Kennia Santos | @LendoDePijamas 26/12/2017Será que uma pessoa é tão ruim quanto suas piores ações?Classificação: 3,5/5
Livro: Fraude legítima (E. Lockhart)
Imogen Sokoloff é uma herdeira em fuga, buscando liberdade. Foi adotada quando criança por pais ricos, e com a criação vieram diversas responsabilidades que ela odeia e foge, como faculdade e compromissos sociais/familiares. Tudo que ela deseja é usufruir de sua fortuna viajando pelo mundo, livre de qualquer pressão e expectativa alheia.
"Ela tenta ser fiel a si mesma em vez de ficar agradando os outros o tempo todo." (p.143)
Jule West Williams é uma sobrevivente. Desde nova foi criada para se adaptar a qualquer tipo de lugar e situação, independente das circunstâncias ou imprevistos. Mestra em camuflagem e disfarces.
"Acreditava que, a melhor forma de evitar ter o coração partido, era fingir não ter coração." (p.12)
Imogen e Jule se reencontram anos depois de terem estudado juntas, e além do fato de serem órfãs, elas não tem muitas coisas em comum. Mas quando se trata de amizade, isso pouco importa, e logo elas se tornam melhores amigas. Após o reencontro, elas vivem juntas viajando para vários lugares regados à luxo e mordomia -tudo pago com a fortuna de Imogen- aproveitando do bom e do melhor, sem hora para acabar.
"Mas acho que você é capaz de entender. Porque você conhece uma parte de mim que ninguém mais é capaz de amar. Se bem que já não sei se alguma parte de mim ainda está viva." (p.91)
Obviamente nem tudo são flores, e as coisas mudam quando uma série de eventos estranhos e cheios de particularidades estranhamente semelhantes começam a acontecer e ocasionam o suicídio de Imogen Sokoloff, a herdeira em fuga. Jule então se vê sem rumo, tendo de viver sem sua melhor amiga e com toda a repercussão de desconfianças que o fim da vida dela trouxe.
"Quando se fica longe tempo o bastante, não parece haver muito motivo para voltar." (p.169)
Mas o que ninguém sabe, é que muito provavelmente a história de ambas possuam laços inquebráveis que as ligam de forma imutável, e muitas, mas muitas coisas não são bem como parecem ser. Assim como as pessoas.
Em "Fraude Legítima", E. Lockhart mais uma vez presenteia seus leitores com uma história impactante protagonizada por personagens femininas enigmáticas e poderosas, assim como em "O histórico infame de Frankie Landau-Banks. A trama é diferente, pois a narração é feita ao inverso: do final para o começo. Isso pode ocasionar uma confusão, eu mesma fiquei perdida no começo, mas depois me adaptei -é tudo uma questão de costume e ler com atenção.
A grande questão é que, diferente dos outros livros da autora, Fraude legítima não me impactou, nem me emocionou. Não consegui me conectar com nenhum dos personagens -até porque nenhum além de Jule possui recorrência o suficiente para gerar conexão- e tudo o que acontece, as ações, as razões e justificativas, infelizmente não fizeram muito sentido para mim.
Porém eu tenho uma queda pela escrita da E. Lockhart, a sua narrativa é diferente de tudo que eu li, -instigante, inteligente e reflexiva- e isso continuou nesse livro (AMÉM!). Há também o fato de que nos livros dela, não há nenhuma mocinha boazinha e bobinha, existem sempre mulheres fortes, independentes e fiéis aos seus ideais independente da idade, e isso também não mudou (AMÉM NOVAMENTE!). Não é tão bom quanto os outros, mas é de E. Lockhart que estamos falando, né?
Às vezes, nossas ações são o reflexo de quem sabemos que somos. Mas às vezes, as nossas ações podem refletir alguém que não conhecemos. Será que uma pessoa é tão ruim quanto suas piores ações?
"O importante é isso: ser capaz a qualquer momento de sacrificar o que somos pelo que poderíamos nos tornar." (p.248)