramba, eu simplesmente fiquei preso, agarrado, mantido refém, desta história.
O prólogo é meio doido. Tem sangue, confusão, e uma carga emocional que nos arrebata. Você fica bem perdido sem saber o que está acontecendo, e já fazendo parte do inferno estabelecido. Isso ajuda a nos questionar: “Que porra é essa?”. E daí, a leitura flui de um jeito que não dá mais para largar.
No início, ficamos sabendo do “abandono” do pai, e da rebeldia do adolescente Charlie. A mãe dele, Loreen, nos faz sentir mais ódio ainda, e o rapaz, ao saber das injustiças que sua mãe sofreu, jurou vingança ao pai. (Você se pega jurando vingança também).
O rapaz bolou alguns planos que, no começo, eu torci a cara... Tipo: “Tão fácil assim?” Tudo bem que o garoto tem lá sua esperteza fora do comum, é bem inteligente e movido pelo ódio, mas... Como assim ele ‘tá conseguindo se “infiltrar” facilmente na porra-da-máfia-italiana???
Incomodado, fui seguindo a leitura, porque a escrita dessa mulher é muito acima da média nacional* (Este asterisco eu explico mais no final). E o enredo, a gente sente, que vai valer muito a pena no final das contas.
Pois não é que as coisas vão fazendo mais sentido? (Principalmente no fechamento da história).
O que mudou completamente a minha perspectiva, quanto ao incômodo, foi quando me deparei com (o que para mim, serviu de primeiro ponto de virada) a descoberta de Charlie sobre não ser o único infiltrado “no esquema”... Pronto, contei demais, eu acho, mas isso não estraga em nada a experiência de leitura de ninguém... Só estou expondo até onde foi, mais ou menos, o meu decrescente desconforto... Desconforto este com relação em como as coisas estavam dando certo para Charlie, Ok? Pois o livro todo é cheio de situações desconfortantes e desconcertantes, é recheado com muita violência, e açucarado e polvilhado com sangue.
Não vou (e nem quero) me estender demais sobre a trama em si, pois o que me deixou mais impactado foram as inúmeras vezes que eu pausava a leitura para tomar um fôlego (e mais uma xícara de café) e me dava conta do seguinte: “Caralho! Isto aqui é escrito por uma autora brasileira!*” (Mais um asterisco).
Os cenários são tão bem criados, os personagens são tão bem desenvolvidos que você se sente em Las Vegas (quem dera, tomando um martíni), se esquivando de tiros e se pegando ofegante nas cenas violentas. Tudo isso sem deixar a trama enfadonha com descrições demais numa tentativa forçosa de nos tirar do Brasil e nos enfiar no estrangeiro.
E reforço aqui: Não estou falando que: “É tão bom que nem parece nacional”, como a própria autora nos contou (numa palestra) sobre já ter recebido comentários assim. Estou reafirmando que, mesmo sendo escrito por uma brasileira, dá para ver que a ambientação foi muito bem feita, sem nos cansar, e fica nítida toda a pesquisa da autora para elaborar o enredo tão cheio de ação e reflexões pesadas.
Não queria ficar usando tantos adjetivos, mas a história é boa-pra-caralho! É o que podemos chamar de “LIivrão-da-porra”! Pronto.
Quero agradecer à autora por desenvolver uma personagem que despertou minha paixão: Rocket (Minha preferida!). E também por criar uma Marion que combina muito com a imagem de seu bichano. (Cláudia, você escolheu um gato de propósito, não foi? Pois a personagem Marion me lembra, demais, um gato, ou melhor, uma gata). Obs.: Caso minha pergunta seja completamente estranha a todos, me perdoem, não estou sob efeito de drogas, mas meu cérebro às vezes tem dessas, faz algumas sinapses que apenas eu e alguns malucos-da-cabeça entendem, hehehe).
(Sorrisinho amarelado, e cara de paisagem)... Ok, vamos continuar!
Bom, tudo foi muito bem escrito e perfeitamente desenvolvido. Está na cara que Cláudia Lemes manja mesmo de técnicas literárias, principalmente no desenvolvimento de thriller (E não é à toa que a pessoinha dá aulas sobre...). Juro que não queria parar de ler, lamentava toda hora em que eu era interrompido, porque: “lendo = não estar fazendo nada”...
Demorei tanto para fazer esta resenha (#vergonha) que acabei esquecendo as milhares de coisas que eu queria comentar.
Então, o que me vem agora é o seguinte: um dos meus capítulos favoritos foi: Anos de paz, o qual aborda certas evoluções (tanto dos personagens quanto do enredo em si); e, de volta à Marion e sua gata (desculpe): Não é possível que o capítulo “Bicho de estimação” não queira dizer algo além que o próprio bichinho de estimação de Marion... (Cláudia, preciso de terapia ou não? Me diz, please!).
É um capítulo violento e um dos que eu mais gostei também. Tem uma baita carga emocional, raival, filhadaputal neste capítulo e foi escrito de uma forma magnífica.
Só que mais violento ainda, de a gente roer as unhas e arrancar as cutículas nos dentes, foi o capítulo “Três dias”. Nossa, este foi de longe, o que mais me deixou estarrecido. Precisei de uns martínis para aliviar a tensão. (Aqui em casa não tinha, mas me vali de um copo de uísque mesmo — com gelo, para dar uma refrescada na caixola). A violência descrita nesta parte é de incomodar até os menos sensíveis. Nos faz refletir sobre até que ponto o ser humano é capaz de cometer atrocidades com o outro ser humano apenas por sadismo disfarçado de uma “ordem vinda de cima”. Cara, este capítulo é brutal. Quem passar imune sem fortes reflexões, não leu direito, ou é desprovido de qualquer sentimento que faz de nós: humanos. É do caralho! Mesmo!
O final, na minha opinião, não poderia ter sido mais perfeito. Na realidade é o que a gente esperava desde o começo. O anticlímax que a “filhadamãe3” criou, foi perfeito. Você primeiro diz: “Não. Você não pode nos entregar um final assim”... para depois você ouvir a voz da Cláudia dizendo: “Chuuuupa!”, hahaha. E claro, nesta hora a gente sente o coração acalentado, hehehe.
Obrigado autora, sua “filhadamãezinha4!”, por nos dar um susto deste tamanho. Meus batimentos cardíacos agradecem o exercício...
Para quem leu: Vocês não ficaram com uma sensação “cíclica” ao finalizar a leitura?
(Sem spoilers, por favor). Só respondam: “Sim” ou “Não”, irei entender...
Resumidamente, (depois que já falei como um papagaio no modo “repit”), o que eu quero dizer com tudo isso é: Conheça o trabalho da Cláudia Lemes. (E não estou pedindo, estou intimando, porra! Hahaha). Vale muito a pena. A escrita dela é feita com muita dedicação. Reflexo e resultado de muito estudo e aplicação de técnicas, com certeza. Quero e vou ler muitos outros trabalhos dela, sendo os próximos: “Eu vejo Kate” e “Santa Adrenalina!” E obviamente, quero aprender com ela, para que um dia eu possa escrever tramas tão fodas quanto as dela... (Olha só o objetivo do cara, hahaha! Ambição zero, não?).
Mais um orgulho nacional! Mais uma indicação do cacete para vocês. Trabalho impecável. Trama muito bem amarrada. E só para não dizer que, num contexto geral, eu não impliquei com ABSOLUTAMENTE NADA, vou ser CRUEL (muahahaha) e dizer: “IMPLIQUEI SIM! Impliquei com o artigo “O” em vermelho na lombada do livro (físico), que é diferente na capa”. Hahahaha. Pronto, falei! Só para não dizerem que sou ultra-puxa-saco do livro. Hahaha.
Mas falando sério. É sim, um livrão da porra!
Conheçam de verdade os trabalhos da Cláudia, inclusive a Associação que ela criou, a ABERST (Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror), da qual eu também faço parte (É nóis que tá!).
E, ah, claro, sobre os asteriscos!
Bom, enquanto eu lia o “Um martíni com o diabo” eu ficava pensando: “É um dos melhores livros NACIONAIS que estou lendo.”
Quando finalizei a leitura eu pensei: “É um dos melhores livros NACIONAIS que li.”
Aí me veio uma reflexão: “Péra aí, como assim eu tenho a necessidade de enfiar a diferenciação “NACIONAL” no julgamento final da obra?”
Eu mesmo me peguei revoltado com isso. E, então, depois disso, livrando-me do “preconceitozinho-de-merda” que me acometeu por uns instantes, eu respirei fundo e declamei: “É UM DOS MELHORES LIVROS QUE JÁ LI!”
Acredito que muitos de nós, leitores, separamos o bom “de lá fora” com o bom “daqui”, chegando ao ponto de dizer que “É tão bom que nem parece nacional”.
E uma dica: parem! Nós, brasileiros, somos fodásticos também, no mesmo nível, e tem muito autor aí para fundamentar o que estou dizendo. E acredito muito no incrível objetivo da ABERST em elevar a escrita nacional de gênero no nosso país. Provaremos que somos “do-caralho” também, seus motherfuckers!
Espero que mais para frente, a denominação “Nacional” seja apenas para informar a nacionalidade do autor, e não para separá-lo da constelação internacional nas estantes e nos coraçõezinhos peludos de alguns leitores.
Insisto: conheçam a ABERST!
E agora, finalizando tudo o que eu tinha para falar de “Um martíni com o diabo”: SÓ LEIAM, BITCHES!
Abraços a todos. E um brinde, de preferência com um martíni! (Sem o diabo).