Ivy (De repente, no último livro) 28/05/2020
Li Rhapsodic em uma sentada, durou no máximo 2 dias, e olha que estou na maior ressaca literária, onde quase nada que leio consegue realmente me encantar. Mas Rhapsodic me fisgou do início ao final.
Eu gostei da protagonista, a Callypso. Ela é uma sereia, mas aqui as sereias são bem mais próximas de humanas do que daqueles seres aquáticos que estamos acostumados. Na verdade, a Callie não possuí escamas ou barbatanas, não vive no mar e nem seduz marinheiros. Ela é uma garota descolada de Los Angeles, sócia numa agência de investigações, e de sereia herdou o dom de encantar, com o tom de sua voz, qualquer mortal. Aliás, nem mesmo outros sobrenaturais como licântropos ou bruxos são imunes ao poder de controle da sereia. Apenas uma espécie é imune, os faes. Justamente os faes para quem Callie está devendo mais de trezentos favores. Na verdade ela deve para um único fae, que sumiu da sua vida há sete anos, mas agora decidiu voltar e cobrar a dívida.
Callie é impulsiva, fala o que pensa, e geralmente não foge dos desafios. Ela está acostumada a encarar gente criminosa, fazer os malvados confessarem suas baixezas então ela é uma menina astuta, escorregadia e bem temperamental.
O legal da Callie é que ela possuí uma estória e um porquê de agir e ser quem se tornou. Ela foi vítima, mas agora é sobrevivente. E eu achei incrível essa construção da personagem, porque a passagem dela de vítima para empoderada é crível, é coerente com a personalidade e atitudes que Callie vai assumindo ao longo dos anos.
O leitor consegue saber e comparar tudo isso porque o livro inteiro vem intercalado entre dois tempos: o presente e o passado, sete anos atrás. Então em cada capítulo nos é permitido ter um vislumbre da evolução de Callie.
Callie tem um passado muito ruim, e eu achei interessante a autora abordar esse tema, porque combinou com a estória, trouxe um clima sombrio à tudo o que Callie se tornou. A grande sacada de Laura Thalassa foi saber apresentar Callie como uma vítima que não quer a nossa compaixão. Thalassa aborda um assunto difícil, mas o faz com uma sensibilidade incrível, ela usa o personagem de Callie para trazer a tona um tema duro, que ela expõe de maneira bem direta, esclarecedora e firme, sem extrapolar, sem se exceder demais e sem tornar tudo dramático, não permitindo que a tragédia pessoal de Callie adquirisse dimensões grandes demais ofuscando o verdadeiro plot da trama.
O plot, aliás, é perfeito. Envolvente e bem construído, a trama me surpreendeu por seu teor mais maduro e também pelo tom mais sombrio que carrega, desde o vilão que devolve guerreiras em estado vegetativo acompanhadas de bebês meio monstros, até o casal de heróis que fogem de qualquer estereótipo do mocinho e da mocinha perfeitos.
Temos um tremendo romance e eu adorei porque apesar de Callie e Des se conhecerem há sete anos, Laura Thalassa toma um bom tempo para o casal se render à paixão. Ela permite que o leitor vá conhecendo os sentimentos deles, como tudo começou, porque deu tudo errado, até enfim permitir que os dois sejam um casal. E mesmo assim o caminho de Callie e Des é cheio de tropeços porque ambos são fontes de vários segredos, e escondem um monte de coisas, e ter que lidar com tanta bagunça nunca é fácil. O legal é que ela não é a mocinha trágica e nem ele é o bad boy. Eles são incríveis, valentes, inteligentes e perspicazes e super combinam juntos, e quando a Callie está com o Des ela continua sendo forte e bem resolvida, não se torna marionete e eu adorei ver o quanto os dois juntos ainda mantiveram suas personalidades fortes. O romance é pausado, e tem uma química muito boa. Eu torci demais pelo casal porque me envolvi pela estória deles, conforme ia conhecendo o que eles são no presente e o que representaram um para o outro no passado.
A ambientação por vezes me lembrou bastante de ACOTAR da Sarah J. Maas. Temos uma corte Noturna, e também outras várias cortes, com cada uma sendo chefiada por um rei fae, e temos uma humana introduzida nesse cenário que acabará sendo a chave para salvar aquele lugar de uma ameaça enorme. Lembra muito a saga da J. Maas mas o bacana é que apesar dessa semelhança, a trilogia de Laura Thalassa consegue se afastar o suficiente das muitas coincidências e apresenta também detalhes únicos só seus, como por exemplo esse mistério super original do sumiço das guerreiras e a própria origem de Callie que é uma sereia que sabe pouco de sua própria trajetória e de seu povo.
A escrita da Laura Thalassa é super dinâmica, acontecem coisas a todo instante e a autora sabe equilibrar os momentos, mesclando um grande mistério com um romance cheio de magnetismo, um toque de humor e acidez em seus diálogos e uma sombra de terror com um vilão que consegue causar medo de verdade, porque embora seja um livro com elementos paranormais, os personagens todos tem um toque muito humano, muito real. Esse equilibrio entre mistério / horror / romance / ação garante que o livro seja um entretenimento e tanto para qualquer leitor, e o final, embora seja um pouco apressado no seu momento de maior clímax, consegue causar euforia suficiente para a gente querer saber o que vai acontecer na segunda parte.
Thalassa aliás engana a gente. Até certa parte do final a gente pensa que tudo foi concluído, resolvido e encerrado, então a autora dá um giro de 180 graus e joga na cara do leitor novas cartadas, onde a gente vê que nada é o que parece e só resta ficar na expectativa de aguardar os próximos passos de Callie, Desmond e esse reino cheio de uma magia sombria e perigos improváveis.
site: http://www.derepentenoultimolivro.com/2020/05/review-355-rhapsodic-bargainer-1-de.html