Erika 27/04/2017
Dá para um livro histórico ter sabor de novela sem precisar distorcer os fatos? A nova obra de Paulo Rezzutti, "D. Leopoldina – A História não Contada" mostra, indubitavelmente, que sim!
Desde criança sou fascinada pela primeira Imperatriz brasileira e sempre li muito sobre ela. Confesso que, ao iniciar a leitura da obra acima citada, pensei ser impossível algo novo estar ali contido. Mas me enganei redondamente. A mais recente biografia de D. Leopoldina traz muitas novidades e visões totalmente diferentes do que até hoje já foi publicado.
Destaco os trechos que tratam acerca da vinda da Arquiduquesa da Áustria para o Brasil, em uma longa viagem que passou por terras e mares, tendo durado meses. Paulo Rezzutti esmiuçou os escritos de Ana Von Kühnburg, uma nobre austríaca que acompanhou Leopoldina pelo trajeto e narrou, com riqueza de detalhes, os locais pelos quais passaram, com destaque para o navio, bem como seu estado de espírito e da importante viajante, traçando-nos um panorama muito preciso desse pedaço de História até então pouco conhecido.
E, além da palavra escrita, a viagem ainda é retratada pelos desenhos de Franz Joseph Frühbeck, um auxiliar de bibliotecário que compôs a comitiva da então futura Imperatriz. Trata-se de imagens que mostram passagens do dia a dia, a cozinha do navio, o local onde ficavam os dormitórios na embarcação, os marinheiros em conversa, uma festa típica e a chegada ao Rio de Janeiro. Fascinante!
Todo esse conjunto nos coloca junto de Leopoldina, fazendo-nos viajar com ela. Aliás, mais do que isso. O livro todo consegue inserir o leitor dentro do lugar abordado em cada um dos seus trechos. Assim, frequentamos os palácios e festas de Viena, entramos no dormitório do casal imperial, passeamos pelas florestas e visitamos as igrejas e teatros da então capital brasileira, o Rio de Janeiro.
O perfil psicológico da Imperatriz tratado no livro é muito mais rico e complexo do que já foi mostrado até então. Conhecemos Leopoldina solteira, com todas as ilusões e impetuosidades da juventude, sua vida no seio da família de origem e a bonita amizade com a irmã Maria Luísa. Chegando ao Brasil, é possível sentir toda a difícil adaptação a uma família (os Bragança) que não vivia em plena harmonia, bem como a uma corte muito inferior em modos e cultura à austríaca. D. Pedro I é retratado não como a mitológica figura histórica, mas sim como o homem comum, o esposo ora carinhoso, ora grosseiro, ora infiel, ora devoto.
A transformação de Leopoldina é acompanhada gradualmente e, passando a conhecer bem sua personalidade, é possível compreender a aparente complacência que teve em reação ao tórrido relacionamento de D. Pedro I com a Marquesa de Santos. Nunca nenhum livro me fez compreender tão claramente o porquê de ela ter agido da forma como agiu. Mas esse estudo tão bem elaborado de sua pessoa gerou o entendimento que até então, admito, faltava-me.
Enfim, trata-se de um livro extremamente interessante e bem escrito, baseado em muita pesquisa e que consegue trazer um material rico e detalhado sem cansar o leitor. Combinação perfeita do talento do escritor com uma personagem esplêndida! Recomendo!