Doug 23/05/2021
Uma galeria de sonhos bons e ruins
O livro possui 20 contos, então era de se esperar que nem todos fossem perfeitos ou grandes épicos do autor, muito menos fossem exclusivamente de terror, afinal, o próprio autor já declarou que não escreve apenas sobre este gênero.
Minha experiência com esta antologia é muito positiva, pois através dela é possível adentrar ainda mais na escrita do King, e perceber o quanto ele domina toda forma de narrativa, e o quanto gosta de experimentar coisas novas, de se aventurar em novos caminhos. Em alguns contos deste livro ele poderia ter se saído melhor sim, mas como o próprio diz em várias introduções que dá antes dos contos, o intuito é divertir, ou seja, isso aqui é um hobbie para ele, o King escreve porque gosta, no fim ele não escreve pensando em criar novos clássicos, ele escreve porque ama. E ler suas obras sabendo disso tem me proporcionado experiências cada vez mais positivas.
Sobre os contos:
Milha 81:
Um conto com crianças corajosas que remete a duas outras obras do autor.
Um conto Lovecraftiano com a fórmula King, um bom conto de suspense e terror imaginativo com personagens que possuem background.
Premium Harmory:
Um drama bem real, um tapa na cara que nos faz refletir sobre o tempo que temos com as pessoas que amamos. Horror real e emocional que pode afligir a todos nós.
Batman e Robin tem uma discussão:
O exemplo perfeito do dom que o King tem de juntar duas ideias extraídas de sua vida cotidiana e transformar em uma boa história. As personagens possuem background sólido e personalidade. Um drama real.
A Duna:
Conto curtinho, com uma pequena reviravolta no final, porém previsível.
Muito interessante saber que a ideia veio de algo tão simples.
Um conto sobre o sobrenatural, forças da natureza.
Garotinho Malvado:
Achei muito interessante como o conto é narrado e como o protagonista nos conduz pela história.
Um conto baseado no mau pela pura maldade, onde certamente o mau vence. Aqui o King consegue nos fazer ter dó de um personagem, e ódio de outro.
Uma Morte:
Um faroeste com dinâmica familiar de cidadezinha do interior.
Aqui, assim como no conto anterior, o autor nos conduz a criar empatia pelo personagem, entretanto, nem tudo é exatamente o que parece e podemos ser pegos de surpresa ao virar a página.
A Igreja de Ossos:
Demorei pra conseguir entender o que realmente estava acontecendo, mas me recordou alguns contos do H. P. Lovecraft.
A primeira experiência com um poema do King não foi positiva.
Moralidade:
Um conto bem estruturado com um tema atual e recorrente na sociedade, mostrando como todos podemos ser comprados por um preço. O conto propõe algo a se refletir.
A história base também reflete muito sobre o autor.
Vida após a morte:
Uma breve reflexão sobre as possibilidades de uma vida após a morte, mas como se fosse uma conversa serena entre amigos.
Um conto simples, uma discussão eterna.
UR:
Uma ficção científica com um toque dos receios íntimos do autor com relação ao futuro dos livros físicos.
Possui muitas referências e claramente desejos pessoais.
Um mundo distópico através de um aparelho com poderes sinistros.
Herman Wouk Está Vivo:
Mais um conto baseado em uma trágica história da vida real.
King se aprofunda e dá camadas as personagens, fazendo com que o conto não seja apenas sobre a tragédia, mas também sobre vidas difíceis embebidas em dor e sofrimento que acaba levando ao fim lamentável.
Possui um pequeno plot no final.
Blockade Billy:
Gostei de como o King se inseriu na história, e ao mesmo tempo nos faz participar dela como ouvintes do narrador. Um conto com linguagem muito técnica sobre Baseball, fácil de se perder se você não tem familiaridade com o esporte (caso da maioria dos Brasileiros, eu acredito).
Uma boa contação de história, mas nem que nem o final impactante anima.
Mister Delícia:
Um conto sobre amor, sobre se reencontrar no fim de sua jornada, sobre se entregar ao destino e deixar boas lembranças, sua marca em alguém.
King escreve sobre um tema delicado de forma sensível.
Tommy:
Um conto claramente escrito em homenagem a alguém e a um tempo que se foi e não volta mais. Sem sentido algum além disso, dificilmente diria se tratar de uma obra do King se não soubesse.
O Pequeno Deus Verde da Agonia:
Um conto prolífico, com personagens complexas mesmo com pouco tempo de cena.
O autor foi muito eficiente em se basear em um trauma real para contar uma boa história de horror que me remeteu inclusive a um clássico do cinema de gênero.
Aquele Ônibus é Outro Mundo:
Mai um conto inspirado em algo vivido pelo autor, uma situação inclusive que eu já passei. Estar em um lugar e se pegar imaginando como a vida de outra pessoa no local deve ser.
Porém ainda é um conto de Stephen King, então algo inesperado acontece.
Daria um ótimo curta metragem de terror!
Obtuarios:
O conto possui personagens densos o bastante para carregar a trama, esta que mistura elementos, esta que possui elementos de vício, psicopatia e sadismo, além do gostinho pelo pecado e pela vingança.
O autor cita algumas passagens de uma obra do Orwell que ilustram muito bem o dilema ao qual o protagonista se encontra.
Fogos de artifício e bebedeira:
Como o próprio King conta na introdução do conto, apesar de ser conhecido pelas obras de horror, ele também sabe escreve sobre outros temas. E aqui ele nos mostra que domina qualquer gênero até mesmo em histórias curtas.
O enredo é simples, mas a riqueza de detalhes e a narrativa do protagonista ditam o tom, e entregam um bom conto.
Trovão de Verão:
Um conto que se passa após o fim do mundo, mas não se trata disso. Neste conto o King mescla algumas ideia com desejos e amores pessoais para criar uma história curta, simples e tocante.
Confesso que me emocionou, e eu faria o mesmo que o protagonista se estivesse em seu lugar.
Percebi que não anotei nada sobre o conto "Indisposta", então fica ai o suspense [hahaha].
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