Queria Estar Lendo 11/11/2017
Resenha: Sempre Vivemos No Castelo
Sempre Vivemos no Castelo foi o último livro escrito por Shirley Jackson e ganhou uma nova edição, em capa dura, pela editora Suma de Letras que nos cedeu um exemplar para a resenha.
O livro narra a história de Mary Katherine, a Marricat, e sua irmã Constance (Connie), que vivem isoladas no casarão da família Blackwood com seu tio adoentado, Julian. As irmãs vivem longe do vilarejo já tem seis anos, desde que uma tragédia, pelo qual todos culpam Constance, acometeu sua família.
Para Marricat, a narradora da história, tudo anda muito bem, vivendo perto da irmã que tanto ama, tentando todos os dias ser o mais gentil possível com o tio, indo a vila duas vezes por semana -- só o tempo suficiente para fazer as compras no mercadinho e trocar livros na biblioteca. Isso até que um certo primo afastado aparece na porta de casa. Constance não se envergonha dele e não vê problema algum em conversar e até rir com ele. Mas os motivos para o primo estar ali são um pouco mais obscuros do que Constance pode ver. E Marricat precisa proteger a irmã, enquanto ambas protegem seu próprio segredo.
A primeira vez que ouvi falar de Sempre Vivemos no Castelo foi através do livro Juntando os Pedaços, pois é o preferido da protagonista, Libby. E como eu sempre fico curiosa quando mencionam os livros preferidos dos personagens, não tive dúvidas de que gostaria de lê-lo -- por isso, quando surgiu a oportunidade de solicitar através da parceria, não perdi tempo.
Eu não sabia ao certo o que esperar do livro e tudo que sabia de Shirley Jackson, a autora, é que ela tinha influenciado grandes autores, como Neil Gaiman e Stephen King. Fui surpreendida pela narrativa que flui de forma fácil, sendo simples entender e enxergar o que a autora descreve. Apesar de nunca ter terminado um livro do King (sim, gente, eu tentei, não gostei) já vi muitos filmes das adaptações, e o sentimento que eu tinha com Sempre Vivemos no Castelo era muito parecido. Aquele terror que é mais sobre o desenvolvimento dos personagens do que os sustos.
"Marricat, disse Connie, você não quer uma xícara de chá? Ah não, disse Marricat, você vai me envenenar. Marricat, disse Connie, você não quer dormir? Lá no cemitério, com a terra a te engolir?"
Os medos da Constance são completamente compreensíveis, especialmente depois que conhecemos mais a maldade da cidade em relação a elas, uma comunidade pequena e de certas formas cruel com as irmãs. Mas a Marricat é um caso a parte, não consegui decifrar ela completamente. Seus comportamentos bizarros, suas crenças infantis demais para uma garota de dezoito anos que deveria entender mais o mundo (mesmo se tratando de uma garota que viveu isolada desde os 12 anos, nos anos 60) e seus estranhos sentimentos pela irmã -- nunca consegui decifrar se era amor, psicopatia ou alguma doença mental.
Marricat, pra mim, é o grande destaque do livro. As ações dela, as formas como ela busca resolver seus problemas e suas superstições são curiosas e instigantes, é uma personagem que possibilita diversas interpretações, e que muito provavelmente cada leitor enxerga de uma forma. Gostei bastante como a Shirley Jackson desenvolveu as personagens e lidou com a história. Em menos de 200 páginas ela nos dá uma história completa, cheia de nuances e repleta de personagens distintos e interessantes.
Sempre Vivemos no Castelo é um dos meus primeiros livros de terror (teve A Menina Submersa e Minha Doce Audrina antes dele, só) e não foi estranho ler algo de um gênero tão longe da minha zona de conforto.
A diagramação dessa edição está linda e a editora Suma está de parabéns! Em capa dura, com uma ilustração linda e cores que chamam a atenção, a edição ainda tem uma diagramação diferenciada, com a página de abertura de cada capítulo em letras maiores. Eu estou simplesmente apaixonada por ela.
"[...] Vai ver que Charles e dinheiro se achavam independentemente da distância que houvesse entre eles."
É um livro que indico para os veteranos no terror, mas também para os iniciantes. É um ponto interessante, especialmente para quem vem dos romances românticos e quer mudar um pouco de ares, especialmente porque foca tanto em personagens. Embora eu não tenha sentido medo durante a leitura, apesar de ser uma história instigante e que faz com que você queira saber o que vem a seguir -- afinal de contas, você só sabe para onde a história estava se encaminhando quando chega lá -- é o tipo de terror que mais chama a minha atenção. Ninguém precisa de um monstro estranho se os seres humanos cumprem esse papel tão bem, né?
Além do mais, coloco um grande bônus a grande dúvida que o livro deixa: quem é o verdadeiro vilão da história?
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