Carla Jeanine 05/04/2017A trajetória de uma protagonista incrível!"Kelsea experimentou dizer a palavra outra vez, embora a sensação fosse a de estar com a boca cheia de terra: rainha. Uma palavra agourenta, pressagiando um futuro sombrio."
Kelsea Raleigh vem sendo protegida desde a sua infância, após a morte de sua mãe, a Rainha de Tearling Elyssa, a pequena garotinha foi levada para uma cabana e criada por um casal de confiança, e ao longo de sua vida foi ensinada e preparada para um dia governar Tearling. Agora com 19 anos ela será levada de volta ao castelo, se sobreviver para reclamar o seu trono. Acompanhada da guarda da Rainha, que foi fiel a sua mãe e se manteve fiel a sua família, Kelsea começará a trilhar o caminho para o qual foi preparada, acompanhada de duas joias místicas que pertenceram a sua mãe e que ela nunca poderá tirar, pois conta-se que são responsáveis por proteger a verdadeira princesa herdeira do trono.
Na capital de Tearling, seu tio Thomas tem reinado como regente, e o reino está a beira de um colapso, praticamente controlado pela Rainha Vermelha de Mortmerne, uma mulher perigosa que todos declaram ser uma feiticeira, e que conquistou e colocou todos os reinos a sua volta aos seus pés. Cabe a Kelsea portanto não apenas retomar o seu trono e tentar sobreviver a todos os inimigos que querem matá-la, mas também trazer paz e justiça para seu povo, num reino que há muito desconhece o significado dessas palavras.
Capa maravilhosa e livro que provavelmente será adaptado para os cinemas, esses foram os motivos que me fizeram ler A Rainha de Tearling, confesso que não sabia absolutamente nada sobre a trama, não havia lido nem a sinopse, mas como sou fã de histórias de reis e rainhas, e me pareceu mais uma fantasia young adult, embarquei logo de cara, e me enganei muito.
A primeira coisa que você precisa saber é que esse não é um livro pra um público teen, possui uma linguagem mais pesada, com conotações sexuais mais escrachadas nos diálogos, muita violência e menção a estupros e abusos, então não é apenas mais um young adult. A segunda coisa é que esse não é um livro de fantasia, ou de romance, apesar de conter esses elementos de uma maneira muito sutil, esse é um livro que narra a trajetória de uma personagem, que enquanto aprende sobre sua força e coragem, também tenta resgatar o seu reino consertando os erros do legado de sua mãe. Eu não sabia do foco do livro, portanto ficava esperando o momento onde a fantasia e o romance aconteceriam, e só pude desfrutar da leitura apropriadamente quando compreendi esse propósito.
Kelsea é uma personagem diferente das que costumamos conhecer, ela sabe muito bem qual é a missão de sua vida, e abraçou essa causa logo muito nova, portanto apesar de sua idade e falta de experiência, ela é extremamente sensata e foi muito bem treinada para o que está para enfrentar. Portanto além de inteligente, ela é uma excelente estrategista, é muito corajosa e forte, mas ao mesmo tempo vemos nela as fraquezas de uma adolescente comum, baixa auto-estima, medos, incertezas, e tudo isso foi construído com maestria pela autora, fazia tempo que eu não acompanhava uma protagonista tão completa como ela, que me ensinou tanto sobre a necessidade de ser uma mulher independente, bem resolvida e que toma suas próprias decisões.
"Segundo Wyde, os mendigos a chamavam de a Rainha Verdadeira. Tyler conhecia o termo: era uma variante feminina de uma lenda pré-Travessia do rei Artur, a rainha que salvaria a terra de um terrível perigo e a conduziria a uma era dourada. A Rainha Verdadeira era um conto de fadas, um conforto para mães e filhos. No entanto, o coração de Tyler deu um pulo ao escutar as palavras de Wyde."
Enquanto Kelsea tenta recuperar seu trono, diversas outras coisas estão acontecendo no reino, e vemos a autora nos apresentando pontos de vistas de personagens importantes como o regente Thomas e a feiticeira A Rainha Vermelha, aos poucos ela vai amarrando os pontos da história, dando respostas sobre como esse mundo foi desenvolvido, sobre a magia, sobre o passado de Kelsea e compreendemos os rumos que a história vai tomando, apesar disso diversas pontas ficaram soltas e a parte de fantasia foi pouco desenvolvida nesse primeiro volume. Confesso que alguns capítulos foram maçantes, apesar de a narrativa ser interessante, não temos momentos com grandes reviravoltas ao longo da história, esses momentos são poucos e bem pontuais, portanto a história ganha uma trajetória linear que pode incomodar um pouco quem não está adaptado a esse tipo de gênero, principalmente porque como afirmei, o foco desse primeiro livro é a trajetória da personagem e sua ascensão.
Fiquei curiosa com alguns personagens, como Fetch, o jovem ladrão que faz parte de um bando de assassinos e apoia a ascensão da Rainha. Apesar do breve interesse de Kelsea nele, nada demais aconteceu, mas tenho suspeitas que a autora ainda pode vir a desenvolver o relacionamento deles nos próximos volumes da série. A autora trabalhou assuntos importantes, como o desejo por poder pode destruir a raça humana, lições sobre como um líder deve demonstrar compaixão e bondade para com seu povo, e como a soberba e o poder podem corromper as pessoas, além de falar muito sobre empoderamento feminino, elevando o papel da mulher numa sociedade praticamente patriarcal apesar da maior figura ser uma rainha, e de como as religiões podem influenciar e alienar as pessoas de um povo também.
Com a escrita rebuscada, e uma fascinante protagonista que te faz querer cada vez mais conhecer sua história e torcer por ela, me surpreendi com esse livro com lições fascinantes!