Claudio.Kinzel 15/10/2022
Se Freud é o pai da psicanálise, Schopenhauer é o seu avô
A Cura de Schopenhauer é um romance baseado na filosofia do pensador alemão - conhecido por sua visão pessimista da condição humana - contando a história de Julius, um psicanalista de 65 anos que descobre um câncer maligno. Ao se deparar com a morte iminente, decide continuar a fazer o que sempre fez e, assim, continua com suas atividades profissionais durante o ano que lhe resta de vida saudável. Ao relembrar pacientes antigos, encontra Philip, um caso de fracasso terapêutico, pois em três anos de tratamento, não apresentou melhora. Julius resolve procurá-lo e, para sua surpresa, descobre que Philip não apenas se curou do vício em sexo (motivo da demanda inicial), como também agora é uma espécie consultor filosófico, e deseja tornar-se também terapeuta. Os dois estabelecem um acordo: Julius fará a orientação em Philip com a condição de que ele participe do seu grupo de terapia, enquanto Philip fornece a sua orientação filosófica baseada em Schopenhauer.
Assim, ao longo da narrativa são mostrados os conflitos dos pacientes, intercalando com capítulos com a biografia do filósofo. Se, por um lado, fornecem informações relevantes e interessantes, por outro quebram a narrativa, deixando o livro extenso além do necessário. Se Freud é o pai da psicanálise, Schopenhauer é o seu avô, pois foi o primeiro pensador "irracional" da filosofia, que constatou com propriedade que as forças que dominam o ser humano não são racionais, o que é explorado no livro com propriedade. A história em si não empolga: o antagonista é incapaz de expressar uma ideia original, sendo um mero repetidor de pensamentos alheios, enquanto o protagonista encara a sua morte de forma natural, sem fazer ou pensar algo relevante, e os demais pacientes são superficiais e caricatos em certos momentos.
De qualquer forma, é uma leitura interessante, especialmente por mostrar que a vida ascética pode não ser a solução para o problema existencial, e que talvez seja possível viver no mundo dos desejos aceitando o sofrimento inerente a ele.