Mandhz 14/10/2021
Mais alguns favoritos para a lista
(CONTÉM SPOILER DE OS INSTRUMENTOS MORTAIS)
Simon Lewis é um mundano.
Mas não qualquer mundano. É O mundano que salvou o mundo inúmeras vezes, que já foi morto, tornou-se vampiro, portou a Marca de Caim, lutou contra Valentim, foi ao Inferno, lutou contra Sebastian, foi preso por todos os povos dos contos de fadas possível, colocou-se à frente da ira de Raziel e trocou sua imortalidade (e suas memórias) pela vida dos amigos – não necessariamente nessa ordem.
Então quando uma deusa guerreira e um homem esquisito de olhos de gato param na sua frente e lhe revelam a verdade sobre o Mundo das Sombras, é óbvio que Simon saiu correndo, gritando que eram um bando de loucos, certo?
Não, claro que não.
Mas Simon se sente deslocado. Todos a sua volta o amam, mas ele se sente uma fraude. Não é mais aquele Simon é herói. Ele é o Simon. Só o Simon. Ele nem pode imaginar se fazendo tudo aquilo!
Embora as memórias voltem pouco a pouco, nosso protagonista quer desesperadamente se livrar dessa sensação inquietante de que é um fardo para seus amigos. Então ele parte para a recém-aberta – e decrépita – Academia dos Caçadores de Sombras.
Acontece que a Academia é a reprodução dos preconceitos enraizados dos Caçadores de Sombras. Ainda que os Nephilim precisem desesperadamente de novos recrutas, após suas perdas para os Crepusculares, a discriminação contra os mundanos que se voluntariaram a causa ainda é vigente. Ok, menos com Simon, porque ele é um herói.
Não importa que o próprio Simon não se sinta assim. Ele é.
Porém além de herói, Simon é íntegro. Através de suas decisões, nosso protagonista muda pouco a pouco a estrutura social da Academia, derrubando, tijolo por tijolo, uma cultura arraigada e ridícula.
Ao longo da história, conhecemos tantos outros personagens que nos fazem rir, sentir raiva, se apaixonar. Este não é um livro de guerras, de grandes lutas. É um livro gostosinho para você ler durante uma bela tarde de domingo. Você vai se identificar com George, adorar a Izzy, achar a Marisol muito foda e rir muito com Jon. Cassandra aproveita para nos contar muitas histórias do mundo Nephilim, reintroduzindo personagens como Tessa, Jem e Will, Robert Lightwood e sua família, e até Valentim. Conhecemos um pedaço do início do Círculo de Valentim e a história de James Herondale na Academia (incluir suspiros aqui). Li Fantasmas do Mercado das Sombras antes dele, então não foi uma grande nova história para mim, mas aqui é introduzida a narrativa do Herondale Perdido.
Cada conto deste livro traz, impreterivelmente, uma lição não apenas para Simon, mas também para o leitor. Não é uma narrativa corrente, há espaços de tempo entre cada um dos contos, mas não dá para sentir falta. Vemos o crescimento não apenas do protagonista, mas de todos os personagens secundários. Além de ter a revisita de Jace e Clary, e um conto inteiro dedicado a Magnus e Alec, vemos o desenrolar do romance entre Isabelle e Simon – o que achei fofo e engraçado. Simon não é o típico herói – ele é precisamente o cara comum, embananado, que mete os pés pelas mãos ao gostar de uma garota, principalmente uma garota incrivelmente linda e foda.
Não tenho certeza se o final foi necessário, mas foi emocionante. Aliás, muitas partes do livro me arrancaram algumas lágrimas. Não entendi porque Cassandra decidiu que aquele seria o final do dito personagem e achei a decisão de Simon um pouco forçada e que não combinava.
Uma das coisas que mais gosto nos livros e contos em que Cassandra divide a autoria é que a escrita se torna mais leve, assim como os temas. Cassandra tem, caracteristicamente, uma escrita mais densa, mais pesada e conflituosa – e não pontuo isso como algo ruim, é apenas um atributo de seu estilo. Quando ela se propõe a dividir o palco com outros autores, dá para notar as qualidades e vertentes de cada um, o que é muito bom, porque significa, na minha perspectiva, que Cassandra deu-lhes liberdade criativa e não suprimiu o estilo que lhes é próprio. Narrativa fluida, envolvente e de leitura rápida.
A edição que li veio sem erros ortográficos, muito bem diagramado. Uma pena que esse livro seja tão difícil de encontrar e, quando encontrado, seja caro em relação aos outros. A capa seguiu a ideia da primeira edição de TMI, mas acho que poderia ter sido melhor – quem sabe a editora muda, embora minha esperança para isso seja zero.
Enfim, como todos os livros da Cassandra, a leitura é muito bem recomendada.
E eu sigo com uma lista aumentada de personagens favoritos: ao lado de Jem, agora estão James Herondale, Simon, Magnus e Isabelle.