Veneella 19/03/2017Meg Cabot ou Nicholas Sparks: quem usa mais da mesma fórmula?Quem diria que eu viveria para escrever essa resenha! Eu, certamente, sendo curada de inúmeras ressacas pelos livros da Meg, jamais imaginaria que um dia destilaria meu veneno não em uma, mas em duas resenhas de livros de uma das minhas autoras favoritas. Em seguida! (Se você não sabe do que estou falando, ver resenha de Rainha da Fofoca: Fisgada)
Mas cá estou para descrever o que eu, carinhosamente, chamo de "Síndrome Sparks". E o que seria isso? Aquela fórmula repetida de novo, de novo, de novo e de novo, apenas com personagens diferentes. Sério, nem a locação muda.
Acho que já li livros da Meg o suficiente para afirmar: se não tem Nova York, protagonista ingênua e inexplicavelmente fissurada em casamento e uma dose de machismo disfarçada, não é Meg Cabot.
Claro, também tem bastante humor e uma escrita maravilhosa. Mas conforme a gente desenvolve um pensamento crítico, não dá mais para passar certas coisas. Um bom exemplo é a fissura da Meg por casamentos. Toda protagonista dela precisa ser fissurada e só pensar nisso ao invés de agir racionalmente. Sempre tem a amiga "voz da razão" também, mas elas nunca são ouvidas.
E é a mesma coisa de novo e de novo: se embrenham num relacionamento muito rápido, ficam todas "aí, mas ele é o homem da minha vida", acontece alguma problemática que elas reagem de forma completamente imatura -independente da idade que a Meg afirma que elas tenham- e irracional, para no final ou aquele ser mesmo o homem da vida delas. Ou ser o amigo que elas nunca prestaram atenção, mas que elas vão terminar o livro casadas mesmo assim porque "eles já se conheciam há anos".
Não! Não, não e não. O casamento n-ã-o é o objetivo final de uma heroína contemporânea, ele não a define como mulher, ele não é uma parte intrínseca das nossas vidas por termos nascido com dois cromossomos X. Até mesmo em Fisgada, que parecia querer quebrar com esse paradigma, foram 448 páginas de luta desmentida por aquele final (de merda!).
O Garoto da Casa ao Lado tinha tudo para ser muito interessante. O formato de e-mails dá um ar diferente à narrativa e a história em si era boa, mas... aquela protagonista não deu. A amiga Nadine dá um show de empoderamento, mas qual o valor disso frente aos pais machistas, para os quais foi feito um esforço tão mínimo de desconstruir, e a amiga Dolly, claramente um estereótipo a ser odiado (ela que deveria ser a personificação do machismo a ser refutado ainda foi uma das que menos falou merda)?
E a protagonista, que supostamente tinha seus 27 anos (posso ter errado em um ou dois anos, alguém me corrija), infantilizada, estereotipada como garota do interior e totalmente instável. Mal mal uma garota de 15 anos consegue se identificar com essa protagonista, que dirá uma de 27 mesmo. Para que incentivar garotas a ter discussões saudáveis e lógicas com seus parceiros, não é? Mulheres agem todas como loucas piradas e sedentas de vingança, mesmo, né non?
Alguém que leu livros mais atuais da Meg, por favor, venham me desmentir! Digam que, assim como eu amadureci como leitora, ela também amadureceu como escritora. Por que Meg, assim como Sparks, não me entendam mal, é uma boa escritora. As histórias dela são boas, as personagens dela, quando não estão envolvidas no romance, são ótimas personagens. Por isso mesmo, ver essas personagens reduzidas a "Casamento!Casamento!Casamento!" é doloroso. Ver a mesma fórmula se repetindo é cansativo, mas ver uma fórmula que ainda é opressora é um tiro no peito.
E nossa, que doloroso foi escrever essa resenha. Quando seu senso crítico acerta um de seus autores favoritos com tanta força e a cortina cai dos seus olhos, é um pouco de luto também.
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