O fim do homem soviético

O fim do homem soviético Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - O Fim do Homem Soviético


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Cléris 07/09/2022

Pra entender a Rússia e seu entorno.
Você não conhece um país por sua história geral, mas sim pelas histórias dos indivíduos simples, anônimos.
Um mergulho naquele povo que mesmo experimentando mudanças radicais de regimes políticos mantém uma essência (pra bem e pra mal).
São muito mais cultos do que eu imaginava, muito mais cruéis.
E tome vodka. Muita vodka.
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Leco 02/09/2022

O livro é um trabalho jornalístico fantástico em que a autora conta histórias de diversas pessoas que passaram pelo momento de abertura político-econômica da URSS. Essas histórias formam um mural que abrange grande parte da história soviética do século XX. Alguém que teve um pai que lutou na Segunda Guerra, outro que foi mandado para os campos de trabalhos forçados, ou cresceu em um orfanato, passou pela desestruturação e fim do Estado na Perestroika, conflitos surgidos entre os muitos e diversos novos Estados que surgiram, as alegrias, tristezas, tragédias, fome, ódio, esperança, amor, etc.
No início do livro há uma linha de tempo apresentando os principais fatos históricos do período, mas quem não conhece a história russa pode se sentir perdido muitas vezes.
Logo de cara, o livro já me lembrou muito o 1984 de George Orwell. Toda essa coisa de controle, repressão e o constante estado de alerta procurando os inimigos internos da pátria fazem lembrar a clássica distopia de Orwell.
Não foi uma leitura fácil. Por um lado há uma confusão de tentar entender os momentos em que as pessoas relatam suas vidas, sem conhecer aqueles momentos históricos ou personagens. Mas a dificuldade principal foi a densidade dessas histórias. Histórias essas de pessoas que viveram em um Estado em constante estado de guerra, repressivo, ditatorial, que perseguia e condenava qualquer um a diferentes tipos de punição sem julgamento, com tortura, trabalhos forçados, separação dos filhos e muitos outros horrores. Pessoas eram denunciadas por algum motivo qualquer como inimigas da pátria. Podia ser o vizinho, o colega de trabalho ou o filho. Trabalhos forçados em regiões remotas como construir uma estrada férrea na Sibéria. Relatos de pessoas que viveram em situações em que estavam sempre à procura de comida, como uma mulher que quando menina viveu em um orfanato onde apanhava todos os dias e estava sempre olhando para o chão à procura de graminhas, raízes ou farelos para comer. Por outro lado há relatos de pessoas que sentiam orgulho da pátria que venceu a guerra, orgulho do ideal comunista em que todos davam o seu melhor pela sociedade.
Mas o foco do livro, como o título sugere, é o momento de ruptura, a abertura ao capitalismo. A esperança de muitas pessoas com o fim do Estado repressor, de dias melhores, de oportunidades de mudanças, surgimento de novos produtos contrastava com a apreensão do sentimento do fim da grande pátria provedora, a mercê de oportunistas com seus organismos sendo apropriado por oligarcas e onde tudo começava a girar em torno de quem tinha dinheiro. Havia ainda o desgosto de ver ruir a grande pátria construtora de tanques de guerra, navios, aviões e foguetes rendendo-se a produtos como calças jeans, perfumes, Coca Cola e McDonalds.
Dentro deste cenário são contadas histórias individuais que mostram o ser humano em sua essência, sendo influenciado ou não pelo sistema vigente. O amor, a esperança, a crueldade, o ódio, a ambição, se apresentam de forma pura nesses momentos de instabilidade, na ausência do Estado, de um poder moderador, onde todos buscam sobreviver ou ter sucesso. Conflitos terríveis dentro da sociedade e entre povos que outrora eram parte de uma única nação mas que de uma hora para outra deixaram de ser.
Enfim gostei muito do livro mas me senti muito triste com a apresentação do ser humano sem filtro. Foi um tapa na cara que me lembrou a essência da humanidade quando busca poder e como essas pessoas são valorizadas de acordo com o poder que tem.
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Mussi 03/06/2017

Complexo de liberdade
O livro de Svetlana Alexievich descreve os depoimentos que pessoas comuns fizeram à autora descrevendo suas vidas entrelaçadas com os fatos históricos que se desenvolviam paralelamente no período que culminou com o desmoronamento do império soviético na década de 90 do século passado.
Estão reunidos no livro depoimentos dos últimos sobreviventes da revolução de 1917; das pessoas que nasceram após a revolução (a grande maioria) e os filhos destes.
Claro que cada pessoa narra sua saga, mas em comum resulta o não entendimento do novo cenário que surgiu após o fim do comunismo.
Ao interpretar o que li fiz uma analogia com um pássaro, que , nascido e criado na gaiola, de repente se vê perdido ao ser libertado.
Aí entendi do porquê que Varlam Chalámov, após 17 anos de trabalhos forçados na Sibéria, mesmo assim, não deserdou o regime.
Para situações cotidianas podemos fazer a analogia com pessoas que mesmo diante de todas as evidências , mantém suas convicções desprezando os fatos.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 04/02/2017

Svetlana Aleksiévitch - O fim do homem soviético
Editora Companhia das Letras - 600 Páginas - Tradução direta do russo de Lucas Simone - Lançamento no Brasil: 10/11/2016.

Assim como nos dois livros anteriores da escritora e jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel de Literatura 2015, já publicados no Brasil pela Editora Companhia das Letras: Vozes de Tchernóbil e A guerra não tem rosto de mulher, aqui também a história deixa de ser uma ciência fria, que apenas reconstitui cronologicamente os fatos do passado, passando a assumir uma abordagem humanista, através de centenas de depoimentos de pessoas simples que foram, ao mesmo tempo, as vítimas e os carrascos das transformações políticas que vivenciaram na Rússia durante o longo e violento século XX, um povo que se acostumou a sobreviver (e não viver) à sombra de um ideal grandioso, sempre em períodos de guerra ou de preparação para a guerra. "Mesmo durante a paz, tudo na vida era próprio da guerra. O tambor batia, a bandeira esvoaçava... o coração saltava do peito... A pessoa não percebia sua escravidão, até amava sua escravidão."

A autora se concentra nas gerações de Stálin, Khruschóv, Brêjniev e Gorbatchóv, compondo, desta forma, um painel da ascensão e queda do império soviético: o regime de mão de ferro stalinista após a Segunda Grande Guerra, o período de Guerra Fria com as ameaças de uso de armas nucleares e o fim da ideologia comunista criada pelo Partido Bolchevique de Lênin, concluindo com o súbito epílogo representado pela dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a condução dos processos de abertura política, conhecidos no ocidente como Perestroika e Glasnost, processos mal conduzidos que acabaram levando à formação de um capitalismo selvagem e ainda mais sofrimento para o povo russo. Uma trajetória que a própria Sevetlana Aleksiévitch vivenciou e resume muito bem com esta afirmação: "ninguém nos ensinou o que era a liberdade. Só nos ensinaram a morrer pela liberdade."

"Eu nasci soviética... Nossa avó não acreditava em Deus, mas acreditava no comunismo. Nosso pai esperou até o fim da vida a volta do socialismo. Já tinha caído o muro de Berlim, a União Soviética tinha desmoronado, e ele mesmo assim continuou esperando. Brigava constantemente com o melhor amigo, quando ele chamava a bandeira de trapo vermelho. Nossa bandeira vermelha! Escarlate! Meu pai lutou na guerra da Finlândia; ele nunca entendeu por que estavam lutando, mas era preciso ir, e ele foi (...) Em 1940 terminou a campanha da Finlândia. Os prisioneiros de guerra soviéticos foram trocados por finlandeses, que estavam sobre a nossa custódia. Foram ao encontro uns dos outros em colunas. Os finlandeses, quando chegaram ao lado deles, começaram a se abraçar, a apertar as mãos... Os nossos não foram recebidos assim, foram recebidos como inimigos. 'Irmãos! Meus queridos!', e correndo na direção de seus companheiros. 'Alto! Um passo para fora da formação, e nós atiraremos!' A coluna foi cercada por soldados com cães policiais, e eles foram levados para barracões preparados especialmente para aquilo. Ao redor dos barracões, havia arame farpado. Começaram os interrogatórios... 'Como você foi feito prisioneiro?', perguntou o investigador ao meu pai. 'Fui tirado de um lago pelos finlandeses.' 'Você é um traidor! Salvou a sua própria pele, não a pátria.' Meu pai também se sentia culpado. Tinham sido ensinados assim... Não houve nenhum julgamento Todos foram levados para a praça de armas, onde leram diante da formação a ordem: seis anos no campo de trabalhos por traição à pátria." - Parte da entrevista com Ielena Iúrievna S., terceira secretária do comitê distrital do Partido, 49 anos (Págs. 63 - 65)

Assim, entre os defensores e opositores do ideal comunista, a visão humana da escritora sobre a história do povo soviético, tantas vezes absurda e violenta, acaba transformando o texto em uma espécie de obra de ficção. Talvez porque as perguntas de Svetlana não se concentrem unicamente na história do socialismo, mas sim "sobre a infinita quantidade de verdades humanas (...) sobre o amor, o ciúme, a infância, a velhice", fazendo com que os depoimentos transbordem de emoção e ganhem uma perspectiva universal. Na verdade, em um país de dimensões continentais e com uma natureza hostil em muitas regiões, que transforma a vida diária em um desafio, nem sempre o povo russo do interior se dá conta das reviravoltas políticas em Moscou, constantemente ocupados com a própria sobrevivência, como podemos constatar no trecho da entrevista abaixo com uma cidadã soviética não identificada.

"O que eu posso lembrar? Vivo como todo mundo. Teve a perestroika... O Gorbatchóv... A carteira abriu a cancela: 'Você ouviu, não tem mais comunistas'. 'Como não?' 'Fecharam o Partido.' Ninguém atirou, nada. Agora dizem que foi uma grande potência e que perdemos tudo. Mas o que foi que eu perdi? Do mesmo jeito que eu vivia na minha casinha sem qualquer comodidade — sem água, sem esgoto, sem gás — eu, continuo vivendo. Trabalhei honestamente a vida inteira. Dei duro, me acostumei a dar duro. E sempre recebi meu dinheiro. Eu antes comia macarrão e batata, e agora continuo comendo. Uso o meu casaco soviético surrado. E temos cada neve aqui! (...) No inverno, ficamos cobertos de neve, o vilarejo inteiro fica debaixo de neve: as casas, o carros. Às vezes os ônibus ficam semanas sem passar. E lá na capital? Daqui até Moscou são mil quilômetros. Vemos a vida moscovita pela televisão, como se fosse um filme. Conheço o Pútin e a Alla Pugatchova... de resto, ninguém... Os protestos, as manifestações... Mas aqui nós continuamos a viver como antes. Tanto no socialismo como no capitalismo. Para nós, 'brancos' e 'vermelhos' são a mesma coisa. Temos que esperar a primavera. Plantar as batatas... (Longo silêncio) Tenho sessenta anos... Não vou à igreja, mas preciso conversar um pouco com alguém. Conversar sobre outras coisas... De como não tenho vontade de envelhecer, não quero de jeito nenhum envelhecer. E que pena é ter que morrer. Você viu o meu lilás? Eu saio de madrugada, ele brilha. Eu fico parada olhando. Vou só ali pegar algumas e fazer um buquê para você..." - Observações de uma cidadã (Págs. 593 - 594)
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fe 04/04/2018

Liberdade, abra as asas sobre nós
Gorbachev, Perestroika, Glasnost. Nos anos 1990, esta tríade mudou o mundo. Foi o fim da guerra fria, e o planeta respirou aliviado.  Foi a extinção da URSS, a queda de um grande império socialista. O soviético ganhou a liberdade e a Rússia, o seu primeiro McDonalds. Jogado sem preparação no sistema capitalista, o homem soviético se perdeu. Os mais jovens e os mais maleáveis ganharam infinitas possibilidades para mudar suas vidas. O homem criado sob a mão de ferro do Estado, que tolia e provia todo o nada que se tinha, não sabia o que fazer com a tal liberdade. Nos depoimentos sofridos, um povo traído pela nova revolução. O soviético, que passou uma vida de privações, falando baixo para suas opiniões não serem ouvidas pelas paredes, que acreditava estar "construindo o socialismo", viu tudo ruir e seus ideais serem taxados como  "errados". Com a abertura e divulgação dos horrores que aconteciam nos porões desta "contrução", tiveram que arcar com o preço pago por esses ideais. Mas como recomeçar, quando a sua vida foi moldada e controlada por este Estado tirano?

"Nós lutávamos por um ideal maior, pelo socialismo, pela pátria. Agora as pessoas lutam pelo quê? Por sapatos e cortinas?"


site: Http://www.instagram.com/fegarrafiel
Alê | @alexandrejjr 27/04/2019minha estante
Ótima resenha! Sucinta e esclarecedora.




Lopes 20/06/2018

a eloquente questão
Com dificuldades psíquicas e emocionais encarei mais um livro de Svetlana Aleksiévitch. Tais dificuldades vieram à tona quando lembrei de seus dois livros anteriores lançados pela Companhia das Letras. É impossível não ser tragado e arrastado pela consciência da autora. Sua sensibilidade propõe uma linguagem quase única no mundo hoje - ou no meu mundo literário e jornalístico -, remetendo sempre aquela dimensão criada pela assim que temos o primeiro contato com qualquer obra da autora. Esse fluxo entre leitor, história e autora é a marca Svetlana, impossível ler e não lembrar do passado como leitor. É como se nossa memória voltasse e sentisse quase os mesmos arrepios como da primeira vez. A diferença é que a memória logo se espatifa e cede lugar ao que ouvimos e olhamos, recriando, neste universo svetlaniano. As histórias escritas cortam um mau, o da ignorância política, histórica, cultural e geográfica. Esse mau também cerca nossas vidas, ele tem duas faces, é dúbio, mesmo que tire tal ignorância, ele leva consigo uma ingenuidade. As mulheres e homens passam a ser verdades inconsequentes, pedras de lascar sangue, buracos do passado. O preço de existir contém mentiras, é uma grande mentira que Svetlana discorre, a mentira de que somos felizes e a trajetória humana, quando apunhalada pelo trabalho, guerras e fronteira, é motivo de exaltação. Essa proposta encara tal passado com unhas e dentes, cada história é permitida por quem conta, contudo vai mais além, o túmulo em que cada alma soviética está é reaberto, só que para dentro, da terra. Somos enterrados ao lado destes túmulos, é única maneira, perigosa, é claro, que Svetlana encontra para tal consciência e sentimento. Os russos não morreram, o que morreu foi a mulher e o homem soviético, mas não a ideia, e sim seus verdadeiros corpos. Imprimir a selvageria de um mundo não é distinguir nações melhores ou piores, é enfrentar a fronteira e cultura como limites sociáveis. A autora corrói sim cada leitor seu, afinal, trata de mortes e de vidas que queriam ou poderiam ter ido também. Porém, qual possibilidade de solidariedade neste mundo sem saber o que é este mundo?
none 20/06/2018minha estante
Antes de ler este pretendo ler os contos de Kolima do V Chalamov. É um dos autores favoritos da Svetlana. Parabéns pela reflexão sobre a leitura.


Lopes 20/06/2018minha estante
Ricardo, vale muito a pena ler o Chalámov e a Svetlana em conjunto, fiz isso com o livro 4 do Kolimá e esse, "o fim do homem soviético". Me falta o 5 e o 6, mas esse último ainda sem tradução no Brasil.


none 20/06/2018minha estante
Esses russos são essenciais. Aguardo o inédito da Svetlana (a ser lançado pela TAG mês que vem). E que venha em breve o sexto volume dos contos de Kolima. Vou seguir sua dica a risca.


Lopes 21/06/2018minha estante
Sim, a TAG vai lançar aquele sobre crianças em orfanatos na Segunda Guerra. Quero ler também. Mas antes de tudo, vale a pena começar com o livro "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich", do Solzhenitsyn, dai Kolimá e Svetlana.


none 21/06/2018minha estante
Já vi a adaptação para o cinema desse livro. Vou pesquisar o livro. Só li Arquipélago Gulag do mesmo autor. Comecei a ler Contos de Kolimá.


Lopes 25/06/2018minha estante
Eu preciso ver o filme, Ricardo. Você gostou?


none 25/06/2018minha estante
Foi há muito tempo, rs, por isso comecei a ler o livro para rememorar. :P Valeu a dica.


Lopes 25/06/2018minha estante
Ah sim, eu quero muito ler o Arquipélago. Espero conseguir esse ano ainda. Depois conte o que tá achando do Kolimá.


none 25/06/2018minha estante
Do que eu li estou gostando muito. Comecei o ano lendo O zero e o infinito do Arthur Koestler - se não leu ainda, recomendo fortemente. Não imaginava que gostaria tanto. O livro se passa numa prisão e o protagonista condenado por crimes contra o Estado. Logo ele que integrava o Partido, e então passa a ser obrigado a entregar pessoas próximas delatando-as em troca da própria liberdade, da própria vida. Depois li O muro, do Sartre (e o primeiro conto do prisioneiro dialoga bem com a estória do Koestler). Ah, e li também Os diarios da cadeia, do Eduardo Cunha pseudônimo (Ricardo Lisias, um livro não revisado propositalmente e cheio de curiosidades da política nacional, surpreendentemente bom) Agora entre a leitura de Um dia na vida... e os Contos de Kolimá tenho o segundo semestre de leituras do cárcere. Para ser sincero livros sobre a vida na prisão me impactam tanto quanto os de aventura no mar- Recordações da casa dos mortos do Dostoiévski me tocou mais que outros romances mais conhecidos dele. Desculpe-me por ter me alinhado na resposta. Mas quando a leitura empolga gosto de discuti-la com outras pessoas.




BArbara283 16/04/2024

Brutal
Por já ter lido os outros livros da autora, achei que estava preparada para as histórias retratadas nesse livro. Me enganei. O ser humano é de uma crueldade ímpar e por transcrever histórias ocorridas nos anos de 1990 e 2000, parece ser tudo mais palpável e próximo do mundo em que vivemos.
Micaella.Ferreira 19/04/2024minha estante
????




Albuquerque 03/11/2018

Mais um excelente livro de Svetlana
Conheci a obra da autora lendo seu excelente livro "Vozes de Chernobyl" e gostei tanto de sua metodologia "História/Memória" que resolvi ler outro livro dela. Desta vez entrevistando pessoas que viveram na União Soviética e tiveram que lidar com o desmembramento do país, a autora nos trás relatos impressionantes sobre a vida em uma sociedade comunista. O que percebi após ler os relatos é que o cerceamento da liberdade de expressão, com um sistema de patrulhamento ideológico que não dava trégua nem no seio da família, e a imposição de uma única ideologia criaram pessoas totalmente alienadas e com pouca capacidade de entender o que havia levado o seu país a desaparecer. Em muitas entrevistas a pessoa descrevia os horrores pelos quais havia passado e, logo depois, exaltava o comunismo, dizendo que, naquela época, o país era grande e tinha uma ideologia. Ou seja, uma boa parte das pessoas entrevistadas acreditava que apesar da fome, da miséria e de todo o tipo de provação e humilhação (muitas vezes levando a execuções sumárias), a União Soviética era um país grande e forte e isso era o que importava. Recomendo fortemente a leitura para que se entenda o que pode acontecer com a mente humana quando se cerceia o direito básico à individualidade e o governo passa a implantar a "ideologia de classes", que transforma os seres humanos em robôs classificados por grupos de comportamento.
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Rosana 31/10/2021

Do Socialismo ao Capitalismo
Primeiro livro que leio da autora, e essa versão usada (como se fossem entrevistas) não me chama muito a atenção. Mas, não deixa de ser muito curioso todos os relatos trazidos nestas 600 páginas.
Mostra a transformação do Socialismo Sangrento ao Capitalismo Selvagem. São relatos de idosos saudosistas à época do Socialismo, ao jovem que desejava ter mais opção de compras, mas que acaba sendo engolido por um Capitalismo que não mediu esforços para destruir os sonhos desses jovens, onde pouquíssimos alcançaram a oportunidade do enriquecimento e se sentirem confortáveis.
Além de contar as guerras civis travadas; das fugas territoriais; das famílias dilaceradas pelas guerras, fome, falta de moradia, falta de amor. Amor ao próximo, amor à vida; isso sim foi o que mais é mencionado, seja de forma direta ou indireta.
Vale muito a pena, muito conhecimento trazem desses relatos, que em sua maioria mostram muita tristeza.
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Jan 18/02/2019

Uma viagem dura e sentimental
A escritora, entre os anos 1991 e 2012, coletou?centenas de entrevistas?com a proposta de investigar a existência de um tipo peculiar de Ser (com S maiúsculo mesmo) - o homo sovieticus, passando pela?destruição gradual desse estado espiritual e a promessa de reconstrução - substituição diria - desse Ser por outro no contexto de abertura. Depoimentos de?diferentes naturezas demonstram as disparidades das opiniões relativas à época. A?riqueza da leitura está em captar a humanidade nesses depoimentos, o que cobra do leitor?diferentes posturas.

O livro não trata de uma nostalgia perigosa ou funciona como um manifesto em defesa de um período. É preciso mais sanidade que isso. Dai talvez se perceba que Aleksiévitch,?apesar de preocupada em apontar as peculiaridades do imaginário soviético,?acaba por demonstrar como os seres?humanos, em geral, estão sujeitos a diversas forças que objetivam a?subversão do lugar da alma. Mas também nos mostra como sobrevivemos a elas.
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barbaradoquorthon 05/07/2019

Esse livro é fantástico, como sempre a Svetlana Aleksiévitch arrasou. Tentei formar uma opinião sobre o comunismo e o capitalismo, qual período era melhor e qual era pior o livro inteiro, mas ele conseguiu me mostrar como nós do Ocidente temos a imaginação muito limitada, que não existiu o melhor período - existem opiniões de pessoas que passaram pelo comunismo e pelo capitalismo de maneiras bem diferentes.
É um livro MUITO rico e não decepciona em nada, é um ótimo livro pra conhecer a Rússia e seus cidadãos - tanto os que passaram pela fase antes do comunismo, pela fase stalinista, por Gorbatchov, por Iéltsin, Putin e no finalzinho por Lukashenko (afinal a Bielorrússia foi a última a "se livrar" da "ditadura soviética").
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Carla.Zuqueti 25/05/2021

Brilhante
?Nossos pais venderam um país grandioso por um par de jeans, um pacote de Marlboro e um chiclete.?

Em dezembro de 1991, o então líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Mikhail Gorbatchev renuncia seu cargo e da fim à URSS.

O comunismo é expulso da Rússia e o país se abre para vieses capitalistas: mercado, demanda e oferta.

Em mais um livro bárbaro, a autora Svetlana Aleksievitch fala com o povo. Com as pessoas comuns desses países que formaram a URSS, sobre como foi a ruptura entre o modo de vida e como conseguiram passar pela transição do comunismo.

O que vemos é que a transição e abertura da URSS foi bem conturbada no que tange a população. Grande parte dos russos sentiram-se perdidos, ficaram sem empregos e enfrentaram a miséria. Muitos ex heróis de guerra se viram mendigando pelas ruas. Engenheiros trabalhando como motoristas de táxis e intelectuais fazendo faxina para capitalistas.

?No final o socialismo era bom. Não tinha ninguém excessivamente rico ou pobre. Nem mendigos nem meninos de rua. Os velhos conseguiam viver com suas aposentadorias não precisavam catar garrafa na rua.?

A história da URSS é uma história de luta. Havia o conflito claro entre gerações. Os mais velhos saudosos do antigo regime, onde a profissão era valorizada, a cultura, a literatura russa. E a nova geração tem a expectativa capitalista de fazer dinheiro fácil, principalmente com escambo e exploração do trabalho assalariado, o que para o russo antigo não é bem visto.

?O capitalismo não se adapta a nos. O espírito do capitalismo é estranho para nós. Além de Moscou, ele não conseguiu se espalhar.?

?O Russo não é racional...
Ele é espontâneo, ele mais contempla do que age, é capaz de se contentar com pouco. A acumulação não é o ideal dele, acumular para ele é chato. Nele é muito aguçado o senso de justiça.?

?Mas o povo russo também não quer só viver, ele quer viver por alguma coisa. Quer participar de uma causa grandiosa. Aqui é mais provável encontrar um santo do que um homem honesto bem sucedido. Leia os clássicos russos... ?

Apesar de focar na Rússia, o livro também mostra a transição sob o ponto de vista de outros países soviéticos, como a Bielorrússia, Armenia, entre outros.

É um livro incrível para perceber a URSS do ponto de vista do soviético comum, sem inferências sobre o que pensamos ou achamos.

Livro bem pesado, mas brilhante!
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Roberta 25/03/2022

Uma leitura sofrida, mas necessária
Este é um livro excelente sob o ponto de vista da compreensão das facetas e personalidades dos soviéticos, principalmente num tempo como esse de guerra. Mas ao mesmo tempo foi uma das leituras mais difíceis que já fiz na vida. Em primeiro lugar, fiquei um pouco confusa sobre como o livro é escrito. É como se fosse um livro de memórias de várias pessoas que a autora entrevista sobre a história desde o fim da URSS até a era Putin, mas dando mais ênfase na década de 90 e em como os eventos afetaram suas vidas. Em segundo lugar, o tanto de sofrimento que este livro carrega é impressionante. Como o ser humano pode ser mau e cometer atrocidades assim? Diferente das barbaridades praticadas pelos poderes ditatoriais que já governaram o mundo, tanto pelos de direita como de esquerda, as atrocidades narradas aqui, muitas vezes eram praticadas por pessoas comuns. Pais, mães, filhos de alguém... meu Deus, como foi difícil passar por essas páginas! Mas não me arrependo. Só acho que poderia ser um livro menor, pela densidade que ele carrega.
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oerickaguiar 26/04/2024

Resenha
A extinta União Soviética é motivo de demonização pelo ocidente, com muitos "dizem que acontecia isso", sem fontes concretas. A ideia aqui é relatar a vida daqueles cidadãos e o caos que foi dormir e acordar no seguinte com outra bandeira, além de tudo que foi construído por anos e foi desmontando tão facilmente.
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